Da resistência à geração de riqueza: a força econômica do afroempreendedorismo
*Por Demorval dos Santos Filho
O “movimento” afroempreendedor crescente no Brasil está diretamente ligado às evoluções e às constantes discussões sobre as pautas raciais e a importância do afro-brasileiro para o crescimento econômico do nosso país. Ao longo de todo o território brasileiro, percebemos o quanto vem sendo corriqueiro (e extremamente necessário) a existência de feiras, eventos empreendedores, congressos acadêmicos, rodas de conversa, entre outros, que tratam do posicionamento social da cultura negra e de como ela tem sido importante para a nossa evolução.
Muito além de discutir apenas a questão do racismo, esses momentos têm proporcionado oportunidades empreendedoras a uma grande parcela da população brasileira que antes não tinha a chance de reconhecer que suas técnicas de produção afro-brasileiras também eram lucrativas e poderiam se transformar em negócios.
Vou dar um exemplo: quando há um movimento sociocultural reconhecendo as tranças nagô como um instrumento cultural de relevância social, isso ajuda no despertar das classes sociais, que passam a adotar o modelo com um padrão aceitável de estilo capilar. Esse processo dá início a toda uma cadeia produtiva que, em sua grande maioria, é liderada por pessoas negras. A sociedade, a partir de sua evolução sociocultural, cria novos padrões empreendedores.
Um dos maiores movimentos brasileiros que têm trazido visibilidade aos afroempreendimentos é a Expo Favela Innovation. A feira tem rodado o Brasil, em datas programadas, recrutando empreendedores residentes em comunidades com o objetivo de apresentar à sociedade o mercado empreendedor das favelas e dos negócios criativos. Em sua grande maioria, os empresários são afro-brasileiros.
Na Região Nordeste, de acordo com dados do SEBRAE (2024), os afroempreendedores correspondem a cerca de 32,7% do total nacional, ficando atrás apenas da região Sudeste, que concentra 37,7% desse segmento.
Ao realizarmos uma análise mais específica sobre o estado de Pernambuco, de acordo com dados do SEBRAE e com base na PNAD Contínua do IBGE, estima-se que cerca de 77% dos empreendimentos totais estão na informalidade — e, destes, cerca de 66% são afroempreendedores. Os dados sobre o quantitativo de afroempreendimentos ainda são tímidos quando falamos em nível de Pernambuco.
O Instituto Afro Origem fez um investimento de capital humano em sua unidade neste ano de 2025, aqui no estado, e acredita-se que, para o futuro, teremos mais clareza sobre a real dimensão dos afroempreendimentos pernambucanos.
Os empreendimentos afro, em Pernambuco, são em sua grande maioria pequenos negócios e informais, com presença crescente na agropecuária, construção, beleza e alimentação. Eventos como o Empodera Afro, realizado pelo SEBRAE, têm estimulado a formalização e o fortalecimento desses negócios, além de promover a valorização cultural e o networking entre os empreendedores.
A maioria dessas atividades ocorre em espaços variados, desde estabelecimentos fixos até locais improvisados, sem endereço comercial definido.
O afroempreendedorismo contribui para a economia ao gerar emprego e renda, promover a inclusão social e cultural e fomentar a diversidade e a inovação nos negócios locais. Embora predominem micro e pequenos negócios, a tendência é de aumento da formalização e da qualificação dos empreendedores — especialmente mulheres negras —, o que tende a ampliar ainda mais o impacto econômico.
Esses dados evidenciam que o afroempreendedorismo é uma força econômica importante no Nordeste e em Pernambuco, com grande potencial de crescimento e fortalecimento por meio de políticas públicas e iniciativas privadas que reduzam a informalidade e promovam capacitação e acesso ao crédito.
*Demorval dos Santos Filho é economista
