O ônibus, inventado no século 19 em terras francesas, tornou-se fundamental para a mobilidade urbana em todo o mundo. Só no Recife, mais de 2 milhões de pessoas necessitam diariamente do transporte coletivo para se locomoverem na cidade. Mas, para muitos, o ônibus se tornou um hobby. Os chamados busólogos são verdadeiros experts quando se fala em ônibus. Eles se reúnem – principalmente em grupos na internet – e montam coleções, acervo e websites com informações sobre esse veículo. Mesmo aqueles que não têm coleções ou algum tipo de material, mas pesquisam e têm interesse pelo sistema de transporte, podem ser considerados busólogos.
A comunidade brasileira dos apaixonados por ônibus é composta por cerca de 13 mil pessoas, segundo informações do site da Urbana-PE. Ela nasceu em Minas Gerais, na década de 70 por iniciativa de Augusto Antônio dos Santos, considerado o “pai da busologia”. Santos batizou com esse nome a atividade que exercia na empresa de ônibus em que trabalhava, onde traçava rotas e anotava informações dos modelos de coletivos existentes. Em Pernambuco, essa atividade tem bastante expressividade, com encontros em Caruaru e na capital, Recife.
Graças a essa paixão, Guttemberg Siqueira, um busólogo convicto, viajou para várias cidades para participar de eventos sobre busologia. “Achei que era o único maluco e acabei encontrando outros malucos por ônibus. Tive a oportunidade de conhecer todas as capitais do Nordeste, graças ao hobby e aos amigos que fiz de outros Estados, principalmente na Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará”, conta Guttemberg Siqueira, que além de busólogo é auxiliar administrativo. Ele conseguiu reunir vários amigos que compartilham da mesma paixão no PE Ônibus Clube, comunidade de busologia, criada ainda no Orkut (antiga rede social associada ao Google).
Desde a infância Guttemberg tem admiração por ônibus. Com grande curiosidade, começou a perceber as diferenças entre os modelos existentes na época, e daí em diante passou a fotografar os veículos e catalogar materiais relacionados a eles, construindo sua coleção própria. “Coleciono fotos que fotografo há 10 anos. Também tenho algumas miniaturas que eu ganhei de empresas e algumas que eu pedi para fazer, todas de papel, além de algumas revistas relacionadas a transporte”.
O PE Ônibus Clube é hoje a plataforma de encontro dos admiradores de ônibus de Pernambuco, e Guttemberg é um dos responsáveis por atualizar o site e a página do Facebook. No site são publicadas notícias sobre linhas de ônibus, rotas, modelos e empresas, além de informativos sobre eventos e uma atualizada galeria de fotos. Já nas reuniões com os clubistas, a pauta principal, claro, são os ônibus. “Sempre têm informações novas, pois a geração de busólogos também se renova a cada dia”, explica.
E o interesse pelos ônibus não fica somente em admiração. O busólogo Kleber Pereira, que trabalha na área de manutenção da Transportadora Itamaracá, opta por utilizar o coletivo ao invés do automóvel. “Não sou muito chegado a andar de carro, mas amo andar de ônibus, principalmente quando viajo. É maravilhoso!”, declara. Ao contrário dos passageiros comuns, que veem o ônibus somente como um transporte, os busólogos fazem questão de saberem alguns detalhes. Por exemplo, só pelo número de ordem, ou até mesmo pelo número da placa eles conseguem identificar de qual empresa é aquele veículo e qual o ano em que ele foi montado. Outras características que estão na ponta da língua deles estão ligadas a carroceria, pintura, chassis, peças e equipamentos etc.
Nem só de paixão vive uma pessoa dedicada à atividade. Um dos lemas dos busólogos é a luta pela efetividade dos coletivos como transporte público, trazendo também para suas discussões temas como segurança, conforto, acessibilidade e preservação dos veículos. “Muitos de nós passamos ideias para as empresas por SAC e às vezes até para pessoas que trabalham nelas”, informa Guttemberg.
Ele conta que após a inauguração da linha 346, solicitou ao Grande Recife a mudança na sua nomenclatura para TI TIP (Conde da Boa Vista), e não TI TIP (Centro), como estava registrada: “ficaria vago esse nome, porque somos uma região metropolitana e existem vários centros de cidades na RMR. O resultado é que a nomenclatura foi acatada por eles”, orgulha-se o busólogo.
*Por Laís Arcanjo