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OBSERVATÓRIO DO FUTURO

OBSERVATÓRIO DO FUTURO

Bruno Queiroz Ferreira

A humanidade não pode abrir mão da evolução da inteligência artificial

A inteligência artificial será o assunto da semana, do mês, do ano e das próximas décadas. Em casa, na escola, na faculdade, no trabalho e no bar a discussão acerca de suas aplicações e limites éticos apenas começou. Mas por que precisamos falar tanto sobre esse tema? A IA é boa ou ruim? A humanidade precisa mesmo dessa tecnologia? Antes de tudo, é preciso entender por que esse debate é importante para o presente e para o futuro.

O primeiro aspecto é que, quando comparamos a inteligência artificial com outras tecnologias que se tornaram populares (eletricidade, computador, internet, smartphones), nunca antes na história uma delas teve o potencial de ser tão intensa, rápida e transformadora. Isso porque as aplicações de IA promovem, ao mesmo tempo, aumento de produtividade, de qualidade e de escala, em uma comparação desproporcional com outras tecnologias.

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O segundo aspecto é a falta de barreiras naturais para disseminação da inteligência artificial, como outras tecnologias enfrentaram no passado. A expansão da eletricidade e da internet, por exemplo, aos diversos lugares do mundo, durou muitas décadas até serem consideradas de uso geral. A IA, em contraponto, pode estar nos celulares, nas casas, nas fábricas, no comércio, nos hospitais, nas geladeiras, nas lâmpadas, nos carros e em outras máquinas em um tempo muito menor.

Em outras palavras, o impacto da inteligência artificial é amplo. Não apenas pela sua capacidade de transformação profunda, como também pela sua velocidade de expansão, pois a base para que ela se reproduza já está disponível. É um "arrasa quarteirão" em que chega e se instala. Uma grande ameaça aos empregos e ao estilo de vida atual da nossa sociedade, que se enraizou na lógica de que o trabalho é o que dignifica o ser humano, como afirmou Max Weber.

Indo mais além nesse impacto, a inteligência artificial é capaz até de “hackear” a linguagem humana, como alerta Yuval Harari, historiador e filósofo israelense. Para ele, esse é o principal aspecto que nos diferenciou das outras espécies e nos permitiu evoluir ao longo da existência. Essa ameaça, na minha visão, é a maior delas e merece uma discussão à parte.

Mas, como tudo na vida, a inteligência artificial também é dual. Tem dois lados e serve ao propósito para o qual a designamos. Seja para o bem ou para o mal. Assim como aconteceu com a energia atômica que matou pessoas, quando usada pelos militares em Nagasaki e Hiroshima, e salvou vidas, quando utilizada pela medicina em exames de raio-x, tratamento do câncer e tantas outras aplicações.

Olhando pela perspectiva do bem, o benefício da inteligência artificial para a humanidade pode ser maior do que imaginamos, inclusive, quando houver o alinhamento à computação quântica.

Essa tecnologia é cerca de 100 milhões de vezes mais rápida do que um computador comum. Nessa direção, não é difícil perceber o grande salto que a humanidade tem o potencial de dar quando cálculos complexos, que levariam 10 mil anos para serem resolvidos, puderem ser processados em segundos.

Então, o principal ponto no debate ético sobre a inteligência artificial não está na tecnologia em si, nem se ela pode assumir consciência, nem em quantos empregos serão eliminados. Até porque, usando o exemplo da energia atômica, ela foi mais benéfica do que maléfica ao longo da história. O centro do debate deveria estar no que queremos e precisamos da IA e na formulação do seu propósito, com a devida regulação, é claro.

Portanto, na minha visão, barrar a evolução da inteligência artificial não é o caminho. Não acredito que essa seja a solução, como tem sido proposto por alguns cientistas. Impedir a evolução da IA, mesmo que temporariamente, é impedir a evolução da espécie humana. Vimos isso acontecer quando a ciência foi perseguida como um mal a ser curado na Idade Média, o período da história em que a coletividade menos evoluiu.

A inteligência artificial, ao que tudo indica, inaugura uma nova era para a humanidade. Guardado o contexto histórico, a IA pode ter a mesma importância que o Renascimento, liderado pela ciência, teve em sua época e nos fez chegar aonde estamos hoje: discutindo o próximo nível de nossa evolução. Por isso, não podemos abrir mão da inteligência artificial.

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