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Por um futuro sem violência

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Lorena Xavier tem um ano e dez meses. Nasceu quando a violência em Pernambuco voltava a crescer, após anos seguidos em que o Estado comemorava a redução de homicídios. Do registro da sua primeira visita ao Marco Zero do Recife, perguntamos: como estará a situação da segurança da cidade quando completar seus 500 anos, em 2037? Nesse esforço de olhar no longo prazo, Lorena estará em idade universitária, trabalhando em seus primeiros empregos e desfrutando (ou não) dos espaços públicos. Que cidade ela irá vivenciar? Ouvimos especialistas, gestores públicos e representantes da sociedade civil para sinalizar as medidas para alcançar um patamar de segurança sustentável para a próxima geração.

Algumas palavras foram ditas por todos os entrevistados: drogas, prevenção à violência, ocupação dos espaços públicos, participação cidadã, cultura de paz. A partir dessa perspectiva, demos alguns passos para trás, antes de olhar para o futuro. Osângela Sena, coordenadora de políticas públicas integradas da Secretaria Executiva de Articulação Social do Governo do Estado, identifica que o erro do Pacto pela Vida foi não ter implementado a prevenção à violência como estava definido no plano.

“Muita gente fala que o Pacto faliu. Do ponto de vista técnico não há uma falha. O problema foi que não conseguimos chegar com prevenção onde poderíamos. A política atua sobre os efeitos, que é importante, pois é preciso estancar os homicídios. Mas é preciso atuar nas causas”, avalia a especialista, que é mestra em políticas públicas e integra o GT de segurança do Observatório do Recife.

O secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti, ilustra bem esse fenômeno. “O menino que no lançamento do Pacto pela Vida tinha 8 anos e faz parte da parcela da população não atendida pelo braço social do Estado é quem está matando e morrendo hoje”. Ele avalia que Pernambuco não está isolado nesse cenário. “O País inteiro tem negligenciado nos últimos 30 anos a segurança urbana”.

Murilo Cavalcanti

O estabelecimento de uma cultura de paz associada à promoção da inclusão socioeconômica estão no discurso do secretário. “A exclusão de acesso aos serviços públicos de qualidade e às oportunidades de emprego dos jovens tem relação direta com o que estamos vivendo no Brasil”, declara Cavalcanti. A geração nem-nem (jovens que nem trabalham e nem estudam) é, na sua avaliação, a parcela da população mais facilmente cooptada pelo mundo do crime. “O que passa na cabeça de um jovem de 18 a 20 anos que é bombardeado diariamente com o tênis ou a roupa de marca, a moto potente e com o celular da última geração e não tem dinheiro para comprar esses bens? Muitos caem no crime para consumir os objetos de desejo”. Dados do IBGE, de 2015, indicam que essa geração nem-nem corresponde a 22,5% da população jovem.

A iniciativa mais emblemática no Recife para promover a cultura de paz é a construção do Compaz. São duas unidades (uma no Alto Santa Terezinha e outra no Cordeiro). Inspirados na experiência colombiana, os espaços visam a promover a cidadania, oferecendo atividades esportivas e culturais e atendimentos diversos de inclusão social.

Segundo Cavalcanti, na experiência do Compaz da Zona Norte, que já completou um ano de funcionamento, foram reduzidos índices de violência contra mulher e idosos, a taxa de CVLI (Crimes Violentos Letais Intencionais), além dos roubos e assaltos. Apesar do bom desempenho, ele considera que sendo uma política de prevenção, os resultados devem ser avaliados no médio e longo prazos. Mais três unidades do Compaz estão previstas, atendendo de 30 a 40 mil pessoas por mês, até o final da atual gestão municipal.

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Pelo Governo do Estado, Osângela afirma que há um esforço em frentes dentro do Pacto pela Vida. As ações incluem plantões de mediação de conflitos, inclusão social dos egressos do sistema previdenciário e um projeto de cultura de paz, que leva palestras de conscientização às escolas. Também estão incluídas ações de prevenção integrada, com a construção de comitês intragovernamentais com a participação da população para definir metas de intervenção estatal no atendimento de direitos básicos de cada bairro.

DROGAS
Existe o consenso da necessidade de enfrentar o tráfico de drogas para atacar as causas da insegurança urbana. “Esse é um mercado que tem que falir”, defende Osângela. Ela lembra que em alguns bairros até 90% das mortes são de jovens em idade escolar e produtiva, associadas ao mercado ilícito de entorpecentes. “O tráfico chega para dar a população o que o Estado não atendeu. Não tem feira, o traficante dá. Quando as necessidades básicas não são supridas, os valores tornam-se mais frágeis”, assinala.

(Por Rafael Dantas)

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