Se você só toma água na hora em que sente sede, é melhor mudar seus hábitos. Quando se está sedento é sinal de que o organismo já está com déficit desse precioso líquido. E bota precioso nisso, afinal 60% do nosso corpo é composto por água e nas crianças esse percentual eleva-se para 80%. Toda essa abundância hídrica é necessária para realizar as inúmeras reações químicas que ocorrem no nosso corpo para mantê-lo funcionando.
Por meio dessas reações é que se realiza, por exemplo, a digestão. Presente nas células e tecidos, a água também compõe boa parte do sangue, que é responsável por transportar os nutrientes dos alimentos que ingerimos – como as vitaminas, o ferro, entre outros. Portanto, trata-se de um arsenal importante para nos manter nutridos e fortalecer nossas defesas contra infecções.
E pasme: a água também emagrece! “Ela ajuda a ter uma sensação de saciedade, ou seja, a não ter fome”, revela a endocrinologista Lúcia Cordeiro, do Instituto de Endocrinologia do Recife. Esse benefício, segundo a especialista, foi constatado num recente estudo norte-americano que pesquisou crianças em escolas onde o acesso à água era facilitado pela existência de bebedouros e comparou-as com as de colégios onde não havia essa facilidade.
“Os alunos com acesso à hidratação tiveram ganho de peso 35% menor quando comparado ao outro grupo de estudantes”, informa a médica, que alerta, no entanto, não ser verdadeira a ideia de que água gelada acelera ainda mais o emagrecimento. “Não existem estudos que comprovem esse benefício”, rechaça Lúcia.
A água também auxilia na prevenção da chamada retenção de líquido que provoca os desagradáveis inchaços no corpo, que são comuns nos dias quentes e na tensão pré-menstrual. Isso acontece porque a água presente na circulação sanguínea acaba extravasando para a região abaixo da pele, se acumulando em certos locais do corpo causando o edema. Ao beber muita água, faz com que o líquido retorne para os vasos e saia pela urina.
Para que isso ocorra os rins precisam estar em bom funcionamento. E nesse caso, mais uma vez, a água tem papel fundamental. “Eles filtram tudo o que entra no nosso organismo e precisam da água para realizar essa função. Pessoas com tendência a ter cálculo renal devem ter atenção redobrada”, orienta a nutricionista Fabrícia Padilha, coordenadora do Curso de Nutrição da Faculdade Pernambucana de Saúde.
Para os que sofrem com problemas intestinais como a prisão de ventre, a água pode ajudar e muito. Ela hidrata e amolece o bolo fecal, reduzindo seu volume e facilitando a excreção das fezes. “Muitos pacientes revelam nos consultórios que comem alimentos com muita fibra, mas não resolvem seus problemas de constipação. Isso ocorre porque eles não ingerem água na quantidade necessária”, aponta Fabrícia. Na verdade, consumir fibras alimentares sem a devida hidratação pode, segundo Lúcia Cordeiro, até aumentar a prisão de ventre.
Numa situação extremamente oposta, isto é, na diarreia, o precioso líquido também exerce uma função importante. Isto porque há uma perda excessiva de água no corpo que precisa ser reposta para não provocar desidratação. O mesmo acontece nos quadros de vômitos e também de febre.
FEBRE
Nos estados febris há um aumento da temperatura corpórea e da transpiração, causando o risco de desidratação. “Quando a temperatura corporal excede os 37 graus perde-se 100 ml de água por hora em cada grau acima dos 37”, alerta Lúcia Cordeiro. Exemplificando podemos entender melhor: quando se está com 38 graus de febre, perde-se 100 ml de água a cada hora. Se alcança 39 graus, a perda eleva-se para 200 ml a cada hora. Portanto, se uma pessoa ficar 6 horas em estado febril e não for hidratada perderá 600 ml!
E as consequências advindas por não repor a hidratação poderão ser sérias. “Caso um paciente esteja com febre e diarreia e não for hidratado pode sofrer uma lesão grave nos rins ao tomar um medicamento para a dor”, adverte Lúcia. É por isso, que quando estamos com alguma infecção e somos atendidos numa emergência, sempre nos oferecem analgésicos juntamente com soro fisiológico que combate a desidratação.
E falando em febre, saiba que a água também é peça chave no controle da temperatura corporal, que é realizado pela transpiração. Sintetizado pela glândula sudorípara, o suor é produzido no momento em que o corpo atinge a temperatura acima dos 37 graus. Algo não muito difícil de acontecer em quem mora em localidades quentes como Pernambuco e quando se realiza atividades físicas. Pois sabia que o suor é 99% composto de água.
Quanto devemos beber?
Agora que já está ciente da importância da água para o nosso corpo, você deve estar se perguntando qual a quantidade ideal que devemos consumir para manter o organismo hidratado. Em média, uma pessoa que não realiza exercícios físicos intensos perde nada menos que 2,5 ml de água por dia, por meio da transpiração e da urina. E todo esse volume precisa ser reposto diariamente.
Por isso, os médicos aconselham que sejam ingeridos de 2 a 3 litros por dia, algo como de 8 ou mais copos diários. Mas quantidade a ser consumida por um indivíduo que pratica atividade física intensa é diferente, assim como pessoas que apresentam certas doenças, como os que sofrem de insuficiência renal.
Pode-se mesclar a hidratação com sucos de frutas e água de coco, porém com certa moderação. As frutas não substituem a água, porque contêm calorias e algumas substâncias que em excesso pode fazer mal a saúde. E fique longe dos isotônicos – que também são calóricos e possuem muito sódio e potássio – e dos refrigerantes, que também apresentam sódio, além de muito açúcar e não oferecem nenhum valor nutritivo.
“Nos dias quentes do verão ou em situações como no Carnaval, quando se está exposto ao sol e suando muito, é necessário aumentar a quantidade de água ingerida”, recomenda a nutricionista Fabrícia. Falando em Carnaval, muitas vezes, pessoas passam mal e se sentem tontas no meio da folia. Um estado que pode configurar como falta de hidratação. “Na desidratação, o rim, em vez de eliminar a água, começa a devolvê-la para o organismo e esse processo causa tontura”, explica Lúcia Cordeiro.
Atenção especial deve ser dada às crianças porque sentem menos sede. Os pequenos possuem percentual maior de água no organismo, mas se desidratam com mais facilidade. “A quantidade a ser oferecida para as crianças vai depender do peso e da idade, por isso, os pais devem consultar o pediatra sobre o assunto”, recomenda Fabrícia.
A terceira idade também merece cuidado. Com o envelhecimento existe uma menor sensação de sede. “As necessidades de líquidos dos idosos são as mesmas dos adultos mais jovens, porém é muito comum eles ingerirem menor quantidade por vários motivos”, explica a geriatra Carla Nubia Borges, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz-PE). Entre as causas estão a presença de doenças, imobilidade, alterações na memória ou uso remédios que podem alterar o mecanismo da sede, o que resulta em menor ingestão.
A desidratação em idosos é comum, de acordo com a geriatra, e é um sério problema: facilita o surgimento de infecção urinária, aumenta risco de queda, altera nível de consciência com sonolência, além de piorar quadros de doenças renais, cardíacas e também pode provocar delírios. “O estado de confusão mental aguda pode acontecer em pacientes desidratados e com quadro infeccioso. Em muitos casos é o primeiro sinal de presença de infecção. É quadro comum de procura a emergências médicas”, relata Carla Nubia, que no entanto, assegura que todas essas consequências são de fácil prevenção.
Deve-se oferecer água durante todo o dia em quantidades pequenas e frequentes de à pessoa idosa. Uma dica é deixar copos (de material seguro) e jarras de fácil acesso. Oferecer alimentos ricos em líquidos como chás, sucos, sopas, gelatina também são estratégias interessantes para manter a boa hidratação. “O idoso deve beber 1,5 a 2 litros por dia. Salvo se tiver alguma restrição específica orientada pelo médico”, recomenda a geriatra.