*Por Rafael Toscano
Nos dias atuais, a tecnologia e a inteligência artificial (IA) têm se entrelaçado de maneira notável, redefinindo a maneira como vivemos e nos relacionamos. Uma história recente ilustra esse impacto de forma surpreendente: uma jovem utilizou IA para investigar uma possível traição em seu relacionamento, revelando não apenas uma mudança no panorama das relações pessoais, mas também ressaltando a influência crescente da IA em nossas vidas cotidianas.
No centro dessa narrativa intrigante está a influenciadora digital Mia Dio, que suspeitava da infidelidade de seu parceiro. Em vez de recorrer aos métodos tradicionais de investigação, ela se voltou para a tecnologia e a IA para obter respostas.
No artigo publicado no portal de notícias “UOL Tilt”, datado de 9 de agosto de 2023, detalhes sobre o enredo se desdobram. Mia decidiu “clonar” a voz de seu namorado por IA, que aliás, custou só U$ 4 dólares, e mandou uma mensagem para um amigo dele insinuando um ato de traição. A isca foi certeira, o amigo confirmou a traição e o namorado foi pego! Se, antigamente, dependeríamos de nossa intuição, de conversas difíceis ou de contratar detetives particulares, hoje temos ao nosso dispor ferramentas poderosas que podem processar vastas quantidades de dados em questão de segundos, inclusive com a capacidade de aprender e reproduzir com precisão as complexas características da voz humana.
Contudo, essa história também levanta importantes questionamentos éticos. Até que ponto é justificável invadir a privacidade de outra pessoa, mesmo que em busca da verdade? A linha entre o uso responsável da tecnologia e a violação dos direitos individuais é tênue, e a narrativa reflete o dilema crescente enfrentado por uma sociedade cada vez mais conectada digitalmente. Além disso, a história destaca como a IA está moldando a maneira como entendemos e interpretamos informações. Algoritmos de análise de sentimento podem identificar emoções em textos e mensagens, e isso tem implicações não apenas em investigações pessoais, mas também no mundo dos negócios e da política, por exemplo. Imagine uma IA analisando discursos de líderes políticos para avaliar o clima emocional do público ou avaliando a satisfação do cliente com base em avaliações online. A IA não apenas coleta dados, mas também os interpreta de maneiras que antes eram inimagináveis.
Em última análise, a história acima nos leva a uma reflexão profunda sobre o papel da IA em nossas vidas e sociedade. Enquanto celebramos os avanços tecnológicos que tornam nossas vidas mais convenientes e eficientes, não podemos deixar de considerar os dilemas éticos e as mudanças nas dinâmicas interpessoais que essas tecnologias promovem. A IA está, sem dúvida, transformando nossas vidas de maneiras surpreendentes, mas é nossa responsabilidade avaliar constantemente como essas mudanças impactam nossa humanidade e os valores que consideramos essenciais para um futuro equilibrado e ético.
Num mundo onde as ferramentas tecnológicas podem antecipar e mitigar conflitos, mas também podem contribuir para a erosão da confiança mútua. À medida que nos voltamos cada vez mais para algoritmos para obter respostas emocionais, corremos o risco de perder a conexão humana genuína que é essencial para os relacionamentos saudáveis.
*Rafael Toscano é gestor financeiro, Engenheiro da Computação e Especialista em Direito Tributário, Gestão de Negócios. Gestor de Projetos Certificado, é Mestre em Engenharia da Computação e Doutorando em Engenharia com foco em Inteligência Artificial aplicada.