O presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), Eduardo Tiburtius, avalia a conjuntura atual do setor turístico em Pernambuco, faz projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024 mas afirma que a divulgação e a infraestrutura dos destinos precisam melhorar.
Eduardo Tiburtius, presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), nesta entrevista a Rafael Dantas, faz um balanço do setor turístico de Pernambuco em 2023, enfatizando a retomada após a pandemia e a atuação proativa do trade estadual para manter o mercado local aquecido. Tiburtius explora os desafios e as conquistas do turismo em Porto de Galinhas, evidenciando o impacto positivo de iniciativas inovadoras, como a BioFábrica de Corais, projeto que desenvolve atividades de educação ambiental e que usa ferramentas biotecnológicas para favorecer a restauração dos recifes, por meio do cultivo de corais.
Tiburtius aborda ainda a importância do crescimento conjunto de destinos vizinhos, destacando a necessidade de diversificação e promoção para atrair turistas nacionais e internacionais. As perspectivas para o futuro são otimistas. Em meio a projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024, o presidente da AHPG expressa confiança na capacidade de Porto de Galinhas se reinventar, prevendo um ano positivo no horizonte turístico.
Qual o balanço que o senhor faz do setor turístico de Pernambuco neste ano? O Estado se recuperou plenamente da pandemia?
O mercado de Porto de Galinhas teve sua retomada expressiva já no segundo semestre de 2021 e se repetiu também em 2022. Já em 2023 tivemos um ano de estabilidade em relação a 2022. Hoje temos uma operação doméstica que supera os anos pré-pandemia, mas ainda falta o restabelecimento da malha internacional para que possamos afirmar que temos uma recuperação completa.
Pernambuco parece ter voltado à moda, ao desejo do turista nacional. Durante o Visit Pernambuco – Travel Show (evento que promove o turismo no Estado com rodadas de negócios, palestras e espaços de exposição nacionais e internacionais), o secretário Daniel Coelho afirmou que temos o dobro de movimentação dos aeroportos de Fortaleza e Salvador. O que houve para o Estado entrar nessa crescente?
Eu considero uma junção de fatores. Creio que o trade do Estado teve uma atuação muito proativa e com uma forte capacidade de se reinventar de 2020 para cá. Exemplificando: em 2020, em plena pandemia, tivemos um número recorde de capacitações online oferecidas aos agentes de viagens naquele momento, explicando além dos temas tradicionais das atividades turísticas, as questões de segurança nas hospedagens necessárias naquele período.
Também conseguimos em 2020, com toda segurança necessária, realizar o Visit Pernambuco trazendo para Porto de Galinhas os operadores que, até então, eram especializados em vendas de mercados internacionais e que naquele momento não teriam como vender os produtos internacionais pois as fronteiras estavam fechadas.
Em 2021, no segundo semestre, fomos o primeiro mercado a voltar com capacitações presenciais em mais de 20 cidades nos grandes mercados emissores como o programa Encontro com Porto de Galinhas. É importante salientar que todas essas ações tiveram a participação massiva tanto do trade local mas, também, o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Ipojuca.
Devemos ressaltar também as campanhas do Recife com o projeto Recife é para Ficar e de participações de empreendimentos de Fernando de Noronha nas ações de Porto de Galinhas. E por último, mas também muito importante, a Azul Linhas Aéreas, que foi a empresa que, com muita agilidade, adaptou sua malha aérea com o fortalecimento do seu hub e foi essencial para o aumento no número de passageiros.
Quais os principais resultados do Visit Pernambuco – Travel Show deste ano?
Consideramos o Visit Pernambuco um evento essencial para o calendário do turismo do Estado. Nele, conseguimos trazer agentes de viagem, representantes de operadoras e a imprensa para apresentar in loco todas as nossas potencialidades quer sejam de atrativos como passeios, estabelecimentos comerciais, pousadas, restaurantes, atrações na vila de Porto de Galinhas como também podemos mostrar as atualizações dos hotéis em Porto de Galinhas que têm a característica de estar em constantes remodelações. Outro ponto importante é que o evento permite que empreendimentos que não têm a disponibilidade de participar de feiras fora do Estado possam ter o contato direto com os principais operadores de turismo do Brasil nas rodadas de negócios realizadas durante o Visit.
Projetamos, a partir da pesquisa com os participantes, que a edição do Visit deste ano promoveu uma movimentação de R$ 112 milhões em negócios gerados no setor até 2024.
As perspectivas são boas para o Réveillon e para as férias de janeiro?
Sim, as perspectivas do setor de turismo de Porto de Galinhas para o Réveillon e para janeiro são excelentes. Já estamos com uma ocupação acima de 90% no Réveillon e um pouco acima de 82% no mês de janeiro.
Vocês ganharam novas operações ou inauguraram novidades neste ano?
Tivemos os lançamentos recentes de novos empreendimentos hoteleiros e este ano tivemos a grande satisfação de ter como novo associado o Samoa Beach Resort que veio muito agregar à Associação de Hotéis de Porto de Galinhas. Aliás, foi apresentado durante o Visit Pernambuco o novo empreendimento do grupo Samoa que será inaugurado em 2025.
Outro atrativo importantíssimo é a BioFábrica de Corais que tem uma importância vital para o replantio dos corais da Vila de Porto de Galinhas, o principal atrativo turístico do nosso destino.
Porto de Galinhas é a grande âncora do Litoral Sul, que é um dos maiores atrativos de Pernambuco. Mas outros destinos vizinhos estão em crescimento, como Sirinhaém. Esse movimento fortalece a região? Há demanda para todos?
Sem dúvida nenhuma. Precisamos que o Estado todo aumente sua gama de destinos turísticos para cada vez mais atrair para o nosso Pernambuco o fluxo de passageiros do Brasil e do mundo. Apenas exemplificando a importância disso, posso lembrar das operações charters internacionais que tivemos até o ano de 2008 em que muitas vezes outros Estados foram escolhidos pelos emissores europeus (como Rio Grande do Norte e Bahia) porque as operadoras precisavam ter a oferta da maior quantidade possível de destinos entrando pelo mesmo aeroporto.
Na Bahia, por Salvador, o operador podia vender Salvador, Morro de São Paulo, Sauípe, Comandatuba, Praia do Forte etc. Pelo Rio Grande do Norte poderiam ser vendidos Natal e Pipa. Por isso, quanto mais destinos pudermos vender entrando pelo aeroporto do Recife mais oportunidades serão geradas para todo o trade de Pernambuco.
O turista estrangeiro voltou após o susto da pandemia? Quais os principais emissores de turistas para cá?
Como disse anteriormente, esta é a última peça que ainda falta para voltarmos ao nível da pré-pandemia. Em 2019, por exemplo, tínhamos oito voos diretos por semana da Argentina para o Recife na alta temporada com origem em Buenos Aires, Córdoba e Rosário. Hoje, temos apenas um voo com a segunda operação da Gol iniciando agora em janeiro de 2024. Ainda precisamos crescer neste sentido.
Para Porto de Galinhas os principais destinos internacionais emissores são os sul-americanos tais como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Na Europa, Portugal é o principal emissor.
No ano passado a Abav Expo Internacional foi em Pernambuco. Isso contribuiu para essa atração de turistas nacionais e estrangeiros?
Tal como ocorre no Visit, no evento da Abav temos a possibilidade de receber os principais vendedores do turismo brasileiro e internacional. É uma grande oportunidade para mostrarmos ao mercado as evoluções dos equipamentos turísticos e como estamos preparados para ser a escolha dos seus passageiros nas suas próximas viagens, quer seja de lazer ou de negócios.
O turismo de feiras e de negócios segue sendo forte? Como está o momento desse segmento?
O segmento ainda é de extrema importância para a sazonalidade da baixa temporada em Porto de Galinhas. A AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas) conta com cinco hotéis que possuem espaços de eventos para ações que vão de convenções, eventos corporativos, congressos técnicos/científicos, além de eventos sociais.
Em 2024, o Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau vai reforçar o trabalho de mice (a sigla significa meetings, incentive, conferences and exhibitions, traduzindo em encontros, turismo de incentivo, conferências e exibições) e já tem três congressos nacionais e um internacional programados. O Porto de Galinhas CVB se associou à Alagev (Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas).
Quais os principais desafios que persistem para o setor e para o destino Porto de Galinhas?
Eu dividiria em dois desafios: divulgação e infraestrutura. Na questão da divulgação, temos destinos concorrentes com o orçamento mais robusto que o nosso hoje em dia, usado para atrair os turistas com um grande destaque para Maceió como município e Alagoas como Estado.
Aqui vale ressaltar que são destinos que têm um PIB menor que de nosso Estado mas que vislumbraram, e eu concordo plenamente com isso, que um destino no Nordeste do Brasil tem como obrigação ter o turismo como um setor estratégico de desenvolvimento e geração de empregos. Se tem uma indústria que não há dúvidas que o Nordeste brasileiro tem uma vantagem competitiva gigante em relação a outras regiões do Brasil, este segmento é o turismo.
Sobre infraestrutura, é essencial que o poder público acompanhe a velocidade das evoluções que a iniciativa privada tem alcançado e realize a melhoria nas estradas, a ampliação de infraestrutura em saneamento, a saúde para atendimento principalmente dos moradores que habitam locais turísticos que, muitas vezes, não estão nas capitais. Também é preciso oferecer educação para formação de profissionais que o turismo vai absorver e que é essencial para a perpetuidade e o crescimento do turismo de Porto de Galinhas.
Após um ano promissor, quais as perspectivas para o setor e para Porto de Galinhas em 2024?
Como eu havia afirmado, 2023 foi um ano de consolidação de todo um trabalho muito bem-feito, sobretudo de 2020 para cá. Acreditamos que 2024 será um ano parecido com 2023 porque ainda enfrentaremos alguns desafios em relação ao restabelecimento da malha aérea e o valor das tarifas ainda acima do ideal. Mas como Porto de Galinhas tem a capacidade de se reinventar e sempre buscar oportunidades, tenho certeza que em dezembro de 2024 estaremos celebrando novamente um ano positivo.