Algomais – Página: 24 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

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Uma voz cristalina

Cantor de entonação refinada, Paulo Molin interpretou varios sucessos, mas ficou esquecido pelos conterrâneos Américas, Europa, Ásia, África, Oceania… Nos cinco continentes, quase todos os países comemoram o Dia da Criança. Em muitos, no mês de outubro, como no Brasil. Entre nós, a data foi criada em 1924, mas só em 1960, quando a Estrela e a Johnson & Johnson lançaram a Semana do bebê robusto, começou a ser comemorada. Desde então, é de grande importância no calendário promocional das empresas. Nesta página, no entanto, não se busca falar do calendário promocional. Neste momento, o Dia da Criança é um motivo para falar de uma criança pernambucana, um menino-prodígio. Seu nome, Paulo Fernando Monteiro Molin, que ganhou fama como o pequeno grande cantor Paulo Molin, um descendente de franceses nascido no Recife em 2 de janeiro de 1938. Aos 8 anos de idade ele começou a cantar, e com apenas 12 anos gravou, em 1950, seu primeiro disco, um 78rpm, contendo as músicas Olinda, cidade eterna e Recife, cidade lendária, ambas de Capiba. Ainda tão jovem, Paulo Molin já era um cantor profissional, contratado da Rádio Tamandaré (Recife), tinha suas músicas tocadas nas emissoras de rádio de todo o Nordeste, e seus discos eram disputados. Recife começava a ficar pequena para o seu talento, levando-o a migrar para o Sudeste. Primeiro para o Rio de Janeiro e em seguida para São Paulo. Ali ele experimentou uma fase de intenso trabalho. Foi contratado pela Rádio Nacional, gravou Igarassu, cidade do passado, de Capiba, e a canção A chama, de Capiba e Ascenço Ferreira. Gravou o bolero Bem sabes, o samba-canção Por quê?, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra; gravou também o fox-canção Daqui para a eternidade, uma versão de Lourival Faissal; e o samba-canção Se você vai embora, de Luiz Fernando e Nelson Bastos. Naquele mesmo ano, gravou ainda o samba Não tenho lar, e participou da coletânea Carnaval 1955, da gravadora Sinter, com a marcha Não aguento este calor. Em 1955, ano que marcou o auge do seu sucesso, Paulo Molin foi tema de reportagem da então famosa Revista do Rádio, e participou do LP Feira de Ritmos, da gravadora Sinter, interpretando o fox-canção Daqui para a eternidade. Chegou 1956, e ele lançou, pela Mocambo, a saudosa gravadora pernambucana, o tango Caminho errado e o samba Desligue este rádio. No ano seguinte, gravou as baladas-rock Sereno, que veio a fazer parte da trilha sonora da novela Estúpido cupido, da Rede Globo; Como antes (Come prima), sucesso da música italiana; o samba Quem sabe; os boleros Sinto que a vida se vai e Prece do perdão; além da guarânia Serenata suburbana, de Capiba. Entrava ano saía ano, a agenda de Paulo Molin era repleta de compromissos. Em 1958, ele gravou os rocks-balada Minha janela, de Fernando César e Ted Moreno, e Se aquela noite não tivesse fim, de Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais um ano de trabalho intenso se passou, e chegado 1959, gravou as marchas A vida é boa e Bebo sem parar. Em 1960, ele gravou o samba Estamos quites, o bolero Fui eu, e lançou, pela Mocambo, o LP Surpresa com diferentes músicas gravadas em 78 rpm, além da balada És a luz do meu olhar, de sua autoria. Passou a integrar o elenco da gravadora Copacabana e participou da coletânea Tudo é carnaval – Nº 1 interpretando a marcha Eu não sou doutor, de G. Nunes, B. Lobo e F. Favero. Em 1961, gravou Olhando estrelas, um fox de M. Anthony e Paulo Rogério, e a guarânia A deusa da montanha, de Hilton Acioli e Marconi da Silva. Em 1962, participou da coletânea Tudo é carnaval – Nº 2, com a marcha Viva a cegonha, de Silvio Arduino e Ercilio Consoni. No mesmo ano, de volta à gravadora Continental, gravou a balada Chorando por você, de Roy Orbison e Noe Nelson, em versão de Romeu Nunes; e o samba É tua vez de sorrir, de Fernando César e Luiz Antônio. Ainda em 1962, ingressou na gravadora Philips e gravou, com acompanhamento de Portinho e sua orquestra, o bolero-mambo Teimosia e a Balada do desespero, ambas de Francisco de Pietro. No mesmo ano, gravou pela Mocambo o samba-canção Inconstante, de Aloísio T. de Carvalho, e o samba Rosa do mato, de Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim. Em 1963, lançou, pela gravadora Philips, o LP Meu bom amigo Capiba, interpretando as belas Olinda cidade eterna, Recife cidade lendária, Praia da Boa Viagem, Maria Betânia, Cais do porto, Igaraçu cidade do passado e Que foi que eu fiz, todas composições solo de Capiba, e mais Depois, de Capiba e Talma de Oliveira; e A mesma rosa amarela, Claro amor e Não quero amizade com você, de Capiba em parceria com poeta Carlos Penna Filho. Ainda naquele ano, participou da coletânea Carnaval bossa nova, da gravadora Fermata, com a marcha Quem tem mulata, parceria dele com Vicente Longo e Waldemar Camargo. Em 1964, gravou duas marchas para a coletânea Carnaval – Vol. 1, da Philips, Balzac disse, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Me leva, de Waldemar Camargo e Vicente Longo. Assim, ao longo da carreira Paulo Molin gravou 15 discos em 78 rpm e três LPs pelas gravadoras Continental, Mocambo, Copacabana, Philips e Fermata. Foram seus anos de ouro, em que ele chegou a atuar também no cinema, fazendo parte do elenco do filme Zé do periquito, produzido e estrelado por Mazzaropi. O tempo, contudo, indiferente ao que as pessoas almejam, passara. Novos valores eram surgidos, mudavam as predileções musicais. Paulo Molin, então, resolveu fixar-se em Guaxupé, interior de Minas Gerais, onde, lado a lado com a atividade jornalística exercida na Folha do Povo, um jornal local, prosseguiu em sua carreira de cantor, embora àquela altura da vida a voz estivesse muito distante daqueles tempos do Recife. Em Guaxupé ele construiu amizades, conquistou a admiração de todos, criou fama, marcou positivamente a cidade. Tanto, aliás, que recebeu o título honorífico de cidadão guaxupeano. Paulo Molin

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Você Acredita? – Crítica

Fé, arrependimento e redenção. Essa é a base sobre a qual está firmado o filme Você Acredita? (2015), que chegou aos cinemas no último dia 3. Ele conta a história de doze pessoas que terão suas vidas transformadas pela mensagem da cruz. Esta é a nova aposta dos produtores de Deus não Está Morto (2014), longa que, ano passado, só nas bilheterias norte-americanas, arrecadou mais de US$ 60 milhões e no Brasil alcançou a marca de mais de 290 mil espectadores. Você Acredita? tem como tema a fé relacionada às obras. O texto “A fé sem obras é morta”, de Tiago 2:17, exibido logo no início do longa, aponta o caminho por onde a trama seguirá. Em Deus Não Está Morto o foco é a existência de Deus. Já em Você Acredita?, é a fé na cruz de Cristo, que traz como consequência o perdão e a redenção. O filme tem no elenco nomes de peso do cinema mundial, como Mira Sorvino, ganhadora do Oscar por Poderosa Afrodite (1995) de Woody Allen, Sean Astin, conhecido por sua atuação em Os Goonies (1985) e na trilogia O Senhor dos Anéis e Cybill Shepherd, da série A Gata e o Rato e de filmes de sucesso como A Última Sessão de Cinema (1971) e Taxi Driver (1976). A grande a quantidade de personagens é o ponto que cria dificuldades no desenvolver do trama. O tempo é pequeno para explorar as nuances de suas personalidades. Alguns recebem mais atenção que outros, como Samantha, uma viúva que passa a viver em abrigos com a filha Lily. Personagens estereotipados também compõem o filme: o soldado traumatizado pela guerra, o médico cético e a filha abandonada. As histórias de cada um se cruzam, mas de forma forçada e artificial em alguns momentos. A grata surpresa está na trilha sonora. A canção “We Believe” do grupo Newsboys, ganhou uma versão em português para as cópias exibidas no Brasil. “Acredito”, interpretada pelo cantor Leonardo Gonçalves já teve mais de 980.000 visualizações no Youtube. Difícil não comparar Você Acredita? a Deus Não Está Morto. Resta saber se a produção alcançará o mesmo sucesso. Só o tempo dirá. Ao menos nos cinemas, o número de salas em exibição bateu recorde entre os filmes evangélicos no Brasil.   *Wanderley Andrade

