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Rafael Dantas

Anísio Coelho: “A economia linear precisa ser abolida”

Anísio Coelho é presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente da FIEPE. Ele respondeu à Revista Algomais três perguntas sobre o processo de transição das atividades industriais para um modelo econômico mais sustentável. Esse foi o tema da nossa última edição e temos publicado desde segunda-feira entrevistas com especialistas e representantes de classe sobre essa temática que deverá nortear o desenvolvimento econômico nos próximos anos.

A transição para uma economia de baixo carbono, principalmente nesse momento de retomada dessa crise da pandemia, está no radar do mundo inteiro. Qual a perspectiva do setor industrial nesse sentido?
Anísio Coelho – O mundo foi atingido no final do ano passado e no início deste ano com o alastramento da COVID-19, que surpreendeu pelo rápido poder de propagação, alto grau de letalidade e com abrangência global. Todas as economias foram afetadas e tomamos ciência de nossas enormes vulnerabilidades como sociedade. Problemas já existentes foram aflorados e verificamos que o modo de produção e consumo atual é insustentável do ponto de vista social e ambiental. O aquecimento global, a perda de biodiversidade, a contaminação de rios e de oceanos, a enorme geração de resíduos e o aumento da desertificação são desafios para a humanidade defrontar.

Imagem de PIRO4D por Pixabay

Dentre muitas alternativas para enfrentarmos está uma mudança significativa na redução de emissões de gases do efeito estufa e na diminuição da geração de resíduos, com a adoção da economia de baixo carbono e a economia circular. Temos que aprender com a natureza, pois nos ecossistemas naturais não existem resíduos, o subproduto de uma espécie serve de nutriente para outra. O setor industrial tem muitos desafios e oportunidades, para colocar a economia circular na prática de suas atividades e diminuir a pressão sobre a extração de recursos naturais e preservar os ecossistemas. O setor industrial deve cada vez mais buscar a ecoeficiência de todos os seus recursos. Temos exemplos exitosos como a geração de energia renovável. Processos e produtos precisam ser otimizados na direção da racionalização, da redução dos impactos ambientais e do menor consumo de recursos naturais. A indústria nacional tem um grande espaço para crescer nesta rota da economia de baixo carbono, e possuímos importante vantagem competitiva frente a outras economias.

Quais os principais desafios da indústria para fazer uma transição em direção a uma economia de baixo carbono?
Anísio Coelho – Todo processo de mudança requer foco e persistência, alicerçado principalmente na inovação com base tecnológica. A economia linear, lastreada na extração, no processamento, na manufatura, no consumo e no descarte, precisa ser abolida. O modo de produção e de consumo necessariamente tem que ser responsável e sustentável. Na concepção de um produto, aspectos referentes a otimização de recursos naturais deverão ser considerados, assim como o ciclo de vida do produto deve ser aferido, como também a possibilidade de reaproveitamento após o seu uso. No processo produtivo é preciso rastrear a pegada de carbono e da água, a diminuição de emissões.
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Crescimento da energia solar é uma tendência no País e no mundo. Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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Será necessário a ampliação de investimentos em pesquisa, tecnologia e qualificação da mão de obra. Hoje, o Brasil já é exemplo na Matriz Energética Nacional, pois 46 % são provenientes de fontes limpas e renováveis, enquanto nos países desenvolvidos a média é de 15%. No pós-pandemia, será necessária uma nova mentalidade, entendendo que o futuro é circular e, como o seu ciclo é fechado, será vital alargar o diâmetro desta esfera, para contemplar a todos e cada um com suas responsabilidades e ações consequentes.

Como está Pernambuco neste cenário?
Anísio Coelho – Temos grandes potencialidades na implementação de uma economia de baixo carbono, com plantas comprovadamente exitosas na geração de energia eólica e solar fotovoltaica, e na produção de etanol e biomassa. A possibilidade do aumento na oferta de gás natural é muito promissora, pois sendo ainda um produto de origem fóssil é o mais eficiente destes. Temos desafios na gestão de resíduos sólidos urbanos, onde ainda não existe a coleta seletiva aplicada em escala comercial, quase todo material passível de reciclagem é depositado em aterros sanitários, a logística reversa precisa funcionar. Mais de 50% do resíduo sólidos urbanos é formado por matéria orgânica, logo não existe compostagem para produção de adubo.

A indústria de reciclagem de plástico e de papelão tem mercado para crescer e gerar emprego, renda e tributos, porém falta matéria-prima, pois estão sendo enterradas. Precisamos criar uma política de incentivo à coleta seletiva e investir em educação ambiental. É necessário a rápida ampliação da rede de coleta e tratamento do esgoto doméstico e pensar no reuso da água tratado do esgoto para aproveitamento agrícola e industrial, como já existe no estado de São Paulo, com o projeto Aquapolo, que reaproveita 700 litros por segundo. Temos a necessidade de implementar um programa de incentivo ao manejo florestal sustentável na região do bioma da Caatinga, principalmente no Sertão do Araripe, para produção de lenha visando suprir de forma sustentável a necessidade energética do Polo Gesseiro.

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