O milagre português no combate à pandemia – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
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Rafael Dantas

O milagre português no combate à pandemia

Enquanto a vizinha Espanha é um dos países que mais sofre com a Covid-19, Portugal tem indicadores controlados e um plano de
reabertura. O advogado Gustavo Escobar, que vive entre o Recife e Lisboa, seguiu para sua casa no Velho Mundo assim que soube do
cancelamento dos voos internacionais.  Ainda em isolamento, ele conversou com a Algomais sobre o enfrentamento dos lusitanos à pandemia e acerca do plano de retomada do País.

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Como foi ou tem sido o isolamento social na sua cidade?

Estou em Lisboa desde o dia 16 de março. Estava no Recife, mas quando o prefeito anunciou em 15 de março que iria solicitar o cancelamento dos vôos internacionais, decidi voltar no mesmo dia para ficar com a minha esposa e filhos nesse momento. Quando cheguei aqui, minha família já estava em isolamento. Inicialmente o governo decretou o distanciamento social. As pessoas ainda podiam circular e serviços e comércios funcionavam com restrições e regras de afastamento e de higiene mais rígidas. Logo depois veio a determinação do isolamento e o Estado de Emergência. Portugal tem sido apontado como um caso de sucesso. Há união entre presidente, primeiro ministro e o presidente de Assembléia Nacional, mesmo que o presidente seja de um partido diferente e, supostamente, de oposição ao governo do primeiro-ministro. A disputa política é praticamente inexistente neste momento. Todos estão juntos em prol do combate à pandemia.
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António Costa é o primeiro-Ministro de Portugal. (Valter Campanato/Agência Brasil)

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Aqui os estabelecimentos não essenciais fecharam. Nosso escritório fechou. Os serviços que não podem parar seguem regras sanitárias rígidas. A circulação das pessoas nas ruas é controlada e diversos equipamentos públicos nos parques foram lacrados. Podemos sair para caminhar, passear com o cachorro ou dar uma volta com as crianças, mas tudo isso sob o olhar atento da polícia. Certo dia, ao dar uma volta do parque com minha família, sentamos na grama para levar um pouco de sol, mas o guarda – muito educadamente – solicitou que não ficássemos ali. Entendemos perfeitamente. Agradecemos o aviso e voltamos a caminhar.

Temos trabalhado em home office. Meu filho que estuda na Universidade de Lisboa está tendo aulas online. O mesmo acontecendo com a minha filha menor. Particularmente, olhando de minha posição privilegiada, tento encarar esse momento como uma pausa no ritmo frenético que vinha levando na minha vida, dividido entre Brasil e Europa, com um volume de viagens muito grande. Então – apesar de toda preocupação – tem o lado positivo de estar com a família, descobrindo novas formas de encarar esse desafio juntos. Nossa preocupação com a saúde por aqui existe, mas estamos dentro de uma situação muito controlada, com um sistema de saúde funcionando muito bem, com capacidade para atender a todos, já que o isolamento tem funcionado e o nível de pacientes não saiu do controle.

País é um dos exemplos europeus no combate à pandemia.


Como tem sido discutido o processo de reabertura?

Estamos naquilo que esperamos ser o último ciclo de 15 dias do estado de emergência. A previsão para retomada – com muitas limitações e regras sanitárias – deve ser após o dia 2 de maio. Temos um plano em curso que ainda prevê abertura parcial de alguns negócios, horários divididos em turnos, continuidade do home office e das aulas online (a escola presencial não volta mais nesse período. Só no próximo ano letivo que começa em setembro). Teremos uma abertura gradual e monitorada. Havendo crescimento dos casos após a volta, podemos ter novas restrições.

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Houve apoio e adesão da população às orientações do governo acerca do isolamento? O isolamento começou quando em Portugal?

A população encampou sem polêmica o isolamento. Não há protestos, apenas o reconhecimento que devemos seguir as orientações e fazer o sacrifício necessário para que possamos sair o mais rápido possível dessa situação. Aqui a população entendeu que, quanto mais bem-feito o isolamento, menos tempo ele irá durar e menor será o impacto econômico. E assim está sendo. Portugal tem conseguido achatar a curva da epidemia ao ponto de alguns países apontarem isso como “o milagre português”. Sabemos que não é milagre. Mas sim resultado das medidas executadas precocemente e respeitadas pela população. Hoje colhemos os frutos do isolamento bem-executado. A consciência e espírito cívico da população é algo louvável.

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Qual a sua percepção da forma como o Brasil tem enfrentado à pandemia?

A preocupação com todos que estão no Brasil é crescente. Temos casos na família e já perdemos conhecidos e um cliente para a Covid. Outros estão lutando neste momento. Sabemos da vulnerabilidade do sistema de saúde e dos furos no isolamento por aí. Além disso, a divisão do país e a disputa política é algo surreal neste momento. É tudo ao contrário do que vemos ter dado certo por aqui. Disputas foram colocadas de lado. Enfim, o Brasil realmente nos preocupa e a sensação de impotência de assistir tudo isso de longe incomoda.

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*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com | rafaeldantas.pe@gmail.com)

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