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Adeus aos óculos de grau

Rafael Dantas

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Seis a cada 10 brasileiros precisam usar óculos ou lentes de contato. Só em Pernambuco são quase dois milhões de pessoas com algum tipo de dificuldade de enxergar. E se para alguns existe um certo charme intelectual de estar atrás das lentes, o IBGE, responsável por todos esses números, revelou que 60% dessa população dependente de alguma correção do grau gostaria de abandonar os óculos. Um cenário convidativo para o crescimento das cirurgias refrativas, que com o uso de laser conseguem atender esse desejo da maioria dos pacientes. O medo de enfrentar um procedimento cirúrgico é rapidamente minimizado com a conversa com um oftalmologista.

“Objetivamente, é uma cirurgia para as pessoas que não querem mais depender dos óculos. Hoje, Recife tem um excelente padrão na realização desse procedimento”, afirma Theophilo Freitas, oftalmologista do Hospital de Olhos Santa Luzia.
Não há uma idade máxima para que o paciente que usa óculos ou lente seja submetido à cirurgia refrativa, que corrige o grau dos olhos. Os oftalmologistas, no entanto, não recomendam que seja feita abaixo dos 18 ou 19 anos, que é a idade em que em geral o grau começa a se estabilizar. “O ideal é que o paciente faça a cirurgia quando o grau está estável há um ou dois anos”, explica Fábio Casanova, diretor do Memorial Oftalmo.
Além da idade e da estabilização do grau, Theophilo Freitas, menciona que há algumas contraindicações relacionadas a pacientes que possuem patologias na córnea, como a ceratocone. Para os pacientes idosos, que em geral procuram o oftalmologista por conta da catarata, é possível associar os dois procedimentos.
O medo de perder a visão, sentir dor ou ter infecções são as três preocupações da maioria dos pacientes. O avanço das tecnologias e da ciência médica dissolvem essa tensão. A cirurgia com lasers é realizada no Recife há cerca de 15 anos e alguns dos profissionais que atuam desde o início com as cirurgias refrativas não tiveram sequer um paciente infeccionado. A expertise do nosso polo médico faz com que muitos dos profissionais que atuam na capital pernambucana atendam também pacientes que vem de diversos lugares do Brasil. “Não digo que o procedimento é simples. Apesar de ser muito seguro é um ato cirúrgico. No passado, o índice de infecção era de 1 para mil. Com o avanço da tecnologia, podemos dizer que hoje é de 1 pra 15 mil procedimentos”, diz Casanova.


Theophylo Freitas acredita que o medo nem seja a primeira barreira para que as pessoas abandonem a necessidade das lentes, mas o comodismo de usar os óculos.
A cirurgia é bem rápida e limpa. A aplicação do laser dura poucos segundos. O procedimento total em cada olho demanda de apenas 5 a 10 minutos. “O paciente não sente dor. Alguns pacientes falam de um leve ardor, outros que sentem uma pressão no olho no momento da cirurgia, nada mais do que isso. Não há sangramento também”, informa o oftalmologista Marcelo Valença, sócio-diretor do Instituto de Olhos do Recife (IOR). No instituto são realizadas em média 30 cirurgias refrativas por mês.

Marcelo Valença - Cirurgia Refrativa - DiegoNóbrega (3)
Marcelo Valença

No entanto, Valença explica que é necessário a colaboração do paciente. “Essa é uma cirurgia com anestesia apenas de colírios. Não há um bloqueio anestésico que deixe o olho paralisado. A pessoa fica praticamente assistindo a cirurgia, mas não sente dores”, explica. O médico informa que fica conversando com os pacientes, explicando o passo a passo da cirurgia para mantê-los tranquilos.

Atualmente é comum fazer a cirurgia nos dois olhos seguidos. Antes, o habitual era se realizar o procedimento em um e agendar o seguinte após a recuperação do paciente. Entretanto, as pesquisas científicas identificaram que não há problemas em realizar o procedimento duplo no mesmo dia. Com os avanços científicos os resultados também melhoraram significativamente. De acordo com Fábio Casanova, a cirurgia na década de 90, cerca de 40% dos pacientes zeravam o grau.

Com as novas tecnologias, atualmente 97% das pessoas que passam pela operação zeram o grau.
Se a cirurgia é segura e rápida, no pós-operatório também não tem muitos segredos. Fábio Casanova orienta que os pacientes não devem coçar os olhos. “A cirurgia promove o aplainamento da córnea, se a pessoa coçar há uma tendência dela encurvar novamente. Essa preocupação é um pouco maior com os pacientes mais jovens. Após os 30 ou 40 anos, as córneas ficam mais resistentes”, orienta. A partir daí é seguir as orientações médicas do pós-cirúrgico.

Para os pacientes que retiraram um grau maior, a sensibilidade da mudança na visão é bem rápida. Alguns relatam a experiência de já sair da cirurgia enxergando melhor. Mas, de maneira geral, no dia seguinte, passado o momento da irritação ocular devido a cirurgia, o paciente já apresenta uma melhora fantástica, no relato dos especialistas.

O estudante Christian Ribeiro, 21 anos, realizou recentemente a cirurgia refrativa. Ele tinha mipia com grau 4 e desde os 13 anos usava óculos. A partir dos 16 surgiu o interesse em deixar as lentes, mas era precisa aguardar a estabilização do grau. Já sem os óculos, ele segue os estudos sem incômodo na visão. “Estou enxergando muito bem de longe, realmente melhorou bastante. Na cirurgia tive um pequeno incômodo no olho esquerdo, só no momento. No dia seguinte, foi só ficar quieto, sem muita luz. Usei antibióticos por uma semana e um colírio recomendado pelo médico durante um mês”, conta o paciente.
Uma dúvida que muitos pacientes possuem é se mesmo após a cirurgia o grau pode voltar ou não. Os especialistas explicam que não existe isso de voltar. Mas, alguns pacientes que teriam uma evolução natural do seu grau, se não tivessem estabilizado, poderão voltar a precisar de uma correção. Se o paciente não desejar usar óculos ou lentes de contato com esse novo grau que venha a surgir anos após a cirurgia refrativa, ele poderá se submeter a outro procedimento a laser para correção.

O empresário Henrique Porto Sales, 41, foi submetido à cirurgia refrativa há 10 anos. Com astigmatismo e miopia, ele usava grau 2 no olho direito e 5,5 no olho esquerdo. Desde os 13 anos precisou dos óculos ou lentes de contato, que foram abandonados logo após o procedimento. “Queria não ter mais o desconforto de colocar as lentes e os óculos. Seguindo as orientações médicas, não tive nenhum problema no pós-operatório e não senti nada na cirurgia. Já ao sair da sala da operação, tive a noção de que já conseguia enxergar melhor, que tinha funcionado”, conta a sua experiência. Mesmo uma década após, seu grau não subiu.

Livres dos óculos, os dois pacientes recomendam a cirurgia. “Se após os exames médicos há a indicação médica para fazer a refrativa, aconselho a todos fazerem”, indica Henrique.

CUSTO BENEFICIO
Se algumas dúvidas e falta de informação dos pacientes são barreiras para que mais pessoas se livrem dos óculos, o financiamento das cirurgias tem ainda alguns entraves. A maioria dos planos só cobrem a cirurgia refrativa com pacientes que tem graus mais elevados. Essa prática faz que muitos procedimentos tenham que sair diretamente do bolso dos pacientes.
Mesmo com todo o investimento em tecnologia que os centros médicos fazem para dispor dos equipamentos para fazer a cirurgia a laser, a média do custo da operação é entre 2,5 mil a 3,5 mil por cada olho. Mesmo para as pessoas que não podem contar com a cobertura do plano de saúde, o custo-benefício é satisfatório, visto que o paciente deixa de gastar periodicamente com novos óculos e lentes.

(Por Rafael Dantas)

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