Estudo da UFPE alerta para impactos da poluição e risco à saúde pública
Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) conduziram um estudo inédito sobre a contaminação por microplásticos do cação-figuinho, uma espécie de tubarão comum na costa brasileira. A pesquisa revelou que toda a cadeia alimentar da costa leste da América do Sul está contaminada, tornando o microplástico uma presença irreversível no ecossistema marinho. “A teia alimentar estuarino-costeira encontra-se totalmente contaminada por microplástico, e essa contaminação mostra-se cíclica, sem como ser retirada”, afirma Roger Rafael Cavalcanti Bandeira de Melo, autor da dissertação e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da UFPE.
A ingestão de microplásticos pelo cação-figuinho ocorre através de suas presas, espécies estuarinas também contaminadas. O estudo aponta a necessidade de cautela no consumo desse tubarão, especialmente em comunidades ribeirinhas, devido à possível presença de substâncias nocivas, como o mercúrio, associadas ao microplástico. Roger também ressalta que a carne contaminada, ao ser ingerida, pode desencadear processos inflamatórios no corpo humano. “Esse microplástico transporta substâncias extremamente nocivas para o organismo”, alerta o pesquisador.
Durante a pesquisa, foram analisados 135 exemplares do cação-figuinho, coletados entre as divisas da Paraíba e de Alagoas ao longo de 13 meses. A equipe observou que a contaminação era mais intensa em períodos de chuva, especialmente em tubarões jovens. Fibras azuis e filmes pretos, resultantes da atividade pesqueira e industrial, foram os microplásticos mais presentes nos espécimes estudados, refletindo o impacto humano direto sobre o ambiente marinho costeiro.
O estudo, que envolveu laboratórios da UFPE e do Instituto de Macromoléculas Eloisa Mano, no Rio de Janeiro, indica a necessidade de mais pesquisas sobre a contaminação de microplásticos em espécies marinhas e os riscos à saúde humana. “A pesquisa ainda está em andamento, e novos estudos focados em contaminação por metais pesados e reprodução desses tubarões já estão planejados”, conclui Roger.