Dona de uma das economias mais pulsantes do mundo, a China exportou há décadas os conhecimentos da sua tradicional medicina. Integram os cuidados da saúde do país práticas como a fitoterapia, as massagens, como o tuiná, e atividades físicas, como o tai chi chuan. Mas no Brasil a face mais conhecida das práticas médicas milenares chinesas é a acupuntura, principalmente para pacientes com dor.
A aposentada Ana Maria Vieira, 78 anos, sofre de uma série de problemas na coluna. Tentou vários tratamentos para aliviar as dores que afetavam o braço esquerdo e o pescoço. Um sofrimento que só foi aliviado quando conheceu a acupuntura. “Cheguei quebrada. Tenho várias doenças de coluna por ter trabalhado mais de 40 anos em pé. Faço acupuntura há um ano. No começo eram três seções por semana, mas hoje é apenas uma, como manutenção. Mas estou livre daquelas dores”, afirma a idosa. Além de ter uma melhor qualidade de vida, ela evita tomar analgésicos e anti-inflamatórios para não acarretar outros problemas de saúde.
Em Pernambuco, aproximadamente 60 médicos praticam a acupuntura em consultórios. Na rede pública, o Estado dispõe de um ambulatório no Hospital Getúlio Vargas (HGV) e a prefeitura oferece o serviço na Unidade de Cuidados Integrais à Saúde (UCIS) Professor Guilherme Abath, na Encruzilhada. O Hospital das Clínicas, da UFPE, também realiza tratamentos e oferece residência no método chinês. “Nos últimos 10 anos aumentou muito o número de pessoas que estão procurando a acupuntura. As bases científicas dela vêm se sedimentando”, afirma Dirceu de Lavor Sales, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura e chefe do Ambulatório de Acupuntura e de dor do HC.
De acordo com o especialista, as evidências científicas apontam que essa prática da medicina chinesa possui efeitos anti-inflamatórios, analgésicos, imunomoduladores, além de auxiliar nas funções emocionais. “A acupuntura age em todos os sistemas orgânicos. Apesar de 80% dos pacientes chegarem nos consultórios por motivo de dor, ela tem indicações diversas, como para depressão, pânico e ansiedade, alguns tipos de asmas. Aspectos menos conhecidos pela classe médica não especializada”, explica Lavor Sales.
“Uma das doenças atualmente mais frequente na população chama-se ansiedade. A acupuntura vai tentar equilibrar o que está desequilibrado, atuando como calmante. Vários pacientes respondem muito bem ao tratamento com essa finalidade”, explica o ortopedista e traumatologista Onildo Melo, que é coordenador do ambulatório de acupuntura do HGV.
Onildo ressalta ainda que os serviços que oferecem o método chinês têm sido procurados também por pacientes com dores que desejam evitar o uso contínuo de remédios. “A acupuntura não cura algumas dores crônicas, mas evita que aqueles pacientes tomem muitas medicações”, explica. Ele afirma que em Cuba, por exemplo, o método é usado como analgesia na odontologia, para extração dentária. “Em alguns casos conseguem, inclusive, uma cicatrização melhor do que com o uso de anestesias”.
Além do tratamento mais conhecido da acupuntura, com as agulhas aplicadas em diversos pontos do corpo, existem outras técnicas terapêuticas que atuam em regiões específicas. A auriculoterapia, por exemplo, é uma técnica terapêutica que atua em vasos ou canais na orelha para tratar inúmeros sintomas.
Dois métodos também com vasto uso dos princípios da acupuntura são a ventosaterapia e o moxabustão. No primeiro são usadas ventosas – uma espécie de copos de silicone ou mesmo de vidro – para estimular as áreas corpo através do vácuo criado pela pressão no contato desse objeto com a pele. O segundo é uma espécie de acupuntura térmica, que é realizada através da queima da erva artemísia que é colocada na ponta de um bastão, que se assemelha a um charuto, e aplicada na pele.
MEDICINA CHINESA É MAIS AMPLA
A medicina chinesa é mais ampla que a acupuntura. Seus demais métodos terapêuticos têm conquistado adeptos, mesmo que de forma mais tímida. Uma das características mais evidente dos tratamentos chineses é a promoção da saúde de forma preventiva.
“Os cuidados com a saúde dentro da tradição oriental têm uma característica preventiva bem forte. Isso difere do Brasil. Mesmo as pessoas que buscam a acupuntura chegam nas clínicas com a doença já instalada”, constata Bruno Souza, sócio e professor do Shen – Centro de Estudos da Medicina Chinesa. Bruno explica que, na busca pelo equilíbrio das energias do corpo, os chineses tendem a usar primeiro a alimentação, depois exercícios físicos e, em seguida, a fitoterapia. “A medicina chinesa tem por princípio dar a orientação dos hábitos saudáveis ao paciente, para que ele perceba como está o seu dia a dia”, afirma.
Sobre a fitoterapia, Bruno explica que no Brasil há a dificuldade de acesso às ervas do país asiático. Mas na formação dos brasileiros na especialidade são usadas as ervas locais, cuja ação no organismo é correspondente à das plantas chinesas.
As atividades físicas mais comuns que compõem a medicina chinesa são o li an gong e o tai chi chuan, este último mais conhecido no Brasil. “O tai chi chuan beneficia o fortalecimento dos músculos, no controle da respiração, acalma pensamentos, ajuda a corrigir a postura. É muito positivo para quem está com baixa autoestima, tristeza, depressão”, explica o professor de tai chi chuan André Silva.
Ele explica que a arte marcial foi estimulada séculos atrás como uma forma de fortalecer a saúde do povo chinês. A prática foi apontada ainda pela Harvard Medical School como uma das atividades mais benéficas para terceira idade, com benefícios terapêuticos na redução da pressão sanguínea, estimulação do sistema imunológico, além de melhorias no sono, postura, força e flexibilidade.
*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais