*Por Amanda Ribeiro, especial para a Revista Algomais
O feriado de sete de setembro, que marca a data histórica da Independência do Brasil, foi palco de manifestações contra e a favor do governo Bolsonaro em diversos estados do país, como Brasília, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Pará.
Durante a cerimônia do hasteamento da bandeira em homenagem à independência, o discurso de Jair Bolsonaro manteve o tom de oposição ao Supremo Tribunal Federal que se perpetuou durante todo o dia: "Nosso país não pode continuar refém de uma ou duas pessoas, não interessa onde elas estejam”, disse Bolsonaro, acrescentando que não admitiria que o jogassem para “fora das quatro linhas”.
Mais tarde, durante a manifestação da Avenida Paulista, Jair Bolsonaro atacou Alexandre de Moraes, ministro do STF, chamando-o de “canalha” e defendendo que ele fosse “enquadrado”. Opostamente, os cidadãos contrários ao governo bolsonarista também protestaram no Sete de Setembro, ato que repetiram no dia 12, liderados pelo partido Movimento Brasil Livre (MBL).
Algumas reações às falas antidemocráticas de Jair Bolsonaro
O ministro Alexandre de Moraes, aparente alvo das falas de Jair Bolsonaro, é relator nos principais inquéritos ligados ao presidente, como o que investiga as Fake News e o vazamento do documento sigiloso da Polícia Federal sobre ataques ao TSE. Além disso, Alexandre de Moraes determinou busca e apreensão de apoiadores bolsonaristas, como o deputado Otoni de Paula (PSC) e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB).
Os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso fizeram publicações sobre o Sete de Setembro em suas redes sociais. No twitter, Alexandre de Moraes falou que o Sete de Setembro apenas se fortalece com “respeito à Democracia", enquanto Luís Roberto Barroso reforçou que as eleições são auditáveis e as urnas eletrônicas são seguras.
Posteriormente, de acordo com apuração reproduzida pela CNN Brasil, Luiz Fux, atual presidente do Supremo Tribunal Federal, reuniu-se por teleconferência com os demais ministros para falar sobre as manifestações e as falas de Jair Bolsonaro.
Nota escrita por Michel Temer e a decepção bolsonarista
Na tarde da quinta-feira, dia 9, Jair Bolsonaro publicou nota em que recuava em comparação aos seus discursos de Sete de Setembro, dizendo que as suas palavras haviam sido “no calor do momento”.
A nota, que teria sido escrita com o auxílio do Michel Temer, foi feita após almoço de Jair Bolsonaro com o ex-presidente. Durante o encontro, o atual presidente do Brasil teria tido também uma conversa por telefone com Alexandre de Moraes.
Jair Bolsonaro afirmou, na nota oficial, não ter intenção de “agredir quaisquer Poderes”, e que esteve sempre disposto a “manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles”.
Após o aparente recuo, as reações dos apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais foram bastante divididas. O pastor Silas Malafaia publicou em seu twitter que “continua aliado, mas não alienado”, acrescentando que “Bolsonaro pode colocar a nota que quiser, Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que rasgou a constituição”.
Outros apoiadores, como o youtuber Allan dos Santos, publicou em seu twitter termos como “Game Over”, além de destacar que a nota do presidente foi “horrorosa e uma confissão de bravata”, mas que não deseja “ver o presidente fora do poder”. O influenciador bolsonarista Leandro Ruschel chegou a cogitar que, com a nota, Bolsonaro estaria “abrindo mão da candidatura à reeleição”.
NOS GRUPOS DO WHATSAPP BOLSONARISTAS
A decepção dos bolsonaristas com a nota oficial foi perceptível em grupos de Whatsapp que apoiam Jair Bolsonaro. Palavras de lamento se repetiram, e usuários entraram em debate sobre o real significado da ação do presidente: “Agitou o povo e não sustentou”, disse internauta, enquanto outro respondia que a atitude representava “Um banho de água fria no povo que foi pra rua terça [sic]”; apoiadores do presidente mencionaram que “todo mundo tá chamando ele de frouxo [sic]” e que a oposição estaria vibrando.
Houveram palavras de arrependimento, como o usuário não identificado que afirmou: “E a gente que brigou com Deus e o mundo, discute em todo lugar, chamou a família toda pra receber isso, foi uma facada nas costas [sic]”, mas outros mantiveram-se apoiando o presidente, afirmando que “ele com certeza tem cartas nas mangas”.
No mesmo grupo, alguns internautas decepcionados deixaram claro o que esperavam do dia Sete de Setembro: “O presidente tem que fazer alguma coisa ou será um ato de covardia com o povo” e “Tava todo mundo sonhando com o exército entrando e prendendo o supremo todo, e acorda com um pedido de desculpas [sic]”.
Aos comentários decepcionados, muitos pediram calma e união, para não permitir que “o desgaste da luta” os separasse. Outros já haviam avisado que, se após o Sete de Setembro “não acontecesse nada” como “colocar os ministros em seus devidos lugares”, sairiam do grupo.
O Índice de Popularidade Digital do presidente, disponibilizado pela consultoria Quaest, havia atingido 81,8 pontos durante as manifestações, mas baixou para 37,1 pontos após o dia 9 de setembro”.