De repente, a quarta-feira 13 de abril de 1988 parecia ser de Cinzas. Fulminado por um infarto, saia prematuramente da cena política o pernambucano Antônio Farias, dono de uma carreira política ascensional. Vivera apenas 55 anos, tempo em que escrevera a história de vida que vamos contar a partir de agora.
Comecemos pelo princípio.
Nascido a 28 de novembro de 1932 no município pernambucano de Surubim e vivido até aquela fatídica quarta-feira, entre as duas datas, se fez economista e industrial de sucesso, além de um político respeitado por sua retidão.
Como administrador, deu os primeiros passos empresariais na unidade de beneficiamento de algodão pertencente a seu pai, Severino Farias, destacado pecuarista de Surubim. Especificamente no setor sucroalcooleiro o início se deu nos anos 1960, na Usina Pedroza, situada em Cortês (PE). Em seguida, nos anos 1976/1977, tempos do Proálcool, montou no Rio Grande do Norte, na fazenda Estrela, de sua propriedade, a Destilaria Baía Formosa S.A.
Detalhe valioso é que em todos os momentos, Geralda Farias, sua esposa, sempre esteve presente, participando decisivamente das decisões e valorizando a responsabilidade social. Juntos eles atuaram com muita dedicação e eficácia, estabelecendo um modelo de empreendimento que se projetou em outras localidades e no próprio Grupo Farias.
Foi na política, contudo, que seu nome conquistou a maior notoriedade. Foi vereador do Recife (1955 a 1959), deputado estadual (1963 a 1971), prefeito do Recife (1975 a 1979), deputado federal (1983 a 1987) e senador (1987 a 1988), mandatos que soube honrar. Não era um político arrebatador ou dono de grandes dotes oratórios, mas era prospectivo, ancorado na racionalidade, sensatez, objetividade e correção em tudo que envolvesse o seu nome. Assim, como prefeito, Antônio Farias não aumentou tributos, dedicou-se ao social, enfrentou uma grande enchente, investiu na infraestrutura dos alagados e morros, e aumentou o número de unidades de saúde e educação. Fez mais: otimizou os métodos da arrecadação da prefeitura, conseguindo, assim, colocar as finanças municipais em dia, o que resultou em recursos positivos no fluxo de caixa. Ademais, modernizou e concluiu o prédio da prefeitura, reformou e climatizou o Teatro Santa Isabel, viabilizou as avenidas Mário Melo e Recife, além do elevado do complexo da Agamenon Magalhães, urbanizou a praia do Pina e instalou a nova iluminação da avenida Boa Viagem.
Depoimento categórico sobre Antônio Farias vem de Renato Pontes Cunha, presidente do Sindaçúcar e vice-presidente do Fórum Nacional Sucroenergético: “Em minha trajetória profissional, tive a oportunidade de, em 1977, levado pelo meu colega de colégio, o empreendedor Eduardo Farias, iniciar carreira executiva no Grupo Farias, onde, a partir dos 19 anos ingressei, tendo a grande chance de aprender com todos os seus integrantes e, sobretudo com o presidente, Antônio Farias, um mentor empresarial, tanto no campo da ética como no da gestão (...). Como gestor público ou privado, foi empreendedor arrojado, formulador e cobrador de metas, além de praticar fino trato com todos que integravam as suas empresas. Homem dotado de espírito público, sempre buscava o certo, em favor do coletivo. Era, portanto, um seguidor das estradas que alcançam o bem coletivo, na incessante busca pelo que de mais justo pode existir, tanto para seus eleitores, como para colaboradores, clientes e fornecedores nas gestões pública e privada”.
Aqui se contou a breve história de um homem especial, um homem que faz imensa falta à política de um país como o nosso, em que os principais atores políticos estão às voltas com a Justiça, pela prática continuada da corrupção. Um homem de trajetória impecável, enfim, que deixou saudades. A propósito, alguém já disse que o tempo pode apagar lembranças de um rosto, mas nunca apagará lembranças de pessoas que fizeram de pequenos instantes, grandes momentos.
É o caso de Antônio Farias. Sua vida entre nós foi um momento breve, que ele transformou em grandes momentos.
*Por Marcelo Alcoforado