Visitei um cliente, produtor rural, que em pleno Sertão, às margens do São Francisco, dentro da sua fazenda, construiu um oásis de esperança. Uma escola para mais de 200 crianças, com biblioteca, quadra poliesportiva, piscina, playground, laboratório, refeitório e enfermaria. Ao receber o convite, imaginei um puxadinho. Algo construído ali no fundo da propriedade para “fazer a frente”, o “migué”, o “H”. Sabe como é, né? Tem muito projeto que finge caridade para postagens de fotos autopromocionais nas redes sociais, com o objetivo de angariar likes.
Não é o caso. Estou me referindo a algo grandioso, radical, visível, e que verdadeiramente irá mudar, para sempre, a vida de milhares de meninos e meninas pobres, sem perspectivas, no Sertão pernambucano. Tudo feito do próprio bolso, sem qualquer tipo de ajuda governamental. O único pedido ao poder público foi o de asfaltar a esburacada estrada de barro que liga a rodovia à porta dessa fazenda que, com mais de mil hectares de mangas plantadas, abastece prateleiras de supermercados europeus, asiáticos e americanos. Como de se esperar, até agora, petição não atendida!
As empresas existem para dar lucro, eu sei. Acionistas e investidores concordam. Lucro não é pecado. Mas é preciso pensar a empresa como ator social fundamental. Imperioso fortalecer a cultura da empresa cidadã. Não estou a pregar que se transformem em instituições de caridade. Elas, as empresas, não existem para garantir lugar no céu. Contudo, além dos lucros, objetivar a melhoria da comunidade onde estejam inseridas, parece-me coerente com a função social constitucionalmente exigida, além de ser simpático aos olhos de todos, incluindo aí, clientes.
É preciso ter cuidado, no entanto, para que não recaia nos ombros dos empresários o fardo de preencher lacuna secular deixada pela omissão de governos desastrosos que se sucederam, ao longo dos anos. Mas fiquem ligados, amigos empreendedores, porque organizações exponenciais não são apenas as que estiverem dispostas a realizar algo radicalmente novo no âmbito tecnológico, por exemplo. Aquelas que realizarem algo radicalmente novo no âmbito social também colherão doces frutos, como aqueles carinhosamente plantados neste Sertão.
Os ensinamentos do Banco Imobiliário, jogo que divertiu milhões de crianças e adolescentes ao longo dos anos, são aplicados no mundo dos negócios. Tornar-se o mais rico jogador, passando por cima dos outros, é o esporte preferido de muita gente. O objetivo do jogo é, implicitamente, falir o oponente. Isso nos é ensinado, desde cedo, ainda que sutilmente. E por isso algumas empresas, por exemplo, pagam o fornecedor com 120 dias. A quem interessa isso? O jogo não precisa ser sempre jogado do jeito que nos ensinaram.
Vocês não vão acreditar no poder dos olhos esperançosos que meus olhos encontraram. Não dá para descrever a emoção em saber que algumas dessas crianças, aos sábados e domingos, choram porque não é dia de ir à escola que foi construída para eles. Imaginem! Não dá para relatar em palavras o que é presenciar aqueles pequenos sertanejos em êxtase pela chance que o semiárido nordestino não costuma dar. Nada é mais disruptivo do que mudar a realidade do entorno. Tudo isso sob a benção do São Francisco.