De todas as empresas de games, sejam elas desenvolvedoras de jogos e/ou de aparelhos para jogar (consoles), nenhuma delas é mais conhecida e tem um carisma ‘danado de bom’ junto ao público gamer e não gamer como a Nintendo Company. No início de suas atividades, e bote tempo nisso meu vei, a empresa trabalhava com jogo, mas não do tipo que você deve estar pensando, pois nem o Mario e os aparelhos eletrônicos para jogar existiam na época.
Voltemos ao ano de 1889. O mundo não tinha internet, celular e televisão e, no Japão, os samurais, guerreiros que usavam espada, já estavam em declínio. Também não havia a variedade de atividades de lazer que conhecemos hoje. Para você pode ser o apocalipse, mas isso era a vida, meu pequeno Padawan. Foi naquele ano que um jovem artista, empreendedor e executivo japonês, chamado Fusajiro Yamauchi, comprou um pequeno imóvel, localizado na “entrada dianteira oeste da cidade de Shimogyō-ku, Quioto”, e abriu a Nintendō Koppai, também conhecida como a “Loja de Fusajiro Yamauchi”, no dia 23 de setembro.
A pequena loja vendia um tipo diferente de baralho, a “Hanafuda”, que significa ‘carta de flores’ em japonês. As cartas não continham números, apenas ilustrações de flores, animais e objetos diferentes. Os baralhos com números eram proibidos no Japão desde 1633, pois estavam vinculados aos jogos de azar, mas a “Hanafuda” podia ser comercializada. Fusajiro Yamauchi fazia-as manualmente, pintando cada desenho em cascas de amoreiras.
Esse baralho popular que só a gota serena no Japão continha 48 cartões colecionáveis e podia ser jogado de diferente maneiras, uma delas era o jogo denominado de “koi-koi”, que consistia em dividir os cartões em 12 montes e tinha como objetivo montar uma combinação de flores. Ao encerrar a partida o jogador gritava “koi-koi”. Oxe, pense numa diversão da ‘gota’ para os japoneses! O jogo era indicado para crianças a partir dos oito anos de idade e podia ser jogado entre dois ou seis participantes, com uma duração média de 10 a 180 minutos por partida.
Fusajiro Yamauchi era um ‘cabra danado’, além de pintar sozinho e manualmente cada carta, também tinha um negócio de calcário, tudo realizado na pequena loja/escritório Nintendo Koppai. No início, as vendas estavam crescendo e Yamauchi precisou contratar outros artistas para poder entregar o volume de pedidos. Além da “Hanafuda”, outros cartões eram produzidos, a exemplo dos “Hyakunin Isshu”, dedicado a poesias.
Mas nem tudo são flores na vida desse guerreiro e, por volta de 1902, com o início de problemas financeiros, houve a diminuição na demanda pelas cartas, pois o processo artesanal tornava o produto muito caro. Assim, a empresa passou a produzir versões mais baratas e de menor qualidade, conhecidos como tengu. Também nesse ano começou a fabricar suas primeiras cartas no estilo ocidental com foco em mercados internacionais, que, posteriormente, viraria uma febre ‘danada’ entre os japoneses.
Nesse contexto, Yamauchi tornou-se parceiro comercial de Yoshibei Murai, “Rei do Tabaco da Era Meiji”, pois como o cigarro era vendido em várias partes do Japão e fora do país, as cartas poderiam também alcançar outros mercados. Foi a partir desta estratégia que a Nintendo Koppai tornou-se a maior empresa de cartas de baralho e Hanafuda no Japão, por volta de 1929. Neste mesmo ano, Yamauchi se aposentou, deixando a empresa sob a direção de seu genro, Sekiryo Kaneda. Anos mais tarde, em 1933, a empresa desenvolveu parceria comercial com outras empresas, formando uma joint venture, e alterou a marca para Yamauchi Nintendo & Co.. Em 1947 foi criada uma empresa de distribuição, a Marufuku Co. Ltd.. Por não ter filhos, Kaneda esperou seu neto, Hiroshi Yamauchi, alcançar a maioridade para assumir a direção, no ano de 1950.
Um ano depois de assumir, em 1951, Hiroshi Yamauchi rebatizou a empresa de Nintendo Playing Card Co. Ltd. e começou a produzir os cartões em plástico, tornando-se líder neste segmento no Japão já em 1953. Pensando em expandir a empresa, assinou um contrato com nada menos que Walt Disney, e passou a imprimir os personagens da terra do Mickey Mouse em seus cartões. Pense numa explosão de vendas do ‘pipoco de Zion’.
Mas Hiroshi Yamauchi era um menino novo e queria diversificar a atuação da empresa. A partir da década de 1960 fundou uma rede de TV, criou uma empresa para venda de arroz instantâneo, serviço de táxi e até motéis, o cabra tava ‘virado no mói de coento’ ou tinha ‘endoidado o cabeção’! Entretanto, a alegria durou pouco e tudo deu errado nessas novas empreitadas.
Em 1963, Hiroshi muda novamente o nome da empresa para Nintendo Co., Ltd, e começa a fabricar jogos de tabuleiro e suas famosas cartas. O segmento dos jogos crescia, mas não o suficiente para levantar a moral da companhia que quase foi à falência. Nem as cartas vendiam tanto após as Olimpíadas de Tóquio de 1964.
Em meados de 1970 surgem os primeiros jogos eletrônicos no mundo, os japoneses querem este tipo de produto, mas a Nintendo não faz ideia de como desenvolver. Foi aí que Hiroshi Yamauchi chamou um de seus empregados, o cabra da peste e engenheiro eletrônico Gunpei Yokoi para pensar em algo diferente, inusitado para as vendas de Natal.
No dia seguinte, Yokoi vem com um brinquedo chamado de Ultra Hand, aquela garra para pegar objetos, lembra!!!?? A Nintendo coloca em produção este brinquedo que fez enorme sucesso na época. Nesse período a companhia investe de vez no mercado de brinquedos, desenvolvendo o quebra-cabeça Ten Billion Barrel. Entre 1973 a 1974, começou a usar tecnologia eletrônica, a exemplo do uso de laser na criação da pistola da série Beam Gun, que seria um precursor do Nes Zapper.
Por volta de 1976 a empresa começa a fabricar fliperamas, que não emplacam no mercado americano. Foi esse tombo que colocou a Nintendo no mercado de jogos eletrônicos como conhecemos. Em 1977, a empresa desenvolveu seu primeiro console, o Color TV Game 6, que continha seis variações do jogo Pong. Neste mesmo período e para dar vazão aos gabinetes, Hiroshi Yamauchi pediu para o designer de jogos da companhia, Shigeru Miyamoto, criar algum game a ser colocado nas máquinas eletrônicas.
Rapaz, pense numa ideia de jogo da ‘gota serena’ que Miyamoto apresentou. Era em 2D, continha um gorila doido, um marceneiro chamado de Jumpman e sua namorada, Lady, que fora raptada pelo primata. Em 1981 foi lançado Donkey Kong e você já sabe o resultado disso! Sucesso do pipoco de Zion em todo o mundo. Daí o marceneiro tornou-se o extrapower Mário, que é um dos personagens mais emblemáticos da indústria dos jogos e o mascote mais antigo de uma empresa desse ramo, pois Kratos e Master Chief ralaram muito para se tornarem mascotes de suas desenvolvedoras. Aliás, o Mário fará parte dos Jogos Olímpicos de Tokyo, em 2020, é um danado!!!!
Se fizermos uma comparação entre a Nintendo, a Sony e a Microsoft, a empresa iniciada por Fusajiro Yamauchi, sempre foi pioneira em inovações. Vamos aí com uma listinha básica, repare só.
A partir dos anos 1980 cria o primeiro console portátil, o Game & Watch, que seria o precursor do Game Boy. Em 1995, lança o primeiro console com tecnologia de Realidade Virtual, o Virtual Boy. Sei que foi um fracasso, mas a Nintendo foi quem lançou primeiro esta tecnologia em relação a suas concorrentes.
Em novembro de 2006, a Nintendo dá um sopapo no pé do bucho da Sony e a Microsoft com o lançamento do Nintendo Wii, pois era possível jogar usando o movimento do corpo, simulando suas interações reais numa partida de tênis, dirigindo carro e até fazendo exercícios físicos. Lembre-se que essa nova abordagem de jogo fez muito veio e veia quebrar a TV de Led dos amigos ou dele próprio, pois ao simular o arremesso de uma bola de boliche, terminavam esquecendo de segurar direito os controles, pense num prejuízo, kkk.
Quando menos se esperava, emplaca o Nintendo 3DS, no dia 26 de fevereiro de 2011, o console portátil que usava tecnologia de 3D em tela sem uso de óculos, de realidade aumentada, com personagens e desafios ocorrendo em cima da sua mesa do escritório e giroscópio, este último, permitia jogar em 360º, olhe que eu morri muito testando ele num evento em São Paulo, pois sempre esquecia de virar para os lados, kkk.
Aí, posteriormente vieram o Nintendo Wii U, que pegou a síndrome do Virtual Boy, mas a empresa novamente se reinventou com o lançamento do Nintendo Switch, no dia 3 de março de 2017. O console pode ser usado tanto na frente de uma TV ou enquanto você espera uma aula começar na faculdade e, ainda mais, você pode montar ‘brinquedos’ de papelão para interações intuitivas usando a tela e os controles do Switch, isso é fantástico.
Além disso, as franquias de jogos que a Nintendo possui ou das quais é parceira, como Super Mario Bros., The Legend of Zelda e Pokémon GO, fazem sucesso até se lançá-los em um guardanapo, é incrível, ‘meu vei’! O próprio Pokémon Go inovou, pois levou as crianças para jogarem nas ruas, nas praças, em comunidade no mundo real usando tecnologia de geolocalização e realidade aumentada, isso não foi realizado por nenhum outro game das concorrentes.
O que é bacana da Nintendo é que ela sempre tenta se reinventar, mesmo indo na contramão dos adversários do mercado, pensando em proporcionar um novo modelo de interação, de diversão para as pessoas. Ela nos ensina que, em momentos adversos, do apocalipse, você deve ver o mundo de outra perspectiva, respirar fundo e começar tudo de novo de maneira diferente, pois esse é o espírito de um verdadeiro herói, não é mesmo?!