Novos horizontes para o setor elétrico – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Novos horizontes para o setor elétrico

Rafael Dantas

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Os problemas na gestão do setor elétrico ficaram expostos quando a conta de luz atingiu o bolso do consumidor. De acordo com números do IBGE, o custo da energia foi o grande vilão da inflação no ano. Até junho, a elevação foi de 58,47% em 12 meses. Uma conjuntura, segundo especialistas, fruto de um planejamento equivocado do setor energético por parte do governo, e agravado pela escassez de chuvas dos últimos anos. Se o retrato de 2015 é caótico, o horizonte traz alternativas para todas as fontes energéticas. A dúvida dos analistas é se as decisões políticas vão caminhar para a direção correta.

O uso da energia térmica a partir do óleo diesel, feito de forma complementar às fontes hidreléticas desde 2012, sujou a matriz energética brasileira e foi o pivô do aumento das tarifas, na opinião do engenheiro Luiz Otávio Koblitz. “O Brasil foi muito falho nos últimos 10 anos em relação ao planejamento. Foram compradas muitas usinas a diesel, que ao entrarem em funcionamento, aumentaram substancialmente os custos. Como não se previu que no dia que se precisasse delas, elas custariam até seis vezes o preço normal? O diesel é uma fonte emergencial, para funcionar 2% ou 1% do ano. É rápido para instalar e o motor diesel é barato, mas na hora que funciona você pega uma forca e se enforca. Confundiram um projeto complementar com um emergencial”, critica.

O lamento dos analistas se dá principalmente pelo fato de o País dispor de grande potencial na geração solar, eólica, além da biomassa e das florestas energéticas. Há espaço também para novos investimentos em hidroelétricas. Para mudar esse quadro, o Governo Federal encontrou um caminho que também não é consenso entre os especialistas, devido aos custos dessa operação: o investir em usinas a gás natural. A alternativa imediata para colocar essas usinas para funcionar seria através da importação do gás, transportado para o Brasil através da tecnologia de liquefação (transformação do gás natural em líquido).
Em Pernambuco, será instalada uma usina a gás em Suape, o UTE Novo Tempo, fruto de um investimento de R$ 3 bilhões da empresa Bolognesi. A termelétrica terá capacidade de produção de 1,2 mil MW de energia prevista em contrato para 2019. A maior usina do País com essa matriz será instalada em Aracaju, pela empresa pernambucana EBrasil. A Usina Porto de Sergipe I terá investimento de R$ 3,3 bilhões e capacidade de produção de 1,5 mil MW, com previsão de inauguração em 2020.

Para o ex-presidente da Chesf e ex-secretário de recursos hídricos de Pernambuco, João Bosco, a tecnologia usada nas usinas a gás já é competitiva. No entanto, ele aposta em uma maior diversificação na matriz energética brasileira, com o uso de fontes renováveis. “Daqui para frente vai se continuar buscando as hidroelétricas, mas cientes de que o tempo para sua implantação ficou maior, devido às licenças ambientais. A energia eólica, que hoje representa 5% da nossa matriz energética, pode chegar a 15% até 2020. A energia solar ocupará um espaço significativo também nesse cenário futuro, tendo como grande vantagem a velocidade da sua instalação”, aponta.
Apesar de representar 65% da matriz energética brasileira, as hidroelétricas ainda têm terreno para crescer na opinião dos especialistas. Por ser a alternativa que gera a energia mais barata no sistema, essa fonte não deixou de ser prioridade do Governo Federal, no entanto, a aprovação e instalação de novos parques hidroelétricos demoraram mais do que previram os responsáveis pelo planejamento do setor. O investimento em pequenas centrais hidroelétricas (PCHs), apesar de não possuírem a mesma competitividade das grandes usinas, também devem ganhar novos investimentos nos próximos anos.
A geração de energia eólica tem se expandido com vigor no Nordeste, com intensidade maior no Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. Em meio à crise hídrica da região, essa fonte praticamente empatou com as hidrelétricas no Nordeste, segundo o último relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Entre 2013 e 2014, a capacidade de geração eólica cresceu em 122,2%.

Mais duas alternativas relacionadas à biomassa compõem esse cenário de geração de energia. Para Luiz Otávio Koblitz, o investimento em florestas energéticas (plantadas para gerar energia através da queima da madeira, com o objetivo de evitar a pressão do desmatamento sobre as florestas naturais) seria uma saída competitiva para reestruturar o sistema elétrico brasileiro. “Se quisermos apenas complementar a geração de energia hidroelétrica e nos resolvermos até 2040, precisaríamos plantar apenas 1,5% das terras agricultáveis do País. Isso daria aproximadamente 30% da nossa matriz energética. Esse seria o grande plano para transformar a geração a partir de biomassa de uma fonte complementar para uma alternativa estruturante”, sugere.
Atualmente, a geração a partir de biomassa se dá em grande quantidade a partir do bagaço da cana-de-açúcar, resíduos de madeira ou mesmo de materiais como casca de arroz, de castanha de caju e até de dendê. Independente de aproveitá-los ou não, esse potencial de energia existe e nem sempre é utilizado. Koblitz menciona, por exemplo, que se usa apenas 25% do potencial de geração a partir do bagado da cana-de-açúcar. A plantação de florestas com a finalidade de gerar energia, no entanto, demanda de uma decisão do planejamento do setor elétrico brasileiro.
“Hoje existem florestas energéticas na Bahia e Minas Gerais, criadas no passado para produção de ferro gusa. A topografia é um problema menor para essas florestas, que poderiam ser plantadas, por exemplo, na Zona da Mata, onde a cultura da cana está perdendo a força, mas poderia ir também para o Agreste e até alguns locais do Sertão, valorizando terras que hoje não têm absolutamente nada”, avalia Koblitz.
Além das florestas energéticas, uma alternativa não explorada no País, mas sugerida por João Bosco é o uso de usinas de resíduos sólidos com queima de lixo. “Essa geração tem um potencial não tão residual. Seria uma alternativa complementar e que resolveria o problema do descarte de lixo, que hoje fica nos lixões ou aterros. Só o Recife, poderia colocar uma planta de 30 megawatts. Não é um potencial desprezível”, sugere. “Os Estados Unidos queimam atualmente 20% do lixo produzido no País para a geração de energia. E só não fazem mais porque a energia de lá é muito barata, não dá para encaixar mais lixo no sistema”, compara.

(Rafael Dantas)

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