Na apresentação anual de lançamento da Agenda TGI, que tive a satisfação de fazer pela 23ª vez na segunda-feira 29.11.21, citei o sociólogo Darcy Ribeiro para fazer uma espécie de contraponto com a crise de desesperança e baixa autoestima que vivemos no Brasil nos dias de hoje. Diz Darcy na introdução do seu livro Aos Trancos e Barrancos – Como o Brasil Deu no que Deu:
No dia em que todo brasileiro comer todo dia, quando toda criança tiver um primeiro grau completo, quando cada homem e mulher encontrar um emprego estável em que possa progredir, se edificará aqui a civilização mais bela desse mundo. É tão fácil; estendo os braços no tempo, sinto na ponta dos dedos essa utopiazinha nossa se realizando.
Pelo que ele chama de “utopiazinha” vemos como não é tão difícil assim criar as condições mínimas para termos um país decente. Dito assim, deste modo tão desconcertantemente simples, a pergunta imediatava que nos assalta é: por que então não conseguimos? Bem, aí necessário se faz lançar mão da vasta bibliografia que temos de história, sociologia, ciência política… para tentar entender. Confesso que já fui por aí e ainda não consegui.
Inclusive por isso, é que me socorro de Darcy, um otimista incorrigível, um “enlouquecido de esperança” pelo Brasil, para tentar uma espécie de “prova pelo absurdo”, que é a luz que a utopia traz. Fugir do emaranhado de impossibilidades do presente para, lançando mão da utopia, do sonho possível, dizer: não percamos a esperança porque o que precisamos, queremos, almejamos, não é impossível como o horizonte turvado do presente pode fazer crer.
Aproveitei e citei também a frase do ex-governador Eduardo Campos dita no Jornal Nacional na noite anterior ao seu trágico desaparecimento: “Não vamos desistir do Brasil!”. E para terminar, fui buscar a frase de Victor Hugo: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”.
E é justamente isso que desejo àqueles que não perderam de todo a esperança, não obstante os desmantelos e os descaminhos que trilhamos e, infelizmente, provavelmente continuaremos trilhando em 2022, que não será um ano fácil: que possamos, tão logo quanto possível, retomar o caminho apontado pela “utopiazinha” de Darcy e transformar em “carne e osso” esse sonho realizável. Bom 2022!