Com a pandemia da Covid-19, veio à tona uma nova realidade com fortes impactos emocionais com os quais não estávamos acostumados a lidar no nosso dia a dia: o medo constante da morte e da perda, o imprevisível indesejado, o sentimento de impotência diante de fatos fora do nosso controle. Tudo isso passou a habitar o nosso cotidiano, provocando num grande número de pessoas, de faixas etárias diversas, distúrbios de natureza emocional como ansiedades, crises de pânico, entre tantos outros.
Neste momento em que as organizações traçam seus planos de retomada, o que necessariamente implicará em realizar adequações para enfrentar os desafios do chamado novo normal, é importante dar atenção a essas sequelas emocionais que poderão afetar com maior ou menor intensidade os integrantes de suas equipes.
Um estudo da The School of Life – referência em ensino sobre inteligência emocional – feito em parceria com a Robert Half Talent Solutions – empresa de recrutamento especializado – entrevistou 491 profissionais em atividade de diferentes regiões do Brasil (296 líderes e 195 liderados), entre 15 de julho e 10 de agosto de 2021. Mapeou, entre outros aspectos, os principais impactos da pandemia na saúde mental dos participantes, tendo chegado aos seguintes resultados em relação a cada um dos grupos, considerando opções em múltipla escolha:
- A relação dos impactos na saúde mental dos líderes é a seguinte: ansiedade (63,51%); estresse (47,64%); insônia (27,36%); burnout (distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema) (19,59%); e depressão (9,80%).
- Já entre os liderados aparecem: ansiedade (64,10%); desânimo (51,79%); estresse (46,15%); insônia (16,41%); depressão (10,26%); e burnout (8,72%).
Considerando o total, somente 12,50% dos ocupantes de cargos de liderança e 7,69% dos liderados disseram não terem sido atingidos emocionalmente pela pandemia. O fato da ansiedade estar no topo da lista de efeitos negativos, segundo os analistas do estudo, é muito preocupante por ser a causa da “grande maioria dos nossos bloqueios mentais” e a “grande inimiga dos bons pensamentos”. De fato, a ansiedade, independentemente de sua origem pessoal ou ocupacional, pode afetar o rendimento de um profissional, dificultando sua interação com os colegas de trabalho, provocando a baixa autoestima, a queda da produtividade e outras consequências graves que prejudicam o desenvolvimento da sua função e da sua carreira, produzindo reflexos nos resultados da empresa como um todo.
Essa relação de interdependência associada a outros índices resultantes do estudo, como o fato de que parte dos entrevistados (em torno de 15% nos dois grupos) assumirem que não cuidam pessoalmente de sua saúde mental e emocional, têm sido um aviso para que as empresas adotem iniciativas que atenuem tais problemas e suas consequências.
A elevação dessas ocorrências de natureza emocional, ao lado das novas adaptações necessárias para o trabalho em home office, ou as exigências para a segurança do trabalho presencial, constitui um novo grande desafio para os gestores de equipes que precisam usar de forma competente a sua habilidade de lidar com pessoas e de administrar essas situações atípicas. As medidas facilitadoras podem ser de diversas naturezas, sempre com o objetivo de promover a reintegração, o engajamento, o reforço à comunicação, ficando atento, se necessário, à necessidade de ajuda profissional.
*Fátima Guimarães é sócia da TGI Consultoria em Gestão