Sendo o mês de junho, aqui no nordeste brasileiro, período de culto a três Santos venerados por praticamente toda a população, Santo Antônio, São João e São Pedro, o curioso é que muito mais que rezas os “santinhos” recebem homenagens pagãs em festas danadas de boas. Nestas festas, a Cultura Popular explode nos arraias espalhados por toda região, com suas características e crendices, ao som de coco, xaxado e baião.
Em Pernambuco, além dos inúmeros artistas que dedicam as suas carreiras ao forró, existem grupos bem marcantes em seus respectivos estilos, que, além de manter uma tradição dos costumes populares nos festejos da época, criam novos adeptos e despertam interesses nas novas gerações. E isso é bom demais, considerando, em especial, dois aspectos fundamentais que são: a atualização da cultura popular e a preservação do nosso valioso acervo de bens imateriais. – A melhor forma das manifestações tradicionais escaparem da síndrome de “coisa do passado”, é integrar-se aos anseios da juventude e deixar que ela resolva o presente, mantendo a atemporalidade necessária à sobrevivência da tradição.
Quem não se emociona, dança, canta e “se joga” numa apresentação do Coco Raízes de Arcoverde? – Vimos no São João do ano passado, no Arraial da Praça do Arsenal da Marinha, no Recife, esse grupo incendiar a multidão ao som de suas tamancadas, deixando os turistas atônitos diante do fenômeno que contagiou toda a praça.
A Banda de Pífanos e os bacamarteiros de Caruaru são outras riquezas da cultura popular que ganham destaques nesta época do ano, levando às ruas da “capital do forró” uma demonstração da variedade cultural que nos caracteriza a cada ciclo festivo que comemoramos. O som dos pífanos marcados por zabumbas e caixas de guerra, que transpiram procissões religiosas ao mesmo tempo em que remete às marchas das cavalarias medievais, arrepia qualquer pessoa que da banda se aproxime. Já os explosivos sons dos bacamartes, que não são tão agradáveis aos ouvidos de muitos, têm a sua beleza compensada nas coreografias executadas por cada bacamarteiro, incluindo as crianças que são um show a parte nessas exibições. Vale conferir.
Podemos agora versar sobre o maior fenômeno junino constituído pela tríade “cultura popular, tradição e modernidade”, chamada quadrilha junina. Essa manifestação fenomenal, que enche de prazer os olhos de uma plateia (plateia porque o povo pára pra ver), é o melhor exemplo que temos para provar que tradição pode ser tão contemporânea quanto qualquer novidade que surja hoje. A etimologia comprova o caráter permanentemente mutante de uma quadrilha, desde suas origens em palácios europeus, até a sua chegada ao Brasil conduzida pela Corte Portuguesa, transferida depois para a área rural e retornando aos centros urbanos como destaque absoluto nas comemorações aos santos Antônio, João e Pedro. A cada ano, as quadrilhas se renovam e os quadrilheiros se reinventam de forma absoluta, criando com isso expectativas e desejos extremos em boa parte da população, em vê-las. – Isso sem falar no aspecto social e na movimentação econômica que esses grupos artísticos alavancam. – E como grupos artísticos, as coreografias, os figurinos, as maquiagens, as trilhas sonoras e a teatralidade que envolve os personagens, estão ganhando dimensões inimagináveis aos olhos de quem acha que cultura popular não combina com o brilho das estrelas. O brilho maior entre todas as estrelas que figuram no São João do Nordeste, hoje, vem das quadrilhas, acendendo fogueiras em muitos corações.
DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ:
- “Ossos”, com o Coletivo Angu de Teatro
Local: Teatro Apolo
Dias: sextas às 20h; sábados às 18 e 21h, domingos às 19h.
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 33553319 / 33553320.
- “O Tempo Perguntou ao Tempo”; Espetáculo de dança para criança / Grupo Acaso
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC de Stº Amaro)
Dias: Sábados às 16h e domingos às 11 e 16h.
Preços: R$ 10,00 e R$ 5,00 – Informações: 32161728
- “LUIZ E EU? Ô viagem danada de boa”; Espetáculo de teatro para criança / Cia. Maravilha
Local: Teatro Joaquim Cardozo
Dia: Domingo 19/06 às 16h.
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 21267388
*Romildo Moreira é ator, autor e diretor de teatro