Entre 1965 e 1976, os escritores Osman Lins e Hermilo Borba realizaram uma intensa troca de cartas. Um no Recife, o outro em São Paulo, escreveram sobre política, família, amigos, teatro, literatura e, sobretudo, sobre o que para eles significava dedicar uma vida à escrita. Quarenta e três anos depois, o jovem diretor pernambucano Luiz Manuel lançou-se ao experimento de construir um espetáculo teatral inédito inspirado nesta correspondência histórica.
A ideia ganhou o nome de “Cartas” e conquistou o prêmio de pesquisa O Aprendiz em Cena, da Prefeitura do Recife, concedido a um diretor iniciante para trabalhar com um elenco experiente. Para o palco, foram convidados os atores Claudio Lira, Fabiana Pirro e Paulo de Pontes. O espetáculo poderá ser visto pela primeira vez nos dias 27 e 28/7, encerrando a Semana Hermilo, seguindo-se de curta temporada no Teatro Hermilo Borba Filho. A produção executiva é de Naruna Freitas e o Teatro Mamulengo, Jailson Marcos e Giselle Cribari são parceiros do projeto.
As cartas de Borba e Lins chegaram a Luiz Manuel após a montagem da performance visual “Geometrias Incongruentes”, que encerrou a Criptofesta Recife e abriu a exposição “Vazão” no Porto Digital, em 2018. No início de 2019, a pesquisa sobre dispositivos audiovisuais revelou ao diretor uma trilha irreversível. “Senti a necessidade de explorar o conceito de cinema ao vivo, em uma nova encenação que discutisse o cenário político nacional. Foi aí que veio o contato com a documentação originada dos onze anos de correspondência”, lembra.
O percurso conduziu ao contato com o livro “Guerra sem Testemunhas”, também de Osman Lins. Neste ensaio, o escritor vive uma profunda guerra com ele mesmo, com as pessoas ao redor, com o mercado editorial e com o sistema político. À guerra, somaram-se as cartas e a linguagem audiovisual. E delineou-se a proposta de levar ao palco não mais uma linguagem dramática, mas sim epistolar. Assim, apostando-se na evolução estética da linguagem teatral, mantém-se o lugar de encontro afetivo e estético do teatro, seu espaço de experiência.
Na encenação dirigida por Luiz Manuel, a guerra sem testemunhas de Lins torna-se maior e mais elástica. Flácida e silenciosa, reivindica o testemunho do público que dela se perceberá o alvo. O processo de pesquisa incluiu o envio de cartas para amigos de todo o País, assinadas pelo Coletivo Caverna. Na dramaturgia coletiva encenada pelos atores convidados, o texto segue aberto e em constante mutação à medida que as respostas dos correspondentes chegam via Correios a Olinda, cidade-base do coletivo.
SOBRE O DIRETOR
Luiz Manuel é artista integrante do Coletivo Caverna. Formado em História pela UFPE, viu seu caminho acadêmico conduzi-lo de encontro ao teatro. Também foi a linguagem teatral que acomodou aprendizagens nascidas em práticas corporais como kung fu, tai chi chuan e shiatsu. A partir de 2010, desenvolveu pesquisas na antropologia teatral com a Cia. Máscaras de Teatro, mergulhou no universo do teatro de bonecos do Mamulengo Só-Riso e participou de espetáculos infantis com o Teatro Kamikaze, em que foi premiado como ator e realizou um intercâmbio em Portugal. A estreia como diretor veio em 2016, com o espetáculo “A Rã”, baseado no conto homônimo de Hermilo Borba Filho. Seguiu-se a direção do show “Margareth Menezes em Mestres do Mundo” e, a partir de 2017, a circulação de “A chegada de Godot”, performance de rua que realizou em diversos estados brasileiros, na cidade do Porto em Portugal e acaba de visitar a Flip Paraty 2019.
SERVIÇO
CARTAS, espetáculo dirigido por Luiz Manuel
Estreia: 27 e 28/7, às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Recife).
Entrada franca (senhas distribuídas uma hora antes)
Informações: (81) 3355-3321
Para saber mais:https://www.facebook.com/ColetivoCavernaOlinda/; @cavernacoletivo
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