Embora não seja especialista em trânsito, nos mais de 20 anos de consultoria em estratégia e gestão prestados a empresas de transporte de passageiros e ao sindicato do setor, terminei aprendendo por osmose. Além disso, depois que há mais de 10 anos me tornei caminhante e militante da causa da mobilidade a pé na cidade, passei a estudar o assunto e a cotejá-lo com a realidade. E quando fui convidado para falar regularmente sobre mobilidade na CBN Recife, passei a confrontar esse conhecimento com a situação de outras cidades do Brasil e do mundo.
Depois de tudo isso, a conclusão a que cheguei foi a seguinte: a velocidade é a principal causa de mortes no trânsito, sendo o seu limite e controle a forma mais fácil e rápida de reduzir drasticamente o número de mortos e feridos nas ruas.
Para ilustrar, três exemplos recentes do final de janeiro publicados nos jornais: em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Recife. Em São Paulo: idoso atropelado e morto na faixa de pedestre. Causa primária apontada: o atropelador estaria praticando pega/racha. No Rio de Janeiro: carro sobe o calçadão de Copacabana atropela 18 e mata criança de oito meses. Causa primária apontada: o motorista, epilético, alegou crise ao volante. No Recife: caminhão sobe a calçada na Av. Rosa e Silva e esmigalha um poste de iluminação (eu vi o resultado depois porque na hora, felizmente, estava bem longe do local!). Causa primária apontada: o condutor estaria alcoolizado.
Três causas primárias diferentes e uma secundária comum que provocou as tragédias e os danos materiais: a velocidade acima do permitido e/ou modernamente aceitável. Uma prova pelo absurdo: se nos três casos as velocidades fossem, por exemplo, de 40 km/h os danos seriam infinitamente menores e talvez não tivessem havido mortes. A própria Organização Mundial de Saúde recomenda velocidade urbana máxima de 50 km/h.
Sei muito bem pelas reações que enfrento quando falo no assunto que a causa talvez seja a mais difícil que já defendi publicamente mas não posso me eximir depois que entendi a natureza do problema: é preciso reduzir as velocidades máximas permitidas e praticadas nas cidades brasileiras para reduzir o número de mortos e feridos no trânsito do País (cerca de 50 mil mortos, mais de 12 mil pedestres, uma tragédia monumental!). Infelizmente, enquanto isso não for feito, as tragédias continuarão.