A campanha de vacinação da Argentina foi a pioneira entre os Países da América do Sul, tendo iniciado ainda em dezembro. Nossos vizinhos hermanos não possuem produção nacional e tem realizado a imunização com vacinas importadas da Rússia, da Sputnik V. Mesmo tendo saltado na frente, por depender da disponibilidade do imunizante do exterior hoje eles ainda têm apenas 0,8% da população protegida pela primeira dose e foram ultrapassados pelos Brasil, que atingiu a marca de 1%. A liderança desse ranking é de Israel, com 57,6%.
O diplomata e ex-cônsul geral da Argentina no Recife, Jaime Beserman, que também é fellow do Iperid, explica que o objetivo do plano em andamento de reduzir a morbi-mortalidade e o impacto socioeconômico causado pela COVID19 pela vacina enfrenta desafios pela alta procura internacional pelo imunizante. “Este Plano Estratégico tem como base a disponibilidade gradativa das doses de vacinas e deverá estabelecer a ordem de prioridade dos grupos populacionais a serem vacinados. Para tanto, considerou-se um marco bioético baseado nos princípios de igualdade e dignidade de direitos, equidade, benefício social e reciprocidade. Hoje, em um mundo marcado por países desenvolvidos que buscam obter o maior número possível de vacinas para abastecer sua população, a República da Argentina e outros países mais humildes da região procuram – por caminhos mais políticos que econômicos – obter as doses necessárias para imunizar seus cidadãos”, explica.
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De acordo com a pernambucana Andréa Guerra, que mora na capital do País vizinho há 7 anos, onde trabalha como sócia na Ondas Buenas Receptivo, nesse primeiro momento o foco permanece sendo os profissionais de saúde. A meta colocada pelo presidente Alberto Fernandez é de que todos os grupos prioritários sejam imunizados até o mês de março. Mesmo com o início ainda lento, ela está otimista “Nos dá uma tranquilidade e segurança em saber que, mesmo que demore alguns meses, há um programa definido para vacinar todos os habitantes”.
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No dia 28 de janeiro, o País recebeu a terceira carga de importações, com 240 mil doses do imunizante russo. Somadas as três remessas, já chegaram à Argentina 820 mil doses das 19,4 milhões contratadas com os russos, com promessa de chegar até o final deste mês de fevereiro. O país tem 44 milhões de habitantes. Uma dura missão diplomática da equipe de Alberto Fernandez no momento é de alcançar a autorização para produzir o imunizante na própria Argentina e assim acelerar a campanha.
De acordo com as informações divulgadas pelo governo argentino, além do contrato da Sputnik V, fechado com a empresa Gamaleya, o País teria também acordos de prestação de serviços fechados com duas outras instituições para fornecimento de imunizantes: a Universidade de Oxford, que é associada à AstraZeneca, e com o Covax da Organização Mundial da Saúde. Ao todo, estariam contratadas 51 milhões de doses. “Recentemente o Ministério da Saúde da República da Argentina divulgou um esquema de vacinação com base nos convênios firmados este ano: 20 milhões de doses da vacina Sputnik V, mais de 22 milhões da AstraZeneca e outros 9 milhões do fundo COVAX”, declarou Beserman.
O diplomata explica que o grande desafio daqui para frente na Argentina não será só conseguir as vacinas. “É preciso ter capacidade de organizar um esquema de distribuição e logística para vacinação em massa da população, valendo-se de toda a capacidade instalada de transporte, refrigeração e profissionais capacitados para realizar dito processo massivo. Para ter sucesso em tudo o que foi referido, é fundamental poder ter um sistema de divulgação e informação credível à população, credível e sem contradições, sem mudanças de orientação dos interlocutores, de forma a gerar a confiança necessária nos cidadãos – nas vacinas e nas informações governamentais – para que todos tenham vontade de se vacinar e conseguir assim uma imunidade de rebanho no menor tempo possivel”, afirma o diplomata Jaime Beserman.
O ex-Cônsul Geral da República Argentina no Recife informa que hoje o Ministério da Saúde do País estimou que a imunidade de rebanho no País será alcançada até o final de 2021, pelo ritmo de vacinação possível no enfrentamento atual da pandemia. Os cálculos do ministério seriam de atingir 30 milhões de pessoas, contemplando a população acima dos 18 anos.
Após uma crise que dura anos e depois de um dos mais longos lockdowns do mundo em 2020, a economia argentina sonha com um respiro mais aliviado em 2021, com a vacinação contra a Covid-19, segundo a pernambucana que vive em Buenos Aires. “A chegada da vacina traz um pouco de otimismo. Muitos setores, como o de turismo, que é uma atividade muito importante aqui, estão parados desde março. Eu tenho uma agência de receptivo de turismo para brasileiros e vínhamos numa curva de crescimento grande até a pandemia. Paramos completamente pelo fechamento das fronteiras. Aqui tem também uma verdadeira indústria do tango que também está parada. Não acredito que vai ser uma recuperação imediata, mas aos poucos acreditamos que a atividade possa ser retomada”, disse Andrea Guerra.
A OCDE estima que o PIB Argentino tenha encolhido 12,9% no ano de 2020, numa soma da crise do País com a longa quarentena.
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*Por Rafael Dantas, jornalista e repórter da Revista Algomais. Ele assina as colunas Gente & Negócios e Pernambuco Antigamente