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Pesquise antes de comprar remédio

Os gastos com medicamentos representam 48,6% da fatia do orçamento que as famílias brasileiras destinam à saúde. Diferentemente do que ocorre com outros tipos de despesas, esta não pode ser simplesmente cortada da lista de compras por estar relacionada a itens de primeira necessidade. Mas isso não significa que não se possa economizar. Para tanto, o consumidor precisa estar disposto a pesquisar. Uma análise realizada pela Revista Algomais revelou variações significativas nos preços dos remédios e que somadas podem fazer a diferença no bolso do consumidor. Com duas listas de medicamentos distintas, a comparação foi realizada em quatro das grandes redes farmacêuticas: Drogasil, Drogaria São Paulo, Big Ben e Pague Menos (Veja tabela). Como amostragem, foram selecionados 18 remédios e duas filiais de cada grupo, sendo uma na Zona Sul e outra na Zona Norte. O resultado: variações de custo que impressionam. Na Zona Norte, o preço que teve a maior oscilação foi o do Zetsim, custando R$ 18, 87 a mais em dois dos estabelecimentos. Em Boa Viagem, o Centrum CDP 30 foi o campeão na diferença de valores. Na Drogasil, o complexo vitamínico era comercializado por R$ 49,89, já na Big Ben, por R$ 33,99. Uma economia de mais de 30%. A pesquisa também mostrou uma radiografia diferente nas duas regiões do Recife. Enquanto nas drogarias da Zona Sul, os preços não se repetiram, nos estabelecimentos da Zona Norte, é possível notar um tabelamento dos preços. O Alpaghan Z 5 ml é um exemplo disso. Em três dos quatros estabelecimentos pesquisados, o colírio é vendido exatamente pelo mesmo valor (R$ 40, 05). No entanto, na hora de fechar a conta é possível notar a diferença. Os dados coletados mostram que houve uma redução de mais de R$ 70 na hora de pagar a lista de medicamentos da Zona Norte. Tal diferença foi garantida pela filial da Big Ben, que saiu na frente na disputa pelo menor preço. À Drogaria São Paulo, coube a última posição no ranking. Na Zona Sul, a economia foi menor, mas, mesmo assim, foi possível poupar mais de R$ 30. A Big Ben novamente teve o melhor custo-benefício, mas, desta vez, o título de mais cara ficou com a Drogaria São Paulo. Os resultados, no entanto, não garante que esse cenário seja encontrado em todas as unidades de cada uma dessas redes. Uma pesquisa realizada pelo Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon-PE) revelou, inclusive, que em lojas de um mesmo grupo, localizadas até no mesmo bairro, os preços podem apresentar variação. Tal situação foi constatada, por exemplo, com o Maleato de Enalapril. A droga foi encontrada com valores distintos em duas unidades da Big Ben localizadas em Casa Caiada, em Olinda. Em uma delas, a caixa custava R$ 12 a mais. A fiscalização dos preços dos medicamentos começou a ser realizada pelo Procon em julho e já ocorreu em dois municípios: Recife e Olinda. A pesquisa mostrou que os genéricos são os que têm maior variação, chegando a 397%. Esse foi o percentual da diferença de preço observado na venda do Captopril.  A droga foi encontrada por R$ 24, 85 e R$ 5. A tabela com todos os itens pesquisados fica disponível no site do www.procon.pe.gov.br. “O segredo para o consumidor conseguir o menor preço é pesquisar. Essa tabela, que nós colocamos à disposição dele, é um instrumento fundamental para que se  possa ter uma referência de preços”, coloca o gerente geral do órgão, Erivaldo Coutinho.  

