Para ouvir o novo EP da recifense Isadora Melo é preciso não só ouvidos bem atentos, mas coração aberto e pulmões carregados. Todo ar, seu mais novo trabalho de estúdio, chega às plataformas de streaming no dia 21 de janeiro, presenteando o público com cinco faixas inéditas de voz, baixo e bandolim. As composições cheias de lirismo, que tomam forma na voz doce e, ao mesmo tempo, potente da artista, contam ainda com as parcerias luxuosas de Juliano Holanda – cantor e compositor já consagrado na música pernambucana contemporânea – e Martins, que despontou como uma das revelações do cenário fonográfico nacional em 2020.
Outros pernambucanos ilustres se juntam a eles para dar vida às canções de Todo ar. Rafael Marques, companheiro de Isadora, e seu virtuoso bandolim marcam presença em todas as faixas da pequena coletânea musical, imprimindo uma sonoridade original com ares, ora de Choro, ora de Trova, mas sem perder as raízes nordestinas, lembradas o tempo inteiro pelo sotaque bem marcado da cantora. O músico ainda contribuiu, juntamente com Marcello Rangel – cantor e compositor de destaque da nova safra de artistas do estado – para o coro da faixa Corpo de uma flor. Walter Areia, ex-Mundo Livre S.A. também participou, diretamente de Lisboa, onde reside desde 2016, com o contrabaixo, que foi mixado à distância num estúdio da Zona Norte do Recife, conferindo ainda mais o tom lírico ao lançamento popular.
As cinco faixas de Todo ar falam sobre observações do cotidiano da artista e contemplação do tempo, tema recorrente em suas reflexões. Parte significativa das músicas surgiram em meio ao isolamento social, provocado pela pandemia de Covid-19 desde março de 2020, período que também foi marcado pelo nascimento de seu filho, Sereno, de 1 ano e 4 meses. “Tudo o que eu queria pensar e o que vinha era sobre tempo, sobre a barriga crescendo, sobre as crises que estamos enfrentando. (Disso) Saíram Sábio senhor; Azeite, limão e sal (da contemplação da relação que temos aqui em casa e comidas) e Como o sol da manhã (feita pra Sereno, ele pequenininho e eu pensando em como explicar as coisas do mundo, olhando na estante dele o livro Mania de explicação, de Adriana Falcão)”, explica Isadora. “Acho que o tempo é a mensagem. Sempre falo de tempo, evoco o tempo de escuta, o tempo do silêncio. No meu primeiro disco (Vestuário, 2016), o tempo também era um elemento importante para mim, pausa e respiro. Mas nesse EP, eu deixo a melancolia, que eu sinto que trazia em Vestuário, e deixo o tempo com a contemplação mesmo”, completa a artista.
Já Corpo de uma flor começou a ser feita há quase quatro anos, numa parceria entre Isadora e Martins. “Mandei, em 2018, uns textos para Martins e ele musicou uma parte. Aquela música ficou esquecida pela metade. Quando nos fechamos na quarentena, em março de 2020, eu resolvi ser mais ativa nas leituras e criações. A primeira música que nasceu nesse período foi essa. Reabri o arquivo, escrevi o refrão e os outros dois versos e nasceu Corpo de uma flor”, lembra Isadora sobre o processo criativo. “E vira água e vira leite, queimando dentro até o céu, ai, ai. E vira dança e vira crença e vira ofício de todo dia”, diz o refrão escrito por ela.
Todo ar, canção que dá título ao EP, foi a composição derradeira entre as cinco faixas, numa parceria entre Isadora, Martins e Juliano Holanda. “Vivendo desta maneira, a vida sai soprando toda a poeira que o tempo atrai. E todo o ar que eu respirar eleve a ave que há em mim, dor às vezes vira flor no meu jardim”, canta a artista no refrão da música, que fala sobre o processo de alguém encontrando o seu lugar no mundo, o auto acolhimento quando se aprende a gostar de quem se é. “Todo ar foi a última que compus, em parceria com Martins e Juliano Holanda. Eu fiquei por muito tempo com a melodia criada, sem conseguir botar a letra, e mandei pra Martins, que fez, com a maestria de sempre, a parte A. Chamamos Juliano pra terminar a canção”, detalha.
Junto com o EP, será lançado o clipe da faixa Todo ar, no dia 21 de janeiro. O vídeo foi dirigido por Luara Olívia, fotógrafa e filmmaker recifense, que vem conquistando cada vez mais espaço na cena audiovisual pernambucana, através de clipes musicais de artistas do estado, como Sofia Freire, Barro, Flaira Ferro, Samico e Larissa Lisboa. Com Isadora, o conceito para ilustrar a canção foi colocá-la numa posição de contrates entre prazer e dor. Gravado numa casa “fora do lugar”, o videoclipe mostra a cantora destruindo numa mesa de café da manhã, posta sob a luz do sol.
“Ela (Luara Olívia) me via muito solar nas minhas músicas, nas minhas gravações. E eu já enxergava o contrário: via-me numa caixa preta. E aí a gente entrou num consenso de destruir o prazer, que é encontrar esse caminho de ser você, porque tem muitas dores, mas também muita delícia. Então a gente entrou no conceito de destruir a mesa de café da manhã, que é a minha refeição preferida. Partimos desse ponto de colocar essa mesa num lugar solar, como ela me via, mas de ser sobre desfazer essa mesa, não de desfrutar”, explica Isadora sobre a ideia que, junto com a diretora, quis transmitir pelo videoclipe.
O pré-save, tanto do EP, quanto do clipe, já está disponível em todas as plataformas digitais.