Minha avó materna, Marina Riedel Montezuma, dentre muitas máximas das quais só muitos anos depois vim entender a profundidade, por baixo de sua aparente obviedade, dizia o seguinte: “Errar é humano mas insistir no erro é burrice!”. A Vale parece que, depois de dois erros trágicos, resolveu seguir o conselho de minha sábia avó e interrompeu o uso das hoje célebres “barragens de contenção de rejeitos a montante”, do tipo das que destruíram Mariana e Brumadinho. Melhor dizendo, vai parar de colocar rejeitos nelas mas a bomba-relógio que representam vai continuar até que a água evapore e os rejeitos se solidifiquem…
Mal comparando, é algo do tipo que a sociedade brasileira vem exigindo, pelo menos desde 2013, de sua classe política: que ela pare de colocar rejeitos em barragens de contenção a montante. O que a sociedade parece exigir é que as coisas da política sejam feitas direito e às claras, tendo como objetivo-fim os interesses da sociedade e, não apenas, os dos seus representantes políticos, gerando rejeitos difíceis de conter…
No fim de semana seguinte à tragédia de Brumadinho, vimos o fenômeno político se manifestar nas eleições para as mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, assim como já havia se manifestado nos rompimentos de barragens de rejeitos políticos ocorridas em 2013, no impeachment e na última eleição presidencial, ainda que com efeitos diferentes: na Câmara, a recondução de Rodrigo Maia à presidência; no Senado, o afastamento de Renan Calheiros da presidência.
Em todos os eventos, um mesmo meio de mobilização, as redes sociais, com “campanhas” do tipo: #vemprarua, #foradilma, #elesim, #forarenan… E uma coisa me parece óbvia: entramos definitivamente num novo tempo da mobilização política. Aquele em que pesará sempre sobre a cabeça dos governantes de plantão a espada da Av. Paulista com um milhão de pessoas e uma grande faixa verde-amarela com a hashtag pintada em cima: #foraalguém!
Essa é a notícia boa. A ruim é, como disse magistralmente o Conselheiro Nabuco, pai de Joaquim Nabuco, bem antes de minha avó: “Sem os radicais não se faz revolução mas com eles não se governa”. Traduzindo para hoje: as mobilizações pelas redes derrubam ou elegem governos mas não governam. Para isso, só a velha e boa política que não gere resíduos tóxicos a montante.