A retomada dos shoppings: setor vive momento de forte investimento - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

A retomada dos shoppings: setor vive momento de forte investimento

Revista algomais

Bom desempenho deve-se à adaptação dos malls às novas tendências de consumo, à diversificação de serviços, especialmente na área de entretenimento, e à melhoria na economia.

*Por Rafael Dantas

Agenda TGI

O mercado dos shopping centers tem demonstrado resiliência e inovação para se adaptar às rápidas mudanças no padrão de consumo das famílias. Em Pernambuco, vários deles estão investindo em expansões e requalificações. Além disso, as programações culturais estão mais sofisticadas, mantendo a atratividade dos corredores dos malls, que registraram crescimento em 2024.

A forte concorrência com o e-commerce e mesmo o desejo da população por voltar a espaços ao ar livre, após a pandemia, são algumas tendências que levaram os shoppings a se reinventarem. Eduardo Lemos Filho, consultor da LMS, avalia que o setor vive um momento de investir nos equipamentos já instalados. Até mesmo os mais tradicionais estão com projetos ousados.

“Os shoppings estão apostando em retrofits, melhoramentos nos serviços, investindo na agradabilidade dos seus espaços. Isso melhora muito a experiência da visitação. Percebo muitos investimentos nesse sentido”. Ele destacou ainda que há grandes mudanças de fachadas, nos layouts internos, além de mais tecnologia para facilitar a vida do cliente.

Eduardo Lemos Filho, consultor

Para enfrentar a dura concorrência com o e-commerce, os lojistas estão tornando seus espaços “figitais”, uma mescla de experiência física com digital. “A mudança dos hábitos impostas pelo comércio eletrônico exigiu que a experiência física seja atualizada, com mais conveniência, tecnologia e integração com o digital”, afirmou Eduardo Lemos Filho.

Há caminhos multidirecionais na experiência do consumidor. Há tanto o cliente que experimenta o produto no shopping e finaliza a compra online quanto aquele que faz a aquisição do produto de casa e vai buscar no mall. Essa integração está cada vez mais ajustada para permitir uma compra mais segura e qualificada.

A projeção da Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers) é que o setor tenha alcançado o faturamento de R$ 201,7 bilhões em 2024 no País. O desempenho representa um avanço de 3,6% em relação ao montante de negócios gerados em 2023. Diante da confiança da retomada econômica, o Censo da Abrasce apontou que 25% das empresas planejam expansão em 2025.

INVESTIMENTOS EM PERNAMBUCO

Vários dos tradicionais shoppings do Estado estão fazendo apostas altas. É o caso do Shopping Recife, que apresentou ao mercado um masterplan com investimento inicial de mais de R$ 250 milhões. “Nesta primeira fase, estamos falando da construção do Parque Gourmet e do Recife MedCenter, que serão as primeiras novidades do projeto e que já geram cerca de 200 empregos diretos e 300 indiretos. Após a conclusão dos projetos, a expectativa é de que sejam gerados cerca de 1,7 mil empregos diretos, contribuindo para a economia, geração de renda e desenvolvimento econômico local”, anunciou Renata Cavalcanti, superintendente do Shopping Recife. Além disso, novas fases do masterplan devem ser anunciadas ainda em 2024.

Renata Cavalcanti, superintendente do Shopping Recife

Quem vem também investindo forte é o Shopping Tacaruna. Em 2024 foi o ano do retrofit da fachada e da reforma de várias áreas, como a praça de alimentação. Ao todo, o aporte já realizado foi de R$ 18 milhões, que será somado com mais R$ 12 milhões em 2025. Neste ano, será a vez de o mall receber um novo design de forro, um projeto de iluminação mais moderno e intervenções nas escadas rolantes. A exemplo das mudanças já implantadas, a proposta é desenvolver um estilo que une a beleza natural da paisagem associada à sofisticação do ambiente urbano.

“Nosso objetivo é manter o Tacaruna moderno, pujante, arrojado e competitivo, oferecendo cada vez mais conforto e agradabilidade aos clientes. Este retrofit vem trazendo muito verde, madeira e luzes com cor mais quente para os ambientes internos do shopping, conceito alinhado com as melhores tendências em todo o mundo”, afirmou a superintendente do Shopping Tacaruna, Sandra Arruda.

Sandra Arruda, superintendente do Shopping Tacaruna

Outro empreendimento que está fazendo um investimento milionário é o Shopping Guararapes. A modernização do mall, com a troca de piso na Praça de Eventos, novo paisagismo interno e externo, além da ampliação do mix com 42 novas operações, mobilizaram um aporte de R$ 25 milhões. Para 2025, está no planejamento investir mais R$ 25 milhões em tecnologia para ampliar a capacidade da rede wi-fi, melhorias na infraestrutura e a continuação da troca do piso.

O superintendente do Shopping Guararapes, Phyllype Pires, considera que os investimentos correspondem às novas necessidades do consumidor. “O setor de shopping está passando por mudanças focadas na modernização e diversificação para melhorar a experiência dos visitantes. O Shopping Guararapes exemplifica essas tendências com investimentos em tecnologia, infraestrutura, paisagismo, iluminação, mix de lojas, e ações voltadas para a sustentabilidade. Essas iniciativas buscam oferecer uma experiência mais rica, confortável e sustentável aos clientes”, afirmou.

Phyllype Pires_Superintendente Shopping Guararapes

Após investir R$ 9 milhões em 2024, o River Shopping, de Petrolina, anunciou mais R$ 50 milhões na construção da sua quinta expansão para 2025. O mall irá ganhar mais 6.500 metros quadrados de área bruta locável, que irá comportar mais uma âncora renomada, restaurantes e 35 lojas satélites.

Após a modernização de 2024 e o crescimento de vendas de 11%, comparado ao ano anterior, o superintendente Welton Carvalho considera que o empreendimento segue apostando nas tendências do setor. "O River Shopping tem o desafio de dar continuidade na qualificação do mix, expandir a oferta de entretenimento, lazer e serviços, a fim de atender o público de modo geral, trazendo experiências além do varejo tradicional. Um outro ponto é a integração do comércio digital e físico".

ATRAÇÕES CULTURAIS E INVESTIMENTO EM LAZER

Há muito tempo os shoppings deixaram de ser um lugar apenas de compras. Porém, além do lazer dos cinemas e espaços fixos para diversão, esses empreendimentos passaram a investir em eventos cada vez mais sofisticados e, por vezes, exclusivos. O RioMar Recife, por exemplo, recebe atualmente uma grande exposição imersiva, O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso. No conjunto recente de atrações do RioMar estiveram as exposições de Michelangelo e de Corbiniano Lins. Nos eventos culturais fixos do calendário, por exemplo, estão o RioMar Jazz Fest (que recebeu Karl Dixon) e o Festival RioMar de Literatura (com Lázaro Ramos).

“Cada vez mais o cliente vem para o shopping em busca de experiências, como serviços, lazer, gastronomia, cultura, para além das compras. O RioMar Recife se configura como um hub de entretenimento e serviços, oferecendo todo esse conforto e comodidade, contando com uma agenda cultural com mais de 100 eventos por ano, além de um mix com diversas operações de serviços e gastronomia”, afirmou Henrique Medeiros, superintendente do RioMar Recife.

Henrique Medeiros, superintendente do Riomar Recife. Foto: Thays Martins

Mais que eventos temporários, os shoppings no Brasil inteiro têm investido em estruturas fixas de lazer e entretenimento. Um levantamento recente da Abrasce apontou que as operações deste segmento representam 10,7% da área bruta locável dos empreendimentos, que incluem cinemas, teatros, arena gamers, entre outros. Um exemplo em Pernambuco foi o Paulista North Way, que inaugurou em 2024 uma ampla área externa de eventos. O espaço conta com 2.640 m², com robusta infraestrutura elétrica e hidrossanitária, além de um palco elevado.

Essas transformações têm sido impulsionadas também pelos consumidores mais jovens, segundo Henrique Carmello, superintendente do Shopping Carpina. “O setor está passando por mudanças focadas na oferta de serviços, soluções para clientes, gastronomia, entretenimento, e espaços ao ar livre. A geração Z, que valoriza experiências imersivas mais do que compras, tem influenciado essas transformações", afirmou. Além dos investimentos para transformar o mall em um espaço de convivência, ele destaca que esse público valoriza também as práticas de sustentabilidade das marcas, como o uso de energia renovável e a gestão eficiente de resíduos.

Henrique Camello, Superintendente Shopping Carpina

Em um estudo sobre o comportamento dos consumidores, realizado pela associação, 31% afirmaram ser atraídos por atividades de entretenimento e convivência. “O aumento das operações fixas de lazer desde 2019 e o crescimento nas vendas médias mensais mais recentes refletem esse movimento ascendente do segmento, reforçando esses espaços como centros de convivência e experiências para as famílias brasileiras”, destacou Glauco Humai, presidente da Abrasce.

Apesar de ser uma novidade dos últimos anos do setor, esse conceito não é novo. O arquiteto austríaco Victor Guren imaginava o shopping como um centro comunitário para reunião de pessoas, com lojas, espaços de lazer, espaços de gastronomia e centros médicos. “Os americanos e os brasileiros não seguiram 100% à risca o que foi recomendado pelo 'pai dos shoppings'. Hoje, alguns já seguem esse modelo com ampla diversificação do mix para atender gregos e troianos. Em síntese, cada vez teremos menos 'centro de compras' e cada vez mais 'centros de experiências', analisou José Carlos Poroca, superintendente do Camará Shopping.

ALTA NA CIRCULAÇÃO E NAS VENDAS, ALÉM DE BAIXA VACÂNCIA EM 2024

A retomada econômica do País, que resulta na menor taxa de desemprego histórica, tem seus reflexos nos corredores dos shoppings. No Shopping Recife, a taxa de vacância foi baixíssima, em torno de 1%. No Cabo de Santo Agostinho, o Costa Dourada comemorou aumento de 20% nas vendas em 2024 em relação a 2023. Já o Camará Shopping registrou um crescimento de fluxo de consumidores de 31,8% e de 14,5% no faturamento (comparando janeiro a novembro de 2024 com o ano de 2023).

Com o bom desempenho de 2024, o mall atraiu novas operações e planeja também avançar no mix e na requalificação do espaço neste ano. “Temos um planejamento bem construído que vai desde melhorias físicas (melhor ambiência) até a capta- ção de novas operações. Iniciamos o ano de 2024 com abertura da Selfit e fechamos o ano com a inauguração da Narciso. Só estas somam mais de 2.000 m². Já temos seis contratos firmados e pretendemos captar mais 15 operações em 2025”, afirmou José Carlos Poroca, superintendente do Camará Shopping.

José Carlos Poroca, superintendente do Camará Shopping

O avanço de vendas registrado no Paulista North Way foi de 16,89% em 2024 em relação a 2023. “Evoluímos em todas as métricas: fluxo de pessoas, fluxo de veículos e percentual de pagantes”, destacou o superintendente Marco Motta. As boas notícias seguiram até o final do ano, quando o Natal teve uma excelente aceitação do público, com decoração de neve e até um iglu. “Queremos consolidar nosso propósito como um centro de conveniência e serviços, proporcionando aos nossos clientes facilidade e comodidade, para que esse espaço seja como uma extensão de suas casas”, destacou Marco Motta.

Marco Motta, superintendente do Paulista North Way Shopping

Ainda na Região Metropolitana, o Recife Outlet viveu um ano de consolidação. Projetado como open mall, o empreendimento tem iluminação e ventilação naturais, um modelo que envolve custos menores para suas 70 lojas. Com três anos de operação completados em maio de 2024, os números indicam a tendência constante de crescimento. “As vendas e o fluxo de clientes no mês de dezembro representam o melhor desde nossa inauguração. Em relação às vendas, o ano passado foi 25% maior, quando comparado ao ano anterior”, afirma Marco Sodré, superintendente do Recife Outlet.

Marco Sodré - superintendente do Recife Outlet

Em 2025, o Recife Outlet promete trazer novas marcas para enriquecer o mix, com a inauguração de um restaurante até junho. Além disso, o centro de compras terá novos parquinhos infantis, melhorias no parcão e no paisagismo. Os investimentos buscam também aumentar a qualificação da experiência dos consumidores.

FORÇA DO SETOR TAMBÉM NO INTERIOR

A maior concentração de shoppings de Pernambuco está na capital, mas a Zona da Mata, o Agreste e o Sertão têm cases importantes. "Os shoppings do interior apresentam bom desempenho. O River Shopping, em Petrolina, iniciará mais uma expansão em 2025 e apresenta vacância praticamente zero. Os empreendimentos de Caruaru estão supermaturados. Serra Talhada também está em processo de maturação. O Shopping Carpina anunciou investimento imobiliário atrelado ao empreendimento, com residências. Todos estão também no mesmo cenário de reinvestimento no equipamento, como os da capital”, ressaltou Eduardo Lemos Filho.

O Carpina Shopping, por exemplo, considerou o ano de 2024 como positivo, de consolidação da retomada com números superiores aos da pré-pandemia. “As campanhas de marketing tornaram-se mais eficientes, utilizando a base de clientes e promovendo eventos que trouxeram experiências inovadoras, atraindo 40% a mais de público. As vendas digitais impactaram principalmente as lojas de eletrônicos e moda, o que influenciou o mix do shopping”, destacou Henrique Carmello, superintendente do Shopping Carpina. Para o ano de 2025, estão previstos investimentos na inauguração do Expresso Cidadão mais moderno de Pernambuco ainda no mês de janeiro, além de novas operações.

O setor de shopping centers em Pernambuco demonstra uma capacidade importante de adaptação e crescimento, investindo em experiências diferenciadas e integração tecnológica para atender às novas demandas dos consumidores. Os investimentos caminham para reposicionar os centros de compras como hubs de convivência, cultura e serviços.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Pernambuco Antigamente e Gente & Negócios (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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