Luiz Marinho, Sá Nana e o teatro pernambucano (Por: Romildo Moreira) – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Luiz Marinho, Sá Nana e o teatro pernambucano (Por: Romildo Moreira)

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Dentre tantos mistérios que o teatro incorpora e que nós, seus fiéis servidores, vez por outra, apenas descobrimos um deles. E isso, confesso, é um deleite quando acontece. Mas são tantos que, tantas vidas mais tivéssemos, tantos outros mistérios ocultos ficariam. – Talvez, um dia, alguém tenha a nobreza de coletar entre os artistas que já os descobriram, alguns para transcrevê-los em um livro, só para aguçar a curiosidade dos “teatreiros” em captar outros. – Seria um sucesso!

Quanto ao mistério que vou discorrer aqui, não é fato desconhecido de alguns, mas certamente o é para muitos, motivo que me faz debruçar sobre ele. Aviso de antemão que se trata de um mistério emaranhado de três sujeitos, que são: um autor, uma peça e um personagem. O autor é o saudoso Luiz Marinho, a peça é “Um sábado em 30” e o personagem é Sá Nana.

Agora necessito inverter a ordem dos tais sujeitos, porque tem um chamado Sá Nana, que se posiciona sempre na frente, deixando o autor e a própria peça em segundo plano. Ao contrário do que ocorreu com Pirandello, que seis dos seus personagens viviam em busca de um autor, Sá Nana esqueceu a paternidade e tranquilamente caminhou e caminha superior ao seu criador e a peça em que se encontra. Isso é tão verdadeiro que, por diversas vezes, o público esqueceu o nome do espetáculo e recomendou alguém ir assistir “Sá Nana”, no Teatro Valdemar de Oliveira, com o TAP.  Outros confundem o personagem com o autor ao perguntar: como é mesmo o nome daquela peça de Sá Nana? – ora, a peça é de Luiz Marinho.

Outra transgressão de Sá Nana é que ela não se abate por não ser personagem título como foram “Medeia” de Eurípides, ou “Lisístrata” de Aristófanes, porque o público que a conhece, espontaneamente, intitula a obra do Marinho de Sá Nana. Tem mais, esse personagem é tão determinante na carreira de uma atriz, que é capaz de sombrear (nunca eliminar) muitos outros personagens impecavelmente interpretados por ela, como ocorreu com a grande atriz pernambucana Diná de Oliveira, do Teatro de Amadores de Pernambuco.

Já ouvimos por ocasião de leituras da peça “Um sábado em 30”, por atores da nova geração, a seguinte exclamação: “adoraria ter visto a Sá Nana de Diná”. Mais uma vez o personagem em primeiro lugar. Tem ainda a célebre frase “sananiana” que ninguém esquece: “ô mina fia, me diga cá uma coisa; você ainda é moça?”

Parafraseando Caetano Veloso, pergunto: que mistério tem Sá Nana? A resposta todos nós temos na ponta da língua: a genialidade de um dramaturgo que a criou. Marinho fotografou em sua mente, detalhes de uma raiz cultural que lhe acompanhou desde a mais tenra idade na cidade de Timbaúba, onde nasceu e se criou. E suas peças são resgate da memória fotografica que o acompanhou.

Falemos agora em Luiz Marinho, que ao contrário de sua criação Sá Nana, era tímido e por isso mesmo não gostava de falar em público. Mas gostava de ouvir e sempre se emocionava com o que ouvia a respeito de suas peças, quando dita por alguém da plateia após assistir a uma de suas criações. Também era atento às criticas e as considerava fundamentais para o seu exercício de autor teatral. Era desprovido de vaidades, a ponto de não eleger como trunfo absoluto o fato de ter sido o primeiro dramaturgo pernambucano a receber o Prêmio Molière (o mais cobiçado do teatro brasileiro), no Rio de Janeiro, com a montagem assinada por Luiz Mendonça do seu texto “Viva o cordão encarnado”, em 1975.

Marinho, como era carinhosamente chamado pelos colegas do teatro, ficava envaidecido sempre que se falava em Sá Nana. – E o teatro pernambucano, sem dúvida, reconhece na obra de Luiz Marinho uma relevante parcela de qualidade na dramaturgia que produziu, e que certamente verá ainda muitas encenações de seus trabalhos como: “A incelença”; “Corpo corpóreo” e “A afilhada de Nossa Senhora da Conceição”, para citar apenas três outros dos seus conhecidos trabalhos.

Quem sabe ainda teremos o prazer de vermos no Recife uma casa de espetáculos como o nome Teatro Luiz Marinho, contendo duas salas assim chamadas: Sala Sá Nana e Sala Sábado em 30. Ambos merecem.
E vivam que sempre Sá Nana e  Luiz Marinho nos palcos pernambucanos!

DICAS DE ESPETÁCULSO EM CARTAZ NO RECIFE:

Ossos, de Marcelino Freire, com o Coletivo Angú de Teatro
Local: Teatro Barreto Jr. (Pina).
Dias: sexta a domingo, às 20h.Informações: 3355-6399.

Vento forte para água e sabão, espetáculo para crianças de todas as idades, com a Cia. Fiandeiros de Teatro
Local: Teatro Barreto Jr. (Pina).
Dias: sábados e domingos, às 16:30h.
Informações: 3355-6399.

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