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Estudos comprovam efeito terapêutico de plantas medicinais

Se você pensa que aquele chá que sua avó lhe oferecia quando estava doente não traz benefícios para a saúde, é bom mudar de ideia. Existem comprovações científicas dos efeitos positivos das plantas medicinais e dos remédios produzidos a partir delas, os fitoterápicos. A tradição de nossos ancestrais de transformar a flora numa verdadeira farmácia ganhou status de ciência. E não é só isso. Também virou política pública. O Ministério da Saúde (MS) vem incentivando a fitoterapia País afora a partir do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). E aqui, na Veneza Brasileira, a Secretaria de Saúde do Recife vai inaugurar no ano que vem um projeto de Farmácia Viva no Jardim Botânico para distribuir plantas medicinais e fitoterápicos aos pacientes da rede municipal. Pernambuco já teve um laboratório semelhante. Foi o primeiro do Brasil pertencente ao serviço público. Isso aconteceu lá pelos idos de 1983, em Olinda, tendo à frente a médica Evani Araújo, que hoje  é professora do Curso de Farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Uma série de fatores, porém, levou à suspensão da iniciativa, que, no entanto, deixou sementes. A ponto de hoje já termos certa expertise para fazer um novo laboratório. “Quando comecei, nos anos 80, a fitoterapia era mal vista pelos colegas”, recorda-se Evani. “Mas a concepção foi evoluindo até que em 2006 veio a resolução do Ministério da Saúde oficializando o uso no SUS da fitoterapia. Em seguida foi divulgada a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus)”, relata a médica. Nessa relação constam 71 plantas muito pesquisadas e que já têm segurança de uso. A intenção do MS é expandir a utilização delas tanto in natura quanto na forma de fitoterápicos. Segundo dados de 2012 do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica do MS, 970 municípios disponibilizam fitoterápicos em ao menos um estabelecimento de saúde da atenção básica e 80 ofertam esses remédios no modelo de Farmácia Viva. A fitoterapia também ganhou as farmácias comerciais. Basta dar uma olhada nas prateleiras das drogarias para perceber a quantidade e variedade desses medicamentos que são vendidos. Os que desejam saber como cultivar e usar essas plantas têm a oportunidade de participar de cursos gratuitos ofertados pelo Núcleo de Apoio às Práticas Integrativas (Napi), ligado à Secretaria de Saúde do Recife. O aluno aprende a fazer a formulação caseira mais adequada, seja um chá, um lambedor, ou até um xampu, a partir de vegetais muito comuns em jardins e quintais, como quebra-pedra, babosa e Melão-de-São-Caetano.  Gente de todas as classes sociais frequentam as aulas, desde donas de casa, até profissionais da área de saúde que estão fazendo mestrado ou doutorado. Evani é uma das professoras e assegura que a melhor alternativa para adquirir uma planta medicinal é fazer seu próprio cultivo. “Deve-se saber onde buscar a planta, nem sempre os mercados públicos são a opção mais vantajosa. O melhor é cultivar em casa, mesmo sendo num apartamento. Pode-se plantar até numa garrafa PET”, incentiva a médica. Usar plantas medicinais requer um certo cuidado. Qualquer interferência externa pode modificar sua eficácia, como a poluição. “E se não forem utilizadas logo depois da coleta, devem ser secadas”, orienta Elba Lúcia Amorim, professora associada e vice-chefe do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPE. Elba, que também é conselheira do Conselho Regional de Farmácia, alerta, ainda, para a falsa ideia de que as plantas medicinais não provocam efeitos adversos. Portanto, esqueça aquele pensamento de que tudo que é natural se não fizer bem, mal não faz. “Elas apresentam ações benéficas, mas não desprovidas de efeitos colaterais”, adverte a farmacêutica. Quer ver um exemplo? O boldo é uma planta cuja eficácia contra a indigestão é conhecida por muita gente e teve seus efeitos benéficos comprovados por pesquisas. Mas, em grande quantidade pode provocar câncer hepático. Vale também um alerta especial para gestantes e bebês. Como ainda não existem estudos científicos que comprovem que plantas medicinais não são tóxicas para eles, grávidas e crianças muito pequenas não devem fazer uso delas. Por todas essas razões, antes de recorrer à fitoterapia, o ideal é obter informações seguras de como se beneficiar de uma horta medicinal. Uma das maneiras, por exemplo, é participar dos cursos, como o do Napi. Maria Alci Medeiros é uma das alunas que usufruiu dos conhecimentos das aulas. Ao sofrer de infecção urinária, foi parar duas vezes na emergência. Ela se curou com o bom e velho chá de quebra-pedra. “Nunca mais tive nada”, comemora Alci. Já os medicamentos fitoterápicos contêm o princípio ativo (substância que produz o efeito farmacológico) que foi extraído das plantas. Mas não pensem que por serem originados da natureza não passam por fiscalização. Assim como os remédios industrializados, eles precisam do registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para serem comercializados. Esse registro é obtido a partir da confirmação de testes que comprovem sua eficácia terapêutica e a segurança quanto à toxicidade. PESQUISA O Brasil – Pernambuco incluído – tem um potencial grande para expandir o uso de plantas medicinais e produzir uma quantidade diversificada de fitoterápicos. Afinal, nossa biodiversidade é imensa. Mas esbarramos nos obstáculos para realizar pesquisas que evidenciem o efeito desses medicamentos. “Desenvolver esses estudos é um investimento muito caro. Falta incentivo”, lamenta Evani. Tratar-se, na verdade, de um processo que pode levar mais de 10 anos. Primeiro identifica-se a planta, a partir da classificação botânica internacional com nome em latim. Em seguida, estuda-se como ela se apresenta durante o ano, colhendo mês a mês para verificar se sofre algum tipo de alteração.  Em seguida vem uma série de testes primeiro em animais, depois em pessoas. Elba coordenou um estudo sobre os efeitos de determinada planta no combate a infecções por fungos. Mas teve que paralisar a pesquisa na fase de testes em animais porque não conseguiu financiamentos de R$ 50 mil para dar prosseguimento à investigação. A professora da UFPE não revelou nome do vegetal porque pretende patenteá-lo. Um cuidado compreensível uma vez que a biopirataria é uma

