Adeus, Gustavinho… (por Aluizio Câmara Jr)

Adeus Gustavinho…

Gustavo era um menino sedutor, irreverente, de muito estilo e cheio de charme. Conheci-o na varanda da casa de Rubinho e Renato Canuto, quando tentou esconder que fumava, colocando o cigarro entre as pernas e recebeu um alerta do pai: Cuidado pra não queimar as calças. As farras naquela varanda eram intermináveis. Tínhamos entre 15 e 17 anos, não lembro bem. Parei de contar minha vida pela cronologia do tempo. Lá se vão uma eternidade em ritos de passagem e regozijo celebrando uma amizade construída na admiração mútua.

Gustavinho era alguém preocupado com o amanhã. Logo cedo prestou concurso público e foi trabalhar na Fazenda Estadual lá pelas bandas de Petrolândia, salvo engano. Ficava impressionado com sua determinação. Seu Mestrado virou livro prefaciado pelo jurista Ives Gandra. Depois de certo tempo, deixou o cargo público para atuar enquanto advogado tributarista tornando-se sócio de escritório de renome no Recife.

Largou tudo e foi para Londres continuar seus estudos. Largou tudo não, porque, nesse momento, já estava com a sua Babi, advogada igualmente brilhante que conseguira apaziguar seu coração. Passei a chama-lo de Mr. Coast, porque, doravante, ele havia incorporado não apenas seus estudos, mas alguns hábitos típicos da intelectualidade londrina, que sabe apreciar bons vinhos e fumar charutos em poltronas capitonés.

Aos finais de semana sonhava soluções fenomenais para o Brasil e para o mundo, além de atacar com impaciência a mediocridade da política brasileira, sempre apoiada em bengalas populistas. Liberal, na economia e nos costumes, usava seu raciocínio com uma sagacidade assustadora. Um idealista pragmático, se ouso dizer, que acreditava que o problema do país “não será solucionado com voluntarismo, corações ingênuos e ideias ocas.” Dizia que a nossa “Ineficiência é resultado de decisões erradas.” Sempre tivemos discussões acaloradas, ele de um lado, eu do outro. Mas eu o respeitava sobremaneira. Ele não suportava a ideia de escutar “o som das algemas da mente”, como dizia o poeta William Blake.

Sua partida dilacerante me invade com uma tristeza insuportável. Uma perda gigante sofre meu tosco e vilipendiado coração. Mas nada se compara a dor de Tia Sônia e Joel, porque não é usual se despedir irrevogavelmente de um filho. Tico e Mateus perdem um irmão amado, que sempre foi uma referência. Mas meu corpo chega a doer ao pensar em Babi, em Chico e em Bella. Será preciso muita resiliência para suportar essa ausência e deixar fluir a dor, porque a reinvenção do paraíso precisa aceitar a perda e viver o luto, para ver brilhar novamente, para além da terra das sombras, a reconfortante luz do amor.

Gustavo Costa (1973-2021), Para sempre em nossos corações…

*Por Aluizio Câmara Jr.
Recife, 14 de março de 2021

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