Queiroz Filho: “A ampla não cabe mais num escritório.” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Queiroz Filho: “A ampla não cabe mais num escritório.”

Rafael Dantas

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Na última sexta-feira, dia 2, o mercado publicitário de Pernambuco foi surpreendido com um anúncio imobiliário colocando a sede da Ampla, no Recife, para alugar. Detalhe: o anúncio foi feito pela própria Ampla. Essa foi a maneira bem-humorada criada pela agência para divulgar a revolução que está passando. Afinal, o moderno prédio de 900 m² situado na Madalena era um sonho conquistado pelo fundador, Seu Queiroz, e uma referência no bairro. Mas a pandemia acabou acelerando um processo da forma como a empresa tem evoluído e atuado nos últimos anos e
que foi chancelado com o sucesso do home office. Hoje, todos os seus funcionários estão trabalhando de suas casas e assim vão permanecer. E eles podem residir em qualquer lugar do mundo, no Recife, em Lisboa ou Moçambique. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o CEO da Ampla, Queiroz Filho, detalha toda essa reviravolta, fala dos planos da agência e de como a pandemia e a internet impactaram o mercado publicitário.

Como surgiu a ideia de implantar o home office permanente na Ampla?

Vou tentar resgatar um pouco o início da Ampla, que nasceu em 1976, fundada por Seu Queiroz, que era arrimo de família, filho de empregada doméstica. Papai era um vendedor nato, trabalhava como balconista da Primavera (Magazine Primavera que vestia as famílias tradicionais do Recife) e foi cooptado por Mário Leão Ramos, que tinha uma agência muito famosa chamada Abaeté e uma gráfica. Ele era cliente da Primavera e ficou impressionado com a capacidade de venda de Seu Queiroz e o convidou para trabalhar na gráfica dele que estava quebrada. Papai revolucionou a gráfica. Depois ele colocou papai na agência. Terminou que Ramos acabou indo pro Rio de Janeiro e colocou papai para gerenciar a Abaeté. Ele disse que ninguém sabia administrar a agência, porque lá só tinha intelectual. Papai cuidou da empresa dele até 1976, época em que saiu da agência para ser representante comercial que era o sonho dele, olha só! (risos). Quando foi avisar aos clientes que sairia da Abaeté, mas continuaria fazendo as
visitas para eles para vender veículos, a Pitú, a Icopervil e o Açúcar Estrela não aceitaram. Disseram que ele iria montar uma agência e eles sairiam da Abaeté para continuar sendo atendidos por papai. Montar a Ampla não foi um sonho para seu Queiroz, foi um acaso que virou um sonho.

De 1976 a 1992, a gente pulou muito de casa, o negócio foi crescendo e uma hora ele disse: “tenho que ter minha casa própria”. Esse sonho foi realizado em 1992 com a sede no bairro da Madalena. E lá estamos até hoje. São 28 anos. Ele tinha muito orgulho de dizer que o prédio não era uma casa como a das outras agências que se adaptaram para escritório. O da Ampla foi projetado para ser uma agência de publicidade. A sede tem cerca de 900 m² de área, o prédio é lindo, é imponente e é um patrimônio da família Queiroz. De um tempo pra cá, a gente vem se questionando se a melhor alternativa para a Ampla é continuar no prédio, mas a amarra sentimental é muito forte. Fizemos em 2017 uma fusão com a Massapê, de Gabriel Freire, Anselmo Albuquerque e Henrique Pereira.

Quando esses meninos chegaram na agência, a intenção era pra mexer com um bando de velhos, como eu. Era pra chutar o pau da barraca. Nessa discussão sadia, a gente chegou a pensar, em 2018, num projeto no Bairro do Recife, no shopping Alfândega, que transformou o último andar num coworking. Aquela coisa moderna, sem paredes, integração de várias empresas de tecnologias que se confunde com o nosso negócio. Mas faltou coragem pra sair, havia o elo emocional da família Queiroz. A coisa não aconteceu, mas a chama não apagou. Todos concordávamos que estava chegando a hora de tomar essa decisão difícil, mas que ia nos fazer mais felizes.