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Exposição mostra o olhar de Francisco Cunha sobre o Recife

Feitas de celular, 40 imagens do consultor estão até o dia 31 de outubro no Espaço Vitrúvio Para os amantes das paisagens recifenses, uma dica para o mês de outubro é visitar a exposição “O Recife Tomado à Luz – Fotografias de um Caminhante”. Reunindo 40 fotografias do consultor Francisco Cunha, sócio da TGI, a mostra é um pequeno recorte dos seus quilômetros de caminhada pela capital pernambucana. Todas as imagens foram feitar a partir do seu celular, em suas andanças pelas ruas da cidade.  As fotografias que ganharam as paredes do  Espaço Vitrúvio partiram de uma seleção de 13 mil imagens registradas pelo consultor. Dessas, a equipe responsável pela curadoria da mostra fez uma seleção de 200 imagens para um livro, que está sendo editado, com previsão de lançamento para 2016. A mostra apresenta um Recife das águas, dos monumentos e de prédios históricos. A decisão de organizar a exposição veio de muitos pedidos dos amigos, após visualizar as fotos nas redes sociais. Desde que começou a fotografar, Francisco Cunha compartilha as imagens que capta pelo celular pelo seu perfil do Facebook e Instagram, trazendo lugares poucos conhecidos da cidade ou um novo olhar, de um andarilho, de espaços que a maioria dos recifenses transita diariamente. Serviço O Recife Tomado à Luz – Fotografias de um Caminhante Visitação: de sexta (9) a 31 de outubro, quartas e domingos, das 16h às 21h Espaço Vitrúvio – Rua Antônio Vitruvio, 71, Poço da Panela Entrada gratuita

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A internet não vai acabar com outros veículos

Entrevista a Camila Moura e Cláudia Santos   Jorge José Pioneiro da TV e personagem do rádio em Pernambuco fala de sua trajetória na comunicação Uma verdadeira enciclopédia  do rádio e TV pernambucanos, Jorge José Santana trabalhou ainda garoto nos estúdios radiofônicos e integrou a primeira equipe que atuou na televisão no Estado. Nesta conversa com Algomais ele fala  dessa trajetória e da sua vida como escritor. Como foi a infância no Recife? Quando garoto, brincava na praça de Casa Forte, depois eu fui morar em Apipucos, depois Dois Irmãos. Morei num sítio enorme ao lado da casa de Gilberto Freyre.  Ficava vendo Fernando Freyre e Sonia Freyre andado de patins. Como  eu era pobre, não tinha dinheiro para comprar patins, pelo menos eu ficava lá olhando, me divertindo. Às vezes, eu me acordava cedinho para apanhar as mangas que caiam no meu quintal  e vendia a 10 centavos. Era um dinheirinho para pagar o cinema. Eu estudava no São Luís e minha mãe impôs regras para o meu estudo: se eu tirasse 10 e 10, eu tinha um dinheiro para ir ao cinema. Se fosse 10 e 9, eu não tinha o dinheiro para ir ao cinema . E se tirasse menos do que isso, eu ficava de castigo e não ia ao cinema. Depois fui para o colégio estadual,  em seguida passei uma temporada no Colégio Padre Félix. Houve um período em que eu não dei continuidade aos estudos. Quando eu cheguei na fase de vestibular, já havia entrado no rádio que era um ópio, me seduzia. Garoto ainda, de 11 anos, fazia rádio, subia num banquinho porque a haste do microfone não descia até a minha altura. E como você entrou no rádio? Eu ficava em casa lendo os jornais em voz alta, transmitindo o jogo de futebol e meu pai viu que eu gostava daquilo. Eu pedi: pai, eu quero trabalhar no rádio. Ele falou com o amigo Ziul Matos, locutor que tinha programa de auditório na Rádio Tamandaré. Ele me levou para o rádio e comecei a fazer os papéis de garoto nas radionovelas. Depois, encontrei uma pessoa que me ensinou a ser contrarregra,  fazia ruídos de passos (usando tábuas) cavalo correndo no asfalto (com cocos), etc.  Lá para frente surgiu a oportunidade de ser produtor de rádio, escrevendo. Existia naquela época a novela semanal. Nós íamos assistir ao filme, antes de ele ser lançado, e depois a gente iria radiofonizar aquele filme em cinco capítulos.  Isso foi em 1954. E na televisão? Em 1959 abriu um curso para televisão e me inscrevi. Nessa época a Rádio Tamandaré tinha passado para a Rádio Clube de Pernambuco (pertencente aos Diários Associados), e houve a transferência da equipe. O curso era para produtor de televisão e ocorreu um concurso em que tirei terceiro lugar. Eu era garotão, 18, 19 anos. Comecei na TV Rádio Clube com a responsabilidade de escrever novelas. Eu já vinha escrevendo novelas para o rádio. Nenhum dos produtores tinham a dimensão da força da imagem e da palavra ao escrever aqueles grandes teatros que duravam uma hora e meia. Tudo ao vivo. O estúdio era quente, os atores terminavam o ato e precisavam trocar de camisa, porque estavam todos molhados de suor. Segui esse caminho, fazendo teleteatro, depois escrevendo novelas. A primeira foi chamada O Ruído do Silêncio.  Os atores vieram do teatro e do rádio, tanto na TV Rádio Clube, quanto na TV Jornal do Commercio, que era chamada gaiola de ouro, porque tudo lá era muito rico, grandes estúdios. Qual foi a primeira TV a ser inaugurada? A TV Rádio Clube. Inaugurou no dia 20 de junho de 1960. Uma semana depois inaugurou a  TV Jornal do Commercio. Bem, um dia resolvi ir embora para o Sul do País. Muita gente tinha ido para o Rio de Janeiro, porque já tinha começado o sistema de videotape, os custos baratearam e na produção local o custo era alto. No Sudeste havia mais oportunidades. Foi na época que foram para lá: José Santa Cruz, Lucio Mauro, Arlete Salles. Mas, por um acaso, encontrei Paulo Pessoa (ex- dono da TV Jornal) que me chamou para trabalhar com ele e me disse: “você vai fazer a viagem por conta da empresa. Vai conhecer nossos representantes do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul e quando voltar, você vai dirigir o departamento de teleteatro”. Isso foi em 1964.  Voltei de São Paulo e fui para a TV Jornal do Commercio, com o segundo salário mais alto da empresa na época. Uma empresa que eu sempre sonhara em trabalhar. Foi uma fase de muitas novelas.  Uma delas,  A Moça do Sobrado Grande, foi um sucesso.  Tanto que ela foi exibida na TV Bandeirantes para todo o País. E depois? Fui chamado para ir para a Bahia, trabalhar na  TV Itapoan. Resolvi ir, porque queria conhecer o mercado e porque a empresa Jornal do Commercio estava para inaugurar lá uma emissora. Quando avisei sobre a proposta recebida, Paulo Pessoa disse: “ótimo, vá para lá. Você vai para conhecer o mercado, porque quando a gente inaugurar a nossa emissora, você vai trabalhar com a gente”.  Fui  trabalhar nos Associados como olheiro. (risos). Mas a TV Itapoan passou muitos anos como única emissora da Bahia.  Quando inaugurou a TV Aratu, com uma programação mais moderna, fornecida pela Globo, os espectadores migraram para TV Aratu. A audiência dos Associados caiu. Vi que não dava para mim: primeiro porque não conseguia brigar com uma audiência dessa, segundo era uma programação global, terceiro os programas dos Associados estavam meio cansativos, não havia renovação. Nesse período, a empresa  Jornal do Commercio que ia inaugurar uma emissora lá, começou o processo de falência. Eles não acompanharam a evolução de tecnologia. Compraram todo equipamento em preto e branco e de repente começou a surgir o sistema colorido e todo equipamento foi perdido. Além da Bahia, Paulo Pessoa também pensou em comprar a TV Rio e começou a levar o dinheiro daqui para

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Na política há os idealistas e os carreiristas

Entrevista a Cláudia santos e Rafael Dantas   Advogado fala sobre sua atuação na ditadura e à frente da Comissão da Verdade Ele foi personagem ativo da política brasileira nos últimos 60 anos. Nesta conversa com a Algomais, o advogado Fernando Coelho conta como foi sua trajetória na luta pelas liberdades democráticas.   Como o senhor chegou ao Recife? Sou paraibano, de Campina Grande, meu pai era funcionário federal. Quando eu tinha 6 anos, ele foi transferido para Minas Gerais. De lá veio para o Recife. Hoje tenho título de cidadão pernambucano, eu praticamente me criei aqui. Estudei no Colégio Nóbrega e na Faculdade de Direito. Tive a satisfação de ser eleito deputado federal por Pernambuco, sendo o mais votado em seis zonas do Recife e na  RMR. E fui ainda candidato a vice-governador. Por que a política o atraiu? Sempre acompanhei com interesse a política desde menino. Ainda como secundarista, participava do grêmio do Grupo João Barbalho. Na universidade, fui eleito vice-presidente nacional da UNE, em 1953. Eu mesmo não me considero político. Como foi a entrada no legislativo? Quando saí da faculdade, participei da política fazendo advocacia eleitoral. Era delegado do Partido Socialista Brasileiro no cartório eleitoral. Trabalhei na prefeitura de Pelópidas Silveira. Quando ele saiu, Arraes pediu para que eu continuasse na prefeitura, mas em outro cargo. Fui presidente do Ipsep (Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco), aos 28 anos. Quando houve o golpe, saí com todos do governo de Arraes. Como viveu o dia do golpe? O dia do golpe era dia de pagamento das pensões no Ipsep. Duas mil pessoas, geralmente idosas,  iam receber a pensão no instituto. Muitas vezes, sem ter a passagem de volta.  Passei a véspera do golpe resolvendo problemas de requalificação de algumas pessoas. Às 23h, saí do instituto para Boa Viagem, onde morava. Estava até cochilando no carro quando, ao passar por trás do Teatro Santa Isabel, vi que a ponte estava cheia de motocicletas, obstando a passagem. O motorista deu a volta e seguiu pelo Palácio da Justiça e Rua do Imperador. Aí olhei o Palácio do Governo com as luzes todas acesas. Pedi ao motorista que retornasse. Precisava saber o que estava havendo. Estava acontecendo uma reunião. As notícias do palácio era de uma sublevação em Minas, mas que estava sob controle.  Tínhamos notícias contraditórias. As oficiais eram de que o governo estava sob controle. Fui de carona para casa com Egídio Lima, deputado estadual que morava perto de minha casa. No caminho, uma surpresa: defronte aos armazéns do Cais José Estelita, passou um tanque de guerra. O carro de Egídio era um fusquinha. Se ele não tivesse tirado o carro da frente com a maior rapidez, e entrado num acostamento, o tanque tinha passado por cima. Ao chegar na ponte, tinha um tanque olhando para cá e na outra cabeceira outro virado para o outro lado. O trânsito estava passando, mas eles tinham tomado a ponte. Já no Ipsep, pela manhã, de vez em quando, eu colocava a cabeça pela janela para ver o movimento na Rua do Sol. Muitos soldados passando para o Palácio das Princesas. Chegou um diretor e disse: “deu no rádio, Arraes foi deposto e Paulo Guerra assumiu”. Não era verdade, isso só aconteceu no fim da tarde. Mas eles (os militares) tinham tomado as rádios e a partir nas 9h passaram a dar com frequência um noticiário falso, que desmobilizava o nosso pessoal do interior. Ao cumprir meus compromissos fui para o palácio, mas não pude entrar. Como foi sua vida depois do golