"Junto com as obras do terminal antigo do Aeroporto, temos um projeto de renovação urbana e vamos restaurar a Praça Salgado Filho" - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

"Junto com as obras do terminal antigo do Aeroporto, temos um projeto de renovação urbana e vamos restaurar a Praça Salgado Filho"

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Diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena, Marcelo Bento Ribeiro, analisa o impacto da escassez de aeronaves no setor aeroportuário e explica os planos da concessionária para requalificar as antigas instalações do Guararapes que foram demolidas. A revitalização inclui a área externa, que será transformada em local de convivência para a população.

A té o final deste ano, o recifense ganhará um novo espaço de convivência na movimentada Avenida Mascarenhas de Moraes. A empresa Aena, que administra o Aeroporto dos Guararapes/Gilberto Freyre, está erguendo na área do antigo terminal de passageiros um Terminal Intermodal, que vai concentrar serviços de transporte, como veículos por aplicativos e de turismo, exposição artística, cafés e lanchonetes. Esse terminal será integrado à Praça Salgado Filho, projetada por Burle Marx, e que também será requalificada.

Agenda TGI

“Aquela região, em razão de o terminal antigo ter ficado fechado muitos anos, foi se degradando, a Praça Salgado Filho perdeu movimentação. Com esse projeto, ofertamos de volta para cidade uma área que está perdida e que passará a ter movimento e convivência”, assegura Marcelo Bento Ribeiro, diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena. O projeto é realizado em consonância com a Prefeitura do Recife e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e inclui ainda a restauração dos dois painéis de Lula Cardoso Ayres, que ficarão num espaço acessível a população.

Nesta entrevista a Cláudia Santos, Marcelo Bento também analisou a conjuntura do setor aéreo, que enfrenta escassez de aeronaves e sofre com a elevação do câmbio. Ele também falou do bom desempenho do Aeroporto do Recife, que ostenta a maior movimentação do Nordeste. Informa ainda sobre os planos da Aena, considerada o maior operador aeroportuário do mundo.

REC Fachada 2

Para começar a nossa conversa, o senhor poderia falar um pouco sobre a Aena? Ela é uma estatal espanhola?

Ela é uma empresa cuja origem é uma sociedade de economia mista. É controlada pelo Estado espanhol, mas grande parte das ações está na bolsa de valores de Madri. Está entre as 30 maiores empresas da Espanha no índice IBEX 30, tem controle estatal, mas toda a governança é orientada como uma empresa privada. A Aena faz a gestão de aeroportos de vários países e a principal base é a Espanha, onde tem 46 aeroportos e dois heliportos.

Fora da Espanha tem mais 33 aeroportos: 17 no Brasil e os demais no México, Jamaica, Colômbia e Reino Unido. Ela vem expandindo no exterior porque, originalmente, participava como sócia de outras empresas parceiras. Em alguns casos, como no Reino Unido, ela é controladora, tem a maioria das ações. Em outros casos, como no México, não. Mas, ao longo dos últimos anos, a Aena vem sendo mais protagonista, buscando operações em que ela controle efetivamente. A operação do Brasil é a única que pertence 100% a Aena. Assim, o Brasil é a principal operação da empresa fora da Espanha em tamanho e em proeminência.

Somos o maior operador aeroportuário do mundo, hoje o maior operador aeroportuário do Brasil em quantidade de aeroportos e temos um compromisso com esse negócio. Nem na Espanha, nem no Brasil, somos um fundo de investimento, não somos um grupo que investe em várias coisas, nós nos dedicamos 100% à administração aeroportuária. Isso é relevante pois traduz nosso compromisso com o que fazemos. Temos altíssimos padrões de governança por ter essa origem estatal, somos uma empresa muito transparente. Temos um compromisso severo com o meio ambiente. Na Europa, é o operador aeroportuário que tem as metas mais ambiciosas de redução de impacto ambiental e, este ano, vamos anunciar nosso plano de ação climática no Brasil para ter uma redução severa da pegada ambiental nos próximos 10 anos.

Guararapes é o aeroporto de maior movimento no Nordeste?

O Aeroporto do Recife tem capacidade para mais de 15 milhões de passageiros por ano e, com crescimento bem acentuado, fechou o ano passado com cerca de 9,5 milhões de passageiros. É o sétimo maior aeroporto do País em movimento de passageiros, o segundo maior aeroporto da Rede Aena e o maior aeroporto do Nordeste. É o maior aeroporto fora do eixo das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, também é maior que Porto Alegre, Curitiba, Manaus, enfim, é um dos principais aeroportos nacionais e é o quarto maior em cargas também. Então, é um aeroporto muito proeminente.

Tem quase o dobro de passageiros que Fortaleza, cerca de 25% a mais de passageiros que Salvador e muito mais destinos que essas duas cidades, que são concorrentes mais imediatas. O do Recife foi o único aeroporto que já superou os números de movimento pré-pandemia. Em 2024, o número de passageiros aumentou 10% em relação a 2019 e 7% em relação a 2023. Ou seja, o ano de 2023 recuperou o nível pré-pandemia e segue num crescimento consistente.

Salvador, por exemplo, está quase nos mesmos níveis pré-pandemia e Fortaleza está abaixo do número de passageiros embarcados em 2019, então o Recife segue se destacando. Além disso, recentemente, houve muitos anúncios com novos voos internacionais, como Córdoba, pela GOL, Porto e Madri, pela Azul e, recentemente, a Latam inaugurou um voo para Santiago no Chile. Além disso, a Azul vai retomar um voo de temporada para Assunção, no Paraguai. Assim, é um aeroporto que ainda tem uma capacidade de crescimento e vem passando por intervenções.

saguao guararapes

Como estão as obras de requalificação do Guararapes?

Completamos, em 2023, um enorme investimento de quase R$ 2 bilhões no Nordeste, entre obras e equipamentos. O Aeroporto do Recife é o principal dessa rede na região, que foi a nossa primeira concessão no Brasil, em 2020. Em 2023 assumimos a concessão de mais 11 aeroportos no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e São Paulo. Então, começamos as obras nos aeroportos do Nordeste e, em 2023, entregamos o Aeroporto do Recife com o dobro de capacidade que tinha antes.

Demolimos o terminal antigo e começaremos a construir um novo espaço de integração de transportes, que é uma área dedicada a Uber, táxi, vans de turismo, etc. retirando-os da fachada do aeroporto, porque a gente sabe que é bastante congestionada hoje. O intuito é tornar o trânsito da área mais fluido. Junto com a construção desse espaço no terminal antigo, estamos implantando um projeto de renovação urbana, vamos restaurar e adotar a Praça Salgado Filho.

São compromissos assumidos junto ao Iphan e à prefeitura. Aquela área, em razão de o terminal antigo ter ficado fechado muitos anos, foi se degradando e a Praça Salgado Filho perdeu movimentação. Então, com esse projeto, ofertamos de volta para cidade uma área que está perdida e que passará a ter movimento e convivência. Também está no projeto a decoração do muro do aeroporto e o replantio de árvores. A previsão é que a obra seja entregue até o final de 2025.

Dentro do espaço do terminal antigo, na área intermodal de integração de transportes, em frente à praça, ficarão os dois painéis do Lula Cardoso Ayres, que hoje estão protegidos numa caixa de concreto para não sofrerem danos. Quando a construção acabar, eles serão restaurados. Vamos devolver à população duas obras de arte muito importantes que ficarão disponíveis para contemplação, quase um museu a céu aberto.

Nessa requalificação, haverá espaços de convivência e ciclofaixa?

Temos que restaurar a praça de acordo com o projeto original do Burle Marx, é a restauração de um patrimônio histórico, então, não podemos instalar equipamentos diferentes. Mas, há a execução de uma ciclofaixa na fachada do aeroporto, dando continuidade àquela que a prefeitura está fazendo. Este trecho está sendo financiado pela Aena, então também estamos entregando um trecho de ciclofaixa que faz parte de um grande projeto da prefeitura.

Além disso, encomendamos a uma consultoria especializada, um estudo de desenvolvimento imobiliário para analisar como usar espaços antigos do aeroporto para desenvolvimento de novos negócios. É o caso da área antiga da base aérea que foi incorporada ao aeroporto, que fica na parte de trás, do outro lado da pista, na entrada do Ibura. O estudo prevê possibilidades de expansão dos terminais de carga aérea e rodoviária, áreas designadas para implementação de um hotel, escritórios comerciais e galpões logísticos.

O Recife tem uma carência de áreas para esse tipo de operação. Grande parte desse estudo foi concluída e está na fase de apresentação à prefeitura. Estamos fechando esse conceito para apresentar ao mercado daqui a uns meses e definir quais lotes poderão ser comercializados para desenvolvimento de futuros negócios. A parceria com a prefeitura é importante para saber como vai se dar o desenvolvimento de cada área e eventuais adequações necessárias.

Quanto ao transporte de cargas do aeroporto, quais os principais produtos transportados?

O e-commerce também tem influenciado essa movimentação? Sem dúvida. O Recife fica entre o quarto e o quinto maior aeroporto de cargas do Brasil, é bem relevante para essa atividade. A carga doméstica é muito capitaneada pelo comércio online e também produtos farmacêuticos. O Recife tem um polo de produção farmacêutica importante, remédio ocupa pouco espaço e tem alto valor agregado.

Algumas vezes a distribuição de produtos de alto valor agregado, como eletrodomésticos, celulares, etc. é feita por carga aérea. Já no internacional, os destaques são a exportação de frutas e peixes. Petrolina e outras partes do Estado são muito fortes na produção de fruta e o litoral é muito forte na produção de pescado. São produtos muito exportados. Na importação internacional o destaque são peças automotivas, pois a planta da Jeep fica no Grande Recife e algumas peças que ela importa vêm de avião.

Com essa requalificação, há expectativa de aumentar o volume de cargas?

Sempre trabalhamos para aumentar, temos potencial de crescimento. Atualmente não estamos num momento de crescimento acelerado em função da falta de aeronaves pelo mundo. As companhias aéreas estão com dificuldade em receber novos aviões e, além disso, o mercado asiático de carga está muito aquecido. Assim, as companhias aéreas dedicam mais aviões cargueiros ao Oriente do que ao Ocidente. Mas falando de um futuro a médio e longo prazo, sim, esperamos o crescimento.

A propósito, como o senhor analisa a conjuntura do setor aéreo diante da crise na oferta de aeronaves e do dólar alto que impactam no aumento dos custos das companhias aéreas com manutenção e combustível?

Tem sido difícil, especialmente porque demoramos a ter uma retomada de tráfego aéreo internacional. O tráfego aéreo doméstico se recuperou mais rápido, o internacional demorou bastante, especialmente devido a essa carência de aeronaves no mundo. Muitas companhias aéreas afirmam que só terão aviões em 2026. Trazer novos voos é um trabalho de longo prazo mesmo.

Mas vale ressaltar que trabalhamos muito próximo da prefeitura e do Governo do Estado que têm fortes programas de fomento ao turismo. Então, sempre que entra uma companhia aérea nova, tanto o Estado como a prefeitura aportam verba para marketing do destino, treinamento de agentes de viagem, ações que tenham o poder de alavancar esse tráfego turístico e sustentar esses voos e isso tem dado muito certo.

É um trabalho feito à muitas mãos: prefeitura, Estado, Aena, associações de hotéis, e isso é positivo. O Recife tem um grande fluxo de passageiros movidos pelo turismo e um mix de tráfego bastante diverso. Há muita gente viajando a negócios e para visitar família e parentes. Então, é um mix muito equilibrado.

aviao aeroporto recife

Recentemente o governo lançou o Ampliar, Programa de Investimentos Privados em Aeroportos Regionais. O que o senhor achou desse programa e existe algum planejamento da Aena em investir mais em aeroportos regionais?

O programa foi lançado, mas ainda está em consulta pública. O governo fez um levantamento de quais ou quantos aeroportos estariam passíveis de serem assumidos pela iniciativa privada, montou um arcabouço de como seria esse investimento, inclusive por concessionárias existentes, mas ainda não tem uma definição detalhada em relação às concessionárias, porque cada uma tem um contrato diferente.

Já houve sete rodadas de privatização de aeroportos, com regras diferentes e, a cada rodada, o governo vai evoluindo. Então, o ministério [de Portos e Aeroportos] tem que achar um formato em que se possa lidar com essas diferentes formas de contrato para que as empresas possam fazer ofertas de maneira igualitária para esses aeroportos. No grupo Aena, existe uma área dedicada a estudar qualquer oportunidade que apareça no mundo. Então, em havendo melhor definição de como isso seria, essa área vai fazer uma avaliação.

Como está a gestão de Congonhas, que é um aeroporto antigo, pequeno e com muita movimentação?

De fato, Congonhas é um aeroporto muito antigo, que foi sendo estendido, remodelado ao longo do tempo. Então, a cada coisa que mexemos, às vezes descobrimos outra. É um terminal complexo e que ficou carente de novos investimentos por muitos anos, enquanto o governo preparava mais uma rodada de concessão aeroportuária. Nós estamos lidando com um atraso e, por isso, hoje as pessoas, às vezes, reclamam da sensação de aperto no aeroporto.

Atuamos em duas frentes, fizemos um grande projeto de transformação do Aeroporto de Congonhas que entregaremos em junho de 2028. Esse plano é uma exigência do contrato de concessão e consiste na construção de uma nova ala do aeroporto que vai dobrar o tamanho do terminal de 50 mil para 105 mil metros quadrados. Essa nova ala absorve todas as operações de check-in, embarque, e a ala atual fica dedicada ao desembarque.

Além disso, aumentamos as posições de parada de aeronave para ter uma gestão do pátio, que hoje é muito difícil, para acomodar melhor qualquer atraso ou qualquer contingência que aconteça e também melhorar a circulação, pois passaremos a ter vias de mão dupla de circulação das aeronaves. Também será incrementado o número de pontos de embarque de 12 para 19 pontos. Na verdade, os pontos de embarque atuais infringem a distância mínima entre eles e a pista de rolagem dos aviões. Ou seja, com essa nova ala teremos um aeroporto 100% dentro de normas internacionais.

Esse é o grande plano mas, até lá, não ficamos parados, já aumentamos a quantidade de canais de inspeção significativamente, de equipamentos de raio-x. Hoje já não há fila. Também criamos um fast track, que é um serviço do Bradesco para quem tem os cartões de elite do banco poder passar pelo raio-x por um corredor expresso. Acabamos de inaugurar uma nova sala VIP, que é a maior sala doméstica de passageiros do Brasil com mais de mil metros quadrados e vamos inaugurar mais um espaço de quase dois mil metros quadrados, isso tudo dentro da área do embarque.

Então, com essa obra, serão três mil metros quadrados no total do saguão de embarque e também estamos aumentando a sala de embarque remota, ampliando em 40% a área de embarque total do aeroporto. Isso para um terminal que vai deixar de ser usado em 2028 para embarque, mas era preciso fazer algo emergencial para que as pessoas tenham conforto e qualidade no atendimento. Também reformamos todos os banheiros.

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