Aí, em 2020, chega a pandemia. O home office veio com uma imposição, mas as empresas do nosso segmento aprenderam e se saíram muito bem. Um dia, conversando com minha irmã e meu sobrinho, decidimos que era a hora perfeita de tomar a decisão de implantarmos o home office e colocar o prédio para alugar. A gente sabia que seria o melhor para a empresa, não o melhor para a família, que é a dona do prédio e ter um cliente que paga aluguel
religiosamente todo mês, como a Ampla é muito bom. Nesses tempos de pandemia teremos uma dificuldade enorme de alugar, mas temos que colocar a empresa na frente de tudo, como seu Queiroz colocou. Tinha gente que não entendia e dizia: você tem uma família linda, é o cara mais família que conheço e bota a empresa em primeiro lugar? Ele dizia: “eu tenho essa família linda por causa do trabalho”. Então seguimos o DNA de seu Queiroz.

E os funcionários gostam da ideia de trabalhar em home office?
Todos fomos trabalhar em casa em 16 de março. Quando chegou no final de junho, fizemos uma pesquisa interna com os colaboradores para saber como estavam aqueles quase 90 dias de home office. A pesquisa mostrou um alto percentual de aceitação, mesmo com as dificuldades. Elencamos, então, essas dificuldades e resolvemos o que podíamos resolver. O mais comum era não ter mesa e cadeira adequadas para trabalhar. Mandamos para as
casas deles as mesas e cadeiras em que trabalhavam na Ampla. A pesquisa também mostrou o aumento do gasto de energia na residência. Criamos, então, um voucher pra todos os colaboradores de R$ 100.

O que os funcionários acharam de positivo no home office?
A convivência familiar, a presença deles em casa. Além disso, hoje, um dos principais ativos é o tempo, e como eles não se deslocam mais para ir ao trabalho, podem gastar esse tempo livre com o que quiserem. Outro formato fundamental é a flexibilidade. Muitos funcionários deixaram de fazer um curso ou de ter uma experiência na Europa porque não queriam perder o emprego na Ampla. Agora eles podem trabalhar de lá. Nos últimos três anos perdemos excelentes colaboradores que foram morar em Portugal e jamais passou pela nossa cabeça que esse cara poderia ser funcionário da Ampla. Agora temos pessoas em Lisboa, em Moçambique, Natal, Vitória, Rio de Janeiro e São Paulo.
Outra coisa que a pandemia está ensinando: a Ampla está instalada num prédio com 900m2 e estamos indo para uma sede que é um quarto desse tamanho. Na Ampla da Madalena, cada funcionário tem a sua baia. Nesse novo espaço – que ainda estamos estudando o local – temos um projeto que está na fase final de desenvolvimento e o briefing que demos para o arquiteto foi o de um espaço de experiência, ninguém terá uma baia. O modelo é: quem quiser trabalhar na Ampla, pode ir, mas sabemos que irão, talvez, 20% dos colaboradores e em dias alternados.

Existe o fato também de que algumas relações físicas são importantes, como treinamento, contatos com clientes, alguma coisa de produção. Hoje a gente lida muito com dados e precisamos ter um quartel general para quando, por
exemplo, montarmos o planejamento anual de uma marca. Então é ideal que todos estejamos reunidos num espaço completamente paramentado para termos o melhor desempenho, um QG ultratecnológico para termos esse desempenho.

É obvio que é um movimento muito drástico em razão da Ampla ser referência, ser líder de mercado, ter 46 anos e
estar há 28 naquela casa. Muito vai se falar e haverá muitas interpretações, mas o que queremos mostrar é que esta é uma decisão empresarial estratégica. E para comunicar isso da forma mais legal possível, resolvemos tirar um sarro da própria situação: vamos sair de uma casa própria da família Queiroz e, como agência, vamos fazer a campanha imobiliária para o aluguel desse imóvel. Essa tiração de onda é superbacana, porque marcamos nosso território dizendo que não cabemos mais no prédio, falando do nosso futuro. Ao mesmo tempo, resgatamos um pouco tudo aquilo que a casa nos proporcionou.

A Ampla não cabe mais num escritório tradicional, ela está explodindo, não tem mais paredes. A ideia de mudarmos para o coworking estava equivocada porque pensávamos que o problema estaria na inteligência arquitetônica do prédio, mas estava na função da estrutura física que queremos para o nosso negócio. Não é a nossa casa que não está mais adequada para o nosso escritório, nosso escritório é que não tem mais função. Queremos que as pessoas estejam espalhadas no mundo trabalhando com o tempo necessário para as coisas da vida. Até porque a nossa atuação também está expandida. Se nosso cliente estiver no Oiapoque, vamos estar com um projeto muito bem amarrado para atendê-lo lá, fazemos isso com a Pitú, com a Moura, até fora do Brasil.

Assine a Revista Algomais e leia a entrevista completa na edição 175.1

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