Usado como tempero, o sal é de extrema importância para o bom funcionamento do corpo. Mas ingerido em excesso, pode causar prejuízos ao organismo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a grande quantidade do produto presentes nos alimentos, sobretudo os industrializados, é a principal causa de quase dois milhões de mortes provocadas por doenças cardíacas.
O surgimento do sal é datado na história há mais de 5 mil anos, quando era utilizado por civilizações como o Egito e China com a função de evitar a deterioração da comida. Isto porque, ele absorve a água dos alimentos e evita a proliferação de bactérias. Na sua composição estão os minerais cloro e sódio, sendo este último presente em maior quantidade.
O sódio, na verdade, é essencial para funções vitais do ser humano, já que contribui para o equilíbrio homeostático corporal – condição estável que o organismo precisa para realizar suas funções. Além de ser importante para as contrações musculares e indispensáveis para o funcionamento adequado da membrana das células, principalmente no que diz respeito à condução do impulso elétrico. Nos vasos sanguíneos ele também age como um importante regulador do volume plasmático (quantidade de água dentro dos vasos).
Mas o mineral pode se transformar num vilão quando está em grande concentração no organismo. Segundo o Ministério da Saúde, o recomendado para a nossa alimentação seria 5g de sal diário que equivale a 2g de sódio. No entanto, o consumo médio das famílias brasileiras chega a 12g de sal por dia. Consequentemente surgem problemas cardiovasculares, como a hipertensão arterial. Pode ainda aumentar a resistência à insulina, dificultando o controle da diabete, e pode estar relacionado ao surgimento de gastrite, úlceras ou mesmo câncer de estômago. Dietas ricas em sódio podem aumentar o risco desse tumor em até 10%. Nos pacientes com insuficiência cardíaca o sal em demasia está relacionado à dispnéia (falta de ar) ou edemas (inchaço).
Segundo o cardiologista do Hospital Jayme da Fonte Edmar Freire, negros, idosos e obesos são mais sensíveis a esse efeito. O especialista alerta que muitos alimentos já contêm sódio e que portanto não haveria necessidade de suplementação. “Mas abolir o sal adicional pode incluir muito sacrifício para nossa cultura. Uma alternativa seria cozinhar alimentos sem salgá-los e, depois de prontos, temperar com apenas uma pitada”, sugeriu. Outra estratégia que o médico indica é de usar temperos como cebola, pimenta e alecrim que dão bastante sabor aos pratos.
Ele recomenda também evitar a ingestão de produtos industrializados, por serem ricos em sódio. “É importante seguir uma alimentação mais natural possível e criar o hábito de preparar os alimentos e não consumi-los prontos. Parece um desafio na vida moderna em que tudo tem que ser prático e rápido, mas é necessário”, aconselha. “É preciso também exigir que as empresas informem em suas embalagens o conteúdo de sódio, visto que a maior parte do sal (75%) que ingerimos já está no alimento industrializado”, concluiu.
As crianças acabam sendo as maiores vítimas da indústria alimentícia, pois são atraídas pelas guloseimas, biscoitos recheados e outros fast foods que contêm grande concentração de sódio. Por isso, Bárbara Duque, nutricionista da Greenmix, orienta que se deve incentivar o consumo mínimo de alimentos salgados na primeira infância para acostumar o paladar a se satisfazer com pouco sal. Em bebês o consumo deve ser evitado até os dois anos. “A criança deve ter uma educação alimentar saudável, longe do máximo possível de alimentos industrializados”, alerta a nutricionista “É uma tarefa difícil, pois geralmente o uso do sal é associado ao sabor”, avalia.
Em outros países, o combate ao consumo do sal e de alimentos industrializados tem sido incentivado por medidas do governo. Nos Estados Unidos, por exemplo, autoridades locais, estaduais e organizações nacionais de saúde estabeleceram metas voluntárias para a diminuição do sódio utilizado por fabricantes do ramo alimentício. O governo do Japão também em 2015 criou um sistema de certificação chamado de “refeição saudável” para alimentos prontos, e com isso houve posteriormente uma queda considerável na incidência de doenças relacionadas ao uso do sal.
No Brasil, o Ministério da Saúde tem discutido com instituições e organizações, por meio de seminários nacionais, iniciativas eficazes no combate ao uso demasiado do sódio no País. Entre as estratégias estão a elaboração e a revisão de guias alimentares e o incentivo a uma alimentação saudável para todas as fases da vida, além de parcerias e acordos com outros setores focados em uma reformulação nos alimentos processados.
VARIEDADE
Existem no mercado vários tipos de sal que possuem diferentes quantidades de sódio. O refinado, o mais utilizado pela população; o sal grosso, conhecido por evitar o ressecamento dos alimentos; o light, geralmente recomendado para pessoas com restrição do uso de sódio por ter 50% a menos do mineral na sua composição. Há ainda o sal marinho é mais caro que o refinado, pois ele é retirado manualmente da superfície de lagos de evaporação; a flor de sal contém na sua fórmula 10% a mais de sódio que o refinado e é utilizado geralmente após a preparação dos alimentos. O sal do Himalaia possui mais de 80 minerais em sua composição e devido a isso, os cristais têm uma coloração rosada e um sabor suave.
Para a nutricionista Bárbara Duque, a reeducação alimentar e o uso consciente são as melhores formas de prevenir problemas relacionados ao consumo do sal. “Claro que algumas alternativas, como sal light (pobre em sódio e rico em potássio) podem ser úteis, mas devem ser prescritas por profissionais da área, pois pode ser perigoso em pacientes com problemas renais ou que já usem medicamentos que retém potássio no organismo”, orientou. “Mas, acima de tudo, a principal maneira é seguir uma alimentação balanceada e com orientação médica”, completou.
Por Paulo Ricardo