Foi o que tive oportunidade de dizer quando falei, na condição de presidente do Conselho de Administração da Aries – Agência Recife para Inovação e Estratégia, no lançamento do projeto Recentro na Rota do Futuro que será responsável pela formulação do planejamento estratégico de longo prazo para o Centro do Recife.
Disse ainda que achava ser um dia muito importante para a cidade do Recife também. Afinal, nas últimas seis décadas, nossas trajetórias estiveram entrelaçadas. Estudei os antigos ginásio e colegial no Colégio de Aplicação da UFPE que ficava no Centro. Assisti todos os filmes da juventude nos cinemas do Centro (São Luiz, Trianon, Art Palácio, Moderno, Veneza, Parque, Astor e Ritz). Consultei médicos e dentistas, ganhei meus presentes, fiz minhas compras (antes da existência de qualquer shopping center na cidade), tomei minhas primeiras cervejas no Centro do Recife.
Por ironia do destino, fui testemunha ocular cotidiana da plena decadência do Bairro do Recife pois trabalhei lá no início de minha vida profissional e, nos mais de 40 anos de carreira, presenciei também a sua recuperação, ao mesmo tempo em que via desolado a dolorosa decadência dos Bairros de Santo Antônio e São José.
Hoje, todavia, não é despropositado dizer que o Bairro do Recife, depois de quatro décadas em processo de recuperação e de ter tido sua vocação redirecionada, já “passa por média” (com uma hipotética “nota 7”), enquanto Santo Antônio e São José estão no fundo do fundo do poço (com uma nota que, com muita benevolência, não passaria de 2 ou 3), como, aliás, se encontrava o Bairro do Recife 40 anos atrás.
E digo isso com a experiência de ter dedicado metade de minha vida profissional (mais de 20 anos) à tentativa obstinada de recuperação de Santo Antônio e São José na condição de consultor da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL Recife). Nesse tempo, pela CDL, tentamos de tudo até compreender que a coordenação dos esforços teria que vir do setor público, mais especificamente da Prefeitura do Recife, mais precisamente, ainda, do compromisso pessoal do prefeito.
Afortunadamente para a cidade e para o seu centro histórico, o prefeito João Campos comprou a briga e colocou no seu programa de governo a recuperação do Centro do Recife. Então, criou o programa Recentro e o Gabinete do Centro com dois enfoques: um, de curto prazo; e, outro, de médio e longo prazos. Ou seja, estruturou a atenção do Poder Executivo Municipal às ações do dia a dia, sem perder de vista a essencialidade do médio/longo prazos com, pelo menos, um horizonte determinado que é o ano de 2037 quando o Recife será a primeira capital brasileira a completar 500 anos.
Ambos os enfoques carecem de planejamento. Tanto o de curto prazo, de caráter operacional, que gosto de chamar de “farol baixo”, responsável por iluminar o que está logo à frente, quanto o de caráter tático e estratégico, que eu gosto de chamar de “farol alto”, responsável por iluminar o que está mais à frente. Os dois planejamentos são indispensáveis à ação consequente, um para evitar que caiamos nos “buracos” do caminho e, o outro, para evitar que atropelemos a “vaca” que resolveu atravessar a pista lá mais adiante. O planejamento de longo prazo tem também a importância fundamental de definir com clareza o que (o objetivo) se pretende atingir e contornar as dificuldades, bem como aproveitar as oportunidades para isto. Afinal, como já bem sabiam os romanos, “não há vento favorável para quem não sabe para aonde vai”.
Então, com o planejamento operacional estruturado em relação ao Recentro, chegou a hora de estruturar também, o planejamento estratégico em relação ao Centro como um todo. Daí que, além da competente atuação operacional do Gabinete do Centro, a Aries, organização social que coordenou a elaboração do Plano Recife 500 Anos, foi convocada para coordenar também a elaboração do Plano Estratégico (a Rota de Futuro) do Centro que ora se inicia. Para isso, foram mobilizados dois dos mais competentes planejadores do Brasil: Sérgio Buarque (coordenador do Plano Recife 500 Anos) e Washington Fajardo (ex-secretário de planejamento urbano da cidade do Rio de Janeiro).
Quis também o destino que este momento especial para a cidade me encontrasse presidente do Conselho de Administração da Aries e, por isso, a importância do dia do lançamento para minha vida. Afinal, não só pude presenciar a importância do ato como, também, fazer parte dele em condições de prestar uma contribuição direta, ainda que modesta.
Vamos lá, então, desenhar a Rota do Futuro do Centro para com ela poder direcionar as ações capazes de fazer com que o Centro (em especial os Bairros de Santo Antônio e São José) possa, no horizonte do aniversário dos 500 Anos do Recife, ter revertido o seu processo de decadência, com sua vocação redirecionada e a sua recuperação como centro histórico de uma das regiões metropolitanas mais importantes do Brasil em pleno andamento.
Isso é o que o Centro requer, o que a cidade precisa e o que nós, envolvidos no processo, temos a obrigação de fazer. Tudo isso aproveitando o raro "alinhamento astral" de vontades e condições favoráveis, em benefício desta cidade tão especial onde resolvemos viver nossas vidas e temos a obrigação de fazer o que estiver ao nosso alcance para deixá- la, para nossos sucessores, em estado melhor do que o atual. Daí, a vital importância do dia do lançamento da busca do desenho do longo prazo do Centro, para mim e para a cidade. No que depender de nós, essa Rota do Futuro será traçada da melhor forma que for possível.