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A formação do Brasil evangélico

O pesquisador e reverendo José Roberto de Souza, professor do Seminário Presbiteriano do Norte, explica de forma didática os passos do surgimento dos protestantes no Brasil

*Por Rafael Dantas

O historiador e doutor em Ciência das Religiões, José Roberto de Souza (na foto acima), destaca que a chegada do protestantismo e o surgimento dos evangélicos, tal qual conhecemos hoje, pode ser classificado em um conjunto de etapas. Os primeiros passos foram no Brasil Colônia, mas há mudanças definidoras para o crescimento evangélico da segunda metade do Século 20.

“Há três momentos do protestantismo ainda no período da Colônia, que é o protestantismo de invasão, que acontece entre 1557 e 1558, com a chegada dos franceses na Baía da Guanabara, e depois com os holandeses, no início da primeira metade do Século 17, em 1630, presente aqui no Nordeste. São de invasão porque supostamente aqui pertencia a Portugal”.

Após a chegada da família real e da assinatura de alguns acordos com a Inglaterra, aconteceu o segundo momento: o protestantismo de imigração. “Esses protestantes vão ter alguns direitos de professar a fé, mas também limites. Por exemplo, foi prometido que eles não teriam inquisição aqui, mesmo sendo um país predominantemente católico. Eles também vão poder realizar o seu culto, com limites”, conta o historiador. Eles não podem construir templos, não podem pregar para que alguém se converta, nem fazer uso de alguns objetos que simbolicamente pertencem a igreja católica, como sino e a cruz.

Só em meados do Século 19 é que chegam os primeiros missionários com o objetivo mais claramente de expandir o evangelho entre os brasileiros. Esse terceiro momento é classificado como o protestantismo de missão, ainda exclusivo das igrejas do chamado protestantismo histórico (presbiterianas, batistas, congregacionais, entre outras). Nesses períodos, o catolicismo era a religião oficial do País, que só se torna laico com o advento da República (1889), mas especificamente com a primeira Constituição (1891).

“Esses protestantes não foram expulsos porque eles não vieram só com a Bíblia. Assim, eles não teriam sido aceitos. Eles vêm, acima de tudo, para oferecer o seu ofício. Havia missionários médicos, aqui em Pernambuco, por exemplo, chegou um doutor. Esse trabalho protestante vai ser aceito porque vai abrir escolas e hospitais, isso tudo gratuitamente. Então, para a Coroa era interessante ter a presença desses grupos”, explica José Roberto.

No início do Século 20 vai nascer no País, com a Congregação Cristã do Brasil e com a Assembleia de Deus, o pentecostalismo, que é majoritário atualmente. Na década de 1950 há uma segunda onda do pentecostalismo, mas ainda com o surgimento de poucas denominações, como a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja O Brasil para Cristo e a Igreja Pentecostal Deus é Amor.

Na década de 1970, porém, é o berço do chamado neopentecostalismo, quando surgem uma maior diversidade de grupos religiosos. “Enquanto a primeira onda do pentecostalismo era marcada pela ênfase à glossolalia (que é a prática de falar em ‘línguas estranhas’), a segunda onda foi caracterizada pela ênfase nos milagres de cura divina. Já o neopentecostalismo é marcado pelo exorcismo e pela teologia da prosperidade”, explica o historiador.

Embora algumas denominações históricas sejam numerosas, como os batistas e presbiterianos, são os pentecostais e neopentecostais que puxaram o crescimento do Brasil evangélico nos últimos anos, com o uso mais incisivo dos meios de comunicação e com a presença dominante nas representações políticas.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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