Ninho de Palavras

Ninho de Palavras

Bruno Moury Fernandes

Alemanha, 1933

Na minha visão de mundo, estamos na Alemanha, em 1933. E muitas pessoas boas apoiarão o presidente, sem imaginar o que virá pela frente. Pode ser que eu seja empurrado para dentro do vagão. Mas pode ser que eu seja o soldado que empurra as pessoas e só não percebi ainda.

Minha visão de mundo é diferente de muitas pessoas que amo, mas jamais permitirei classificá-las como pessoas boas ou más pela escolha política que fazem. E seria tão legal que todos pensassem assim, como acontecia num passado recente, no nosso País. Conseguíamos dialogar, sem afrontar, sem ferir.

Eis a beleza da vida: olhares e sentimentos distintos sobre os fatos.

Fui aconselhado a me manter longe da polarização política extremista que tomou conta do País. Fui aconselhado a olhar de longe o trem da história passando porque minhas opiniões podem me prejudicar: perder amigos, colegas, clientes, admiradores e até parentes.

A polarização não permite que eu me expresse livremente, sem preocupações. Os que me pedem para ficar calado, acham que suas opiniões não os prejudicam. Eu que teria que ter cuidado com as minhas. Eu entendo. Nas entrelinhas querem dizer que minhas opiniões não se encaixam no meio onde vivo. Nasci branco, hétero, rico (pelo menos aos olhos do IBGE) e com curso superior. Defendo preto, pobre, pessoas com deficiência, homossexuais e analfabetos.

O silêncio que ora decido fazer, daqui por diante, dói demais. A dor que sinto é a da covardia. Mas a intolerância das pessoas próximas que pensam diferente, que apesar de tão próximas não conseguem amar ao ponto de respeitarem meus posicionamentos, venceu.

Daqui por diante, o silêncio está decretado. O amor que sinto por essas pessoas é o mandatário do silêncio. O amor sempre fala mais alto. Tão alto, que às vezes implora por calarmos diante da obviedade do absurdo. Se os que amo não enxergam o óbvio, o que poderei fazer a não ser silenciar?

Talvez o silêncio se transforme no apito do trem, mas a vida é feita de decisões. Algumas delas, mesmo sabidamente covardes, devem ser tomadas. A covardia voluntária é um ato de coragem.

Quem sabe, no entanto, o silêncio tenha o poder de fazer desviar a rota. Quem sabe a próxima estação não seja Auschwitz, mas sim uma bela praia do Nordeste, daquelas onde apreciamos um lindo pôr do sol, vermelho.

Sentado à beira do caminho, apenas regarei as flores que plantei. Não quero perder nenhuma delas. Peço desculpas se ofendi alguém. E perdão por ter me posicionado ao longo dos últimos tempos. Volto em novembro, depois que tudo isso passar, sem medo de ser feliz.

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