Em reunião realizada na última quinta-feira (30), o Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais e Diplomacia (Iperid) apontou 5 elementos que devem ser considerados para definição da retomada das atividades pós-isolamento social. Thales Castro, vice-presidente do instituto e cônsul de Malta, apontou que os pilares são: a) Sanidade mental e estabilidade psicológica individual e familiar, b) Aspectos socioeconômicos e laborais, c) Segurança epidemiológica e viabilidade sociossanitária, d) Gestão da máquina diante da redução de receita fiscal e, por fim, e) a dimensão políticofederalista.
“Estamos vivendo um momento de reinvenção. A partir da nossa nova ordem mundial, em razão da Covid-19, vamos precisar permanentemente beber na fonte da estatística. Será uma ferramenta de sobrevivência diária. Fazer um risco calculado de benefício e perda. Um cenário socioeconômico de convívio com o vírus. A Covid-19 fará parte como fato social relevante no nosso horizonte, reprogramando nossas relações empresariais, profissionais, laborais e psicológicas. Estaremos prontos para essa reinvenção?”, provocou Thales Castro.
A partir dos estudos da Universidade de Singapura, que estimam as dimensões e estágios da pandemia em vários países do mundo, ciclo do novo coronavírus no Brasil encerraria 97% da sua infestação em 1º de junho.
Thales, no entanto, sugeriu que o comportamento do Covid-19 pode ter outra curva. “Uma nova tese surge: evidências de distribuição não linear (platicúrtica à direita) de Weibull”. O gráfico abaixo (do Europe Centre for Disease Prevention and Control), segundo o pesquisador, pode trazer um cálculo mais real para se discutir o afrouxamento das medidas de isolamento.
A partir da reanálise dos gráficos e de aplicação ao crescimento do Covid-19 em Pernambuco, o Plano Estratégico-Emergencial contra o Coronavírus propõe um plano de reabertura em 6 fases até o dia 1º de agosto. Publicamos abaixo o calendário proposto pelo Iperid de afrouxamento do isolamento social.
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PROPOSTA DE CALENDÁRIO DE AFROUXAMENTO DO ISOLAMENTO SOCIAL PARA PERNAMBUCO
04 a 15 de maio – Inserção no debate público transversal, transdisciplinar e inclusivo as estratégias para afrouxamento das regras de confinamento para Pernambuco. Publicação via decreto das regras vindouras de afrouxamento. Coletiva de imprensa com vários stakeholders.
18 a 23 de maio – Afrouxamento das regras para municípios com menos de 50 mil habitantes sem nenhum caso de Covid-19 no sertão e agreste;
23 a 25 de maio – Afrouxamento das regras para os municípios com mais de 50 mil habitantes e zona da mata (exceto RMR). Afrouxamento para indústria (de transformação e outras…)
25 a 30 de maio – Afrouxamento na RMR para estabelecimentos comerciais e de serviços por área física (metragem), abertura de parques públicos e escolas de ensino médio e fundamental, excetuando-se praias e grandes aglomerações
01 de junho – (97% do fim do ciclo pandêmico – Apud Universidade de Singapura, 2020 e Iperid, 2020) – Afrouxamento das regras na RMR para demais estabelecimentos com regras continuadas e rígidas de higiene (máscaras, álcool gel, etc…). Afrouxamento do uso das praias e eventos culturais para até 50 pessoas. Prorrogação de proibição de shows e grandes aglomerações e eventos públicos até 01 de agosto de 2020.
Fonte: Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia (30 de abril de 2020)
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Durante sua apresentação na reunião, Thales Castro apresentou uma previsão de 978 óbitos, vítimas de Covid-19, em 13 semanas, no Estado. Num cenário mais pessimista, Pernambuco alcançaria 1.222 mortes, enquanto num quadro menos grave, teríamos um total de 734 óbitos.
Convidado especial para a reunião, o coordenador das ações do Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), pesquisador do Lika e professor do Departamento de Estatística e Informática da UFRPE Jones Albuquerque explica que o grande problema do combate à Covid-19 é a imprevisibilidade. Ele apontou que há dificuldade em mapear, por exemplo, os municípios pequenos que não tem casos de coronavírus, visto a dificuldade de testagem e mesmo o alto índice de falso negativo dos testes, que chegam a 70%. “Não temos o sim e o não. Esse é o grande problema de Covid-19.” Durante a reunião, o especialista citou uma série de riscos acerca da reabertura, mesmo em municípios menores.
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O Iperid, que é presidido pelo cônsul da Eslovênia Rainier Michael, segue desenvolvendo estudos aplicados no Estado de Pernambuco para contribuir na elaboração das políticas públicas no Estado e tem se reunido virtualmente a cada 15 dias para discutir o Plano Estratégico-Emergencial contra o Coronavírus a partir das novas informações científicas divulgadas no Brasil e no mundo.
*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)