Autoestima é principal motivo para mulheres fazerem alisamento capilar – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Autoestima é principal motivo para mulheres fazerem alisamento capilar

Por Emilayne Santos

Durante muito tempo houve intensa persuasão para que as mulheres se submetessem ao alisamento capilar em prol da padronização estabelecida pela indústria da beleza. Ainda que, em um cenário mais atual, haja um discurso de aceitação e empoderamento do cabelo natural das mulheres, percebe-se a continuidade das práticas que visam alcançar um padrão estético da autoimagem. Estudo realizado por aluna da UFPE aponta o aumento da autoestima como principal fator para a submissão a esse procedimento estético.

Para compreender o fenômeno dessa transformação estética capilar, Bianca Gabriely Ferreira Silva desenvolveu a dissertação de mestrado “Consumo de produtos e estética capilar: sacrifício, autoimagem e rituais de embelezamento”, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Administração. O trabalho, orientado pelo professor Salomão Alencar de Farias, teve foco na investigação do sacrifício associado ao ritual de alisamento estético ligado a padrões hegemônicos de consumo e à modificação da autoimagem da mulher.

O estudo permite concluir que o procedimento de alisamento é ligado ao aumento da autoestima, ainda que a transformação consista num sacrifício em investir tempo e dinheiro, além de pôr em risco a própria saúde. Nem todas as entrevistadas expressarem claramente ser um sacrifício, porém, apresentaram categorias que identificaram sacrifício nessa prática, em especial o de danos à saúde, que foi preponderante em relação aos demais. A repetição era devida a esses esforços implicarem em uma aparência mais bem vista socialmente. “Os indivíduos podem tomar atitudes de consumo com base na forma como se veem e querem ser vistos pelos outros. Podem apresentar condutas apaixonadas se sacrificando pela efetivação de seus desejos de compra. Eles se dispõem a fazer sacrifícios para obter ou alcançar uma finalidade vislumbrada”, afirma a autora da pesquisa.

Com base nas respostas obtidas durante a realização das entrevistas do estudo, percebe-se que, apesar do incentivo do movimento de aceitação do cabelo natural, o alisamento continua sendo uma alternativa de fuga à pressão social, pois o cabelo liso ainda é visto como modelo esteticamente predominante, associado à praticidade e ao cabelo visualmente bem cuidado. Em contraste, Bianca traz o seguinte apontamento: “Traços comuns a pessoas negras como cabelos cacheados ou crespos são vistos a partir de estereótipos negativos – devido a séculos de escravidão e segregação em diversas culturas hegemônicas, essas características são vistas e julgadas de modo negativo pela sociedade. É comum que pessoas busquem seguir padrões percebidos de forma mais aceitável socialmente”.

Um ponto a ser levado em consideração no trabalho é o fato de que a literatura base utilizada, principalmente periódicos internacionais, traziam a visão de que alisamentos capilares eram feitos apenas por mulheres negras, o que não é necessariamente essencial no Brasil: aqui, a partir do fenômeno de miscigenação e mistura de etnias, mulheres que se consideram brancas também possuem cabelos crespos e recorrem a alisamentos. A dissertação buscou verificar se havia diferenças entre as percepções de mulheres autointituladas negras e brancas que fazem o procedimento e algumas diferenças foram elencadas. As mulheres negras afirmam sentir mais necessidade de fazer o procedimento para buscar aceitação própria e de terceiros mesmo afirmando trair sua identidade, enquanto as brancas geralmente associam o alisamento a mais praticidade e a se sentirem mais arrumadas.

De acordo com a análise realizada pela mestra em administração, as mulheres que realizam o ritual de alisamento se sentem melhores e mais satisfeitas diante da aceitação social. “Elas afirmam sentir a diferença entre seus relacionamentos amorosos e demais grupos de referência. O que é explicitado também pelo alcance de outras oportunidades vistas como mais possíveis como conseguir e manter o emprego, o que pode ser visto como o porquê de se sentirem melhor com o cabelo alisado. Alcançar esses padrões faz com que as mulheres se sintam melhores com elas mesmas e mais confiantes”, explica.

METODOLOGIA – A metodologia adotada no trabalho foi a pesquisa qualitativa de história oral, com caráter descritivo, em que a autora aplicou como instrumento de investigação entrevistas individuais semiestruturadas temáticas para compreender a relação dos rituais de consumo e autoimagem a partir do fenômeno do sacrifício. Nesse contexto, a pergunta norteadora para o conhecimento e interpretação do estudo foi: “Como o sacrifício no consumo é significado nos rituais estéticos capilares na busca de uma autoimagem desejada e alcance de padrões existentes?”

Os sujeitos da pesquisa foram mulheres maiores de idade, adeptas do alisamento químico capilar, além de profissionais que aplicam procedimentos químicos de alisamento capilar. No total foram realizadas 22 entrevistas, sendo 18 com mulheres que fazem procedimento de alisamento capilar e sete com profissionais que aplicam esse procedimento – curiosamente, três dessas profissionais fazem aplicação do procedimento nelas mesmas, enquanto outras duas responderam que já fizeram em si mesmas mas pararam de fazer.

(Da Ascom da UFPE)

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