*Paulo Caldas
Em “Poemas Recifenses” Valmir Jordão celebra a liturgia da cidade. E o Recife não é qualquer cidade e nem Valmir Jordão é qualquer poeta. O Recife é sim roubada das águas, solo de sal e lama. Jordão, um cavaleiro quixotesco, armadura de versos, montado em cavalos marinhos, impondo o escudo do olhar crítico, empunhando o lápis, a viril espada da sua verve.
Por entre ruas e becos, templos e bares desses santos bairros ilhados, Valmir cavalga sobre pedras pisadas por passistas, diante das palafitas de um povo caranguejo, entre os lamentos sonoros das alfaias, saídos das paredes que, olhos abertos, ocultam os mortos, assombram os vivos. E por este burgo o poeta tem passe livre: Saudade, Amizade, União, Imperatriz e Imperador; observa, verseja e posta: "pedintes pobres e pretos”, no sabor do realismo ácido.
Ele vai ao lírico “deslumbrado entre beijos e no deleite de corpos que se buscam, após a ponte giratória” e volta ao épico em críticas ao social sob a ótica de Bashô: “sem massa nem tapioca, o que rola são picadas de muriçoca”. Em vários trechos o poeta paga tributo ao Capibaribe, rio tatuado em poesia gravada na pele, no peito e na alma recifense.
O livro tem o selo da editora Escalafobética, diagramação e edição de Eduardo Nascimento Júnior, imagens de contracapa de Elimar Pereira, ilustrações Tony Braga e impressão gráfica da Editora Babeco.
*Paulo Caldas é escritor