Antes do golpe, Pernambuco também foi alvo de uma atuação de desinformação política contra a esquerda. O IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), fundado em 1959, recebia contribuições de empresários brasileiros e estrangeiros com o propósito de combater o comunismo no Brasil e influenciar os rumos do debate econômico, político e social do País. A instituição se dedicava a promover ideias e políticas alinhadas aos interesses dos seus financiadores, em um contexto de intensa polarização ideológica.
Manoel Moraes conta que após a eleição de Miguel Arraes, foi criada uma CPI do IBAD, no Congresso Nacional, que não chegou a ser concluída devido ao Golpe Militar de 1964. “A CPI do IBAD investigou as atividades desse instituto que, juntamente com e IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), foram duas iniciativas financiadas pela CIA para disseminar propaganda e fake news contra o comunismo, antes do golpe militar. Eles tentavam convencer a população de que Cuba representava uma ameaça, exibindo comerciais nos cinemas, propagandeando falsidades sobre a vida na ilha. Infelizmente, muitos artistas e jornalistas foram pagos para difundir essas ideias, uma forma de infiltração e manipulação política”, afirma o professor da Unicap.
O docente considera que esses esforços influenciaram a campanha contra Arraes mas, apesar do despejo de recursos durante as eleições de 1962, a Frente Popular terminou vitoriosa naquela eleição. “Isso demonstra a complexidade dos eventos pré-golpe de 1964. Arraes levou mais de 500 documentos ao Congresso Nacional, o que gerou um grande escândalo. A CPI resultante foi o início do que viria a se tornar o golpe militar de 1964. As forças conservadoras fizeram parte do parlamento que deu apoio ao golpe. Isso demonstra que o golpe não foi apenas militar, mas também civil, contando com o respaldo de grandes mídias e conglomerados empresariais que tinham interesses próprios, alimentando o cenário político da época”, conta Moraes.