A produção, eficiência e o Covid

*Por Iara Margolis

Da Primeira Revolução Industrial aos dias atuais a sociedade muito mudou. A ciência e o conhecimento atrelados à eficiência do mundo empresarial se iniciou com Taylor (o pai da administração científica). Ford revolucionou o mundo com o seu sistema de linha de produção massificada (em larga escala), a partir da padronização de produtos e de fluxo produtivo. Na segunda metade do século XX, o Sistema Toyota de Produção (STP) fez sua contraposição à produção empurrada criada por Ford, para a produção puxada. Sua contribuição se baseia na melhoria contínua, na qualidade do produto, na eficiência através da gestão interna, principalmente na eliminação dos desperdícios e no controle dos custos. Na década de 1990 o livro “A Máquina que Mudou o Mundo” evidenciou que a eficiência do modelo Toyota estava relacionada com a produção enxuta, impulsionando assim o sistema Lean.

Voltando para os desperdícios, o STP analisa que a pior das perdas é a superprodução, uma vez que produz estoque (dinheiro parado e possibilidade de obsolescência) e sobrecarrega a produção. O que pode gerar um esforço desnecessário, custos a mais e desgastes humanos e de maquinário por uma demanda que não necessariamente dará retorno.

A industrialização fez do artesão um funcionário assalariado. A produção de excedentes fez a necessidade de buscar novos mercados (a globalização). A massificação deu a oportunidade de consumirmos. A tecnologia possibilitou uma comunicação e uma reconfiguração do tempo e do espaço sem precedentes na história humana. A ciência ganhou evidência. E novamente a produção, em conjunto com um grande contexto, permite a sociedade ser no formato que ela é.

Estávamos em uma sociedade insaciável e desenfreada. Ninguém iria nos parar, se não fosse um tal de Covid. Fomos convocados a ficar em casa, sem aviso, sem pedido. Aquela vida frenética, calorosa, consumista se transformou em uma vida tensa, confinada e incerta.

O que tem em comum Taylor, Ford, STP? Eles quebraram paradigmas. Quem sabe não seja a hora de também quebrarmos alguns paradigmas? Quem sabe não seja a hora de fazer o caminho inverso e utilizar do conhecimento do mundo profissional para melhorar o pessoal? Em um paralelo entre a produção e a sociedade, caímos na maior perda produtiva: a da superprodução. Charlie Chaplin quem o diga. No seu filme “Tempos Modernos” entre tantas críticas, satirizou de forma inteligente a integração do homem com a máquina, mas não conseguiu prever que essa simbiose se estenderia para todo o sistema. O personagem principal sai de uma crise histérica e termina com uma esperança. De mãos dadas o vagabundo e a malandrinha caminham na incerteza do tempo e do próprio caminho, mas rumo a uma luz do “amanhã”. Uma crítica feita após a depressão de NY de 1929, converge em alguns aspectos para a crise em que nos encontramos. Foi para este filme que ele compôs a música Smile. Com um ar positivo e otimista diz: “você descobrirá que a vida ainda vale a pena, se apenas sorrir”. Que a realidade se baseie na ficção. Que este futuro incerto que estamos vivendo nos torne em uma sociedade mais humana. Que possamos ‘dar as mãos’ e atravessar este ‘tempo moderno’. Que antes de buscarmos em nós mesmos o ‘bom profissional’, busquemos o ‘bom ser humano’.

*Iara Margolis, graduação em Engenharia de Produção e professora do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário UniFBV (iara.ribeiro@unifbv.edu.br)

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