Que a era das plataformas desmonetizou os veículos de comunicação e abriu caminho para muitos problemas relacionados à informação não é novidade. No entanto, a mesma onda que derrubou muitas corporações de mídia, fez emergir novas organizações e também empresas de geração de conteúdos desvinculadas de grupos políticos e de conglomerados empresariais.
No cenário nacional, cases como o The Intercept Brasil, o Nexo e a Agência Pública já têm notoriedade com grandes coberturas. Mas, no Nordeste e em Pernambuco há experiências relevantes de geração de conteúdo jornalístico, como a agência Marco Zero (no Recife), a Agência Tatu (em Alagoas) e o Eco Nordeste (em Fortaleza). A maioria dessas organizações se reúnem na Ajor (Associação de Jornalismo Digital), criada em 2021.
Carolina Monteiro, que é presidente do conselho executivo e deliberativo da Ajor, professora da Unicap e uma das fundadoras da Marco Zero Conteúdo, destaca a pluralidade de vozes e de segmentos que esse jornalismo independente tem ecoado. “A mídia independente traz uma representatividade, ao permitir que grupos e pessoas que são invisibilizadas e historicamente não tiveram tanto espaço nas mídias tradicionais, possam não só ser fontes, como criar os seus próprios veículos e produzir o seu conteúdo. Mas há também o jornalístico investigativo, que é caro, importante e precisa ser praticado por jornalistas experientes. Esse jornalismo, que vejo sendo muito pouco praticado pela mídia tradicional, está sendo feito majoritariamente no Brasil pela mídia independente”.
Essas novas mídias estão, dessa forma, ocupando um vácuo deixado pelos veículos mais tradicionais. Um exemplo disso é o avanço dos veículos independentes sobre os desertos de notícias, que são os lugares do País onde já não existe produção de conteúdo jornalístico.
Ao mesmo tempo em que a era da plataformização contribuiu para acabar com muitos jornais e rádios no interior, ao captar as verbas de publicidade que iriam para essas empresas, as novas possibilidades de produção e circulação de conteúdos digitais abriram espaço para o nascimento dessas organizações mesmo nas “áreas desérticas”. Sem a necessidade de impressão ou grandes gastos com transmissão, são abertos mesmo nos rincões do País, alguns desses canais, com poucos recursos de operação e com novas propostas de informação.
Integram o campo da mídia independente desde organizações com fins lucrativos, a exemplo de startups, como instituições sem fins lucrativos, como cooperativas e ONGs. Além de ocuparem o debate nas grandes metrópoles, Carolina ressalta que muitas dessas novas mídias nasceram das periferias e de grupos historicamente sub-representados pela imprensa tradicional.
“São organizações que têm vários meios e formas de distribuição, como newsletters, que têm um papel de curadoria muito importante. Há também as agências de fact checking, que surgem em razão das fake news. Há organizações de nicho e de conteúdos muito específicos, como jornalismo que trata só sobre infância ou só como a gente se relaciona com a alimentação. Quando olhamos só as 140 associadas da Ajor, encontramos uma diversidade enorme de formatos, de territórios e de organizações”, explica Carolina Monteiro.
Embora já estejam construindo sua audiência de notícias, com produções de interesse público, um dos desafios dessas mídias é se tornarem mais conhecidas. Outro desafio considerável é formulação de estratégias para a sustentabilidade financeira dessas organizações. A pesquisadora afirma que os caminhos que estão sendo costurados são para a garantia de políticas públicas para fomento dessa produção de conteúdo, a exemplo do que acontece com a cultura. O que está no radar de desejo, porém, é o sustento por parte dos leitores, mas sem restringir o acesso à informação aos que não têm condições financeiras de pagar uma assinatura.
É possível conferir a lista de todos os associados da Ajor no site: https://ajor.org.br