*Por Amanda Ribeiro, especial para a Algomais
Alunos pernambucanos da Universidade do Porto, em Portugal, viram o valor das suas mensalidades – chamadas no país de “propinas” – aumentar em período de pandemia, sem qualquer aviso prévio. Na Universidade do Porto existem três modalidades para as propinas com valores diferenciados: para os estudantes nacionais e europeus, para os estudantes internacionais e para os estudantes classificados como integrantes da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Em mudança orçamentária ocorrida entre 2019 e 2020, houve aumento para todos os estudantes internacionais, bem como para os estudantes vindos de países abarcados pela CPLP, com alguns aumentos chegando até 87,5% do valor anterior – 1300 euros a mais anualmente.
Uma das estudantes pernambucanas, Júlia Cordeiro, está de volta ao Brasil. Ela estudou na Universidade do Porto desde 2019 e voltou para Pernambuco neste ano, sem concluir o curso, por causa das grandes dificuldades encontradas tanto em termos da procura de emprego quanto do aumento das mensalidades. “O aumento me afetou muito fortemente. Eu já fui a Portugal sabendo que iria ter uma quantia muito certa e limitada de dinheiro pra viver por mês, e sabia que teria que trabalhar, pois a minha mãe não tem condições financeiras de me sustentar integralmente em Portugal. Só que, mesmo trabalhando num emprego part-time, e conciliando com a faculdade, não seria o suficiente para me sustentar integralmente, pois o salário não cobriria alguns custos, sendo um deles o das propinas”.
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Júlia Cordeiro explica que a sua mãe pagaria o valor das propinas, entretanto, com a pandemia, houve também a desvalorização do real e a dificuldade de encontrar emprego. “Em meio à pandemia, o euro aumentou muito para quem depende do real brasileiro. As coisas foram ficando cada vez mais difíceis e, ainda, a universidade anunciou o aumento [das mensalidades] sem nos consultar. Com isso, um valor que seria de 150 euros mensais foi para quase 200 [euros]. E, se antes já seria muito difícil conseguir pagar todas as contas, agora seria quase impossível. Nós, estudantes, tentamos negociar com a universidade o aumento das propinas, mas eles não nos deram ouvidos e mantiveram esse aumento abusivo. Devido à pandemia, ficou também muito difícil conseguir um emprego no Porto, as oportunidades ficaram muito escassas. Assim, depois de meses procurando emprego, conversei com a minha mãe e vimos que eu teria que voltar para Recife, abandonando a universidade em Portugal e o meu sonho de concluir a graduação lá”.
A estudante pernambucana não é a única. Andressa (nome ficticio da entrevistada que preferiu não se identificar) é uma estudante que veio para Portugal com a filha a procura de novas oportunidades no mercado de trabalho. Mestranda em Mecânica Computacional pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, explica que todo o seu planejamento financeiro para a ida a Portugal contou com o valor estável da mensalidade. “Com a reserva financeira que eu vim, na época que eu vim, o euro estava cerca de quatro reais. Dava tranquilo para passar os dois anos, e mais um pouco, quase três anos, tranquilo, sem precisar trabalhar, cem por cento focada na faculdade, tomando como base de que as propinas seriam aquelas, todo o meu planejamento financeiro foi feito baseado nisso [sic]” Andressa representa os diversos estudantes pegos de surpresa pelo aumento de propinas, que não contou com aviso prévio e tornou-se vigente para o ano letivo de 2020/2021.
Maria Cecília Viana, estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade do Porto, conta-nos sobre o movimento denominado UP Não Aumenta, uma tentativa dos estudantes de chamarem a atenção para o caso. A estudante explica que tudo começou pelas redes sociais, mas reuniram-se pessoalmente durante o mês de fevereiro para planejar um abaixo assinado e eventualmente manifestações. Com o advento do coronavírus, pararam com as movimentações que exigiam presença física, entretanto já haviam reunido cerca de 1300 assinaturas. O nome Up Não Aumenta surgiu com o engajamento da movimentação nas redes sociais da Universidade do Porto.
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Nesse período, fizeram também um inquérito online que contou com a participação de 837 estudantes, sendo 95,6% brasileiros. Nos dados presentes no inquérito, 55% dos entrevistados afirmam terem descoberto sobre o aumento através de amigos ou conhecidos e 60,5% afirmam que o aumento das propinas os afeta significativamente.
Atualmente, as movimentações dos estudantes internacionais permanecem ocorrendo, principalmente dos alunos de mestrado da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que aumentou as propinas de 29 dos seus 34 mestrados. No caso da FCUP, os aumentos também abarcam os alunos nacionais, mas em menor grau: 375 euros anuais a mais para os estudantes europeus e até 1312 euros anuais a mais para os estudantes da CPLP.
Em comunicado de imprensa enviado ao JPN, a Universidade do Porto afirma que o aumento das propinas para os mestrados da FCUP foi homologado em dezembro de 2019, antes dos sinais da pandemia, e que decorreu da “necessidade de acompanhar os crescentes custos de realização destes cursos”, que seriam “altamente técnicos”.
*Por Amanda Ribeiro, especial para a Algomais (alexsyane.amanda@gmail.com)