“Todo mundo quer entrar no Chanteclair e agora isso vai ser possível” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

“Todo mundo quer entrar no Chanteclair e agora isso vai ser possível”

Gabriela Coutinho, organizadora da CASACOR-PE, conta como será a edição da mostra, que este ano será realizada no mítico edifício do Bairro do Recife e terá espaços de entrada gratuita para o público. Ela também detalha as obras de requalificação feitas no imóvel.

Muitos boêmios que frequentavam o Recife Antigo, décadas atrás, têm na memória as alegres noitadas vividas no edifício Chanteclair, que já abrigou boates, um famoso bordel e o bar Gambrinus, que tinha clientes famosos, como o jornalista, cronista e compositor Antônio Maria. Mas há relatos de que o imponente imóvel, localizado às margens do Rio Capibaribe – ocupando todo um quarteirão da Av. Marquês de Olinda, Rua da Madre de Deus, Vigário Tenório e Cais da Alfândega – também chegou a ser usado como armazém de açúcar no térreo e como moradia nos andares superiores. O certo é que com o tempo e o esvaziamento do Bairro do Recife, o Chanteclair sofreu um processo de deterioração.

Tombado pelo Iphan em 1998, e fechado para reforma anos depois, o prédio pertence a Santa Casa de Misericórdia, mas é cedido a Realesis Empreendimentos, gestora do Complexo Paço Alfândega. Sua fachada foi recuperada em 2012, mas seu interior continuava em estado precário, e nunca mais foi aberto. Desde então, o edifício permaneceu no imaginário do recifense que sonha com sua reabertura. Esse desejo se tornará realidade, ao menos de forma transitória, graças à decisão das organizadoras da CASACOR Pernambuco, Carla Cavalcanti, Gabriela e Isabela Coutinho, de realizar a edição deste ano da mostra no icônico edifício.

Para contar como será esta CASACOR, a arquiteta Gabriela Coutinho conversou com Cláudia Santos, dentro do Chanteclair, em meio às obras que estão sendo feitas para acolher o evento. Entre as novidades, estão a praça modelo a ser instalada na lateral externa do prédio, na Rua Vigário Tenório, e uma área no térreo com restaurante, bar e galeria de arte popular que terão acesso gratuito ao público.

Como surgiu a ideia de fazer a CASACOR no edifício Chanteclair?

Na verdade, esse já era um sonho antigo. Eu, Isabela (Coutinho, que também é organizadora do evento) e meu pai fomos fazer um passeio pela cidade – como geralmente fazemos quando estamos procurando um imóvel para a CASACOR – e aí passamos aqui na frente do prédio e começamos a discutir: poxa, a gente quis o Chanteclair, será que agora que a pandemia arrefeceu, a gente não poderia retomar esse plano?

Foi quando ligamos para Ana Paula (Vilaça, chefe do Recentro – Gabinete do Centro do Recife). Ela nos deu todo o apoio, fez a ponte com o proprietário e começamos as negociações. O Recentro está com uma série de ações para requalificar o Bairro do Recife e eles estão nos ajudando em tudo o que podem, porque entendem a importância do edifício e de requalificar um imóvel que está fechado há tanto tempo.

Desde o começo do ano estamos nesse processo, vendo o que poderia fazer de entrega, gerando masterplan (planejamento do projeto do evento) contatando patrocinador. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) também nos deu todo o suporte e apoio, em tudo o que precisamos em termos de autorização. Eles têm sido superparceiros por entender a importância de reabrir um imóvel de relevância histórica para a cidade.

O que se sabe sobre o prédio?

Estamos pesquisando sobre o assunto, porque tem muita coisa que não está documentada no papel e estamos pesquisando histórias antigas, com a ajuda do Iphan e da nossa equipe, como os jornalistas envolvidos que estão ajudando a levantar informações do tipo: há quanto tempo o imóvel está fechado, as ocupações que já ocorreram etc. Então, estamos fazendo um levantamento bem legal, tanto para podermos divulgar, como para ter isso no nosso anuário e contar a história do Chanteclair. Muita gente tem muitos “achismos” e até memórias, mas para sabermos ao certo, temos que fazer uma série de apurações para entender o que de fato aconteceu aqui dentro, para poder documentar e divulgar isso para todo o público.

O Chanteclair tem quase 100 anos e o que se sabe é que havia um bordel. Minha equipe foi conversar com Paulo Brusky (artista plástico), que era frequentador do imóvel e trouxe várias histórias. Ele já fez exposição de arte aqui, dentro do bordel, na época da ditadura e foi preso. São várias histórias que queremos resgatar. Havia também o Gambrinus, que era um restaurante. Era um prédio utilizado de modo múltiplo. O que está muito no imaginário do pernambucano é o bordel, porque o porto estava próximo, havia os marinheiros, toda essa história desse Recife que está no passado, mas que nem é tão velho, porque na década de 1970 ainda funcionava.

Como será a CASACOR no Chanteclair?

A CASACOR vai acontecer no térreo e mezanino do imóvel. A parte externa terá uma praça modelo de uso público, num trecho da Rua Vigário Tenório, (que fica numa das laterais do Chanteclair). Nesse trecho, não vai poder circular automóveis, terá acessibilidade, vegetação e todos os itens ideais da boa gentileza urbana. A praça modelo vai ser projetada pela Haut, que está assinando esse projeto. O acesso à praça será gratuito, não vai ser preciso ter ingresso para entrar nela.

Essa praça será transitória ou permanente?

Ela está numa passagem de carro e temos uma autorização temporária. Mas acreditamos que se for uma coisa muito positiva e que a prefeitura tenha interesse que fique, acho que tem tudo para dar certo. Acho que vai ficar bem legal, vai dar esse apoio para a rua Madre de Deus, que tem muito movimento. Vai ser bom pra todo mundo, vai tirar essa aridez de hoje que só tem carro.

O acesso ao prédio será a porta central localizada na Vigário Tenório. No andar térreo, em frente à praça, ficarão os espaços operacionais, onde também não será preciso pagar ingresso. Nele estarão o Bistrô Recentro, que será comandado por Manu Tenório e funcionará durante toda a mostra. Nesta área operacional, também haverá um restaurante, um bar, onde ficava o Gambrinus, a Galeria de Arte Popular, organizada pelo Sebrae com a Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco), e a loja de óculos Gus Eyewear.

*Leia a entrevista completa na edição 197.4: assine.algomais.com

Deixe seu comentário

+ Recentes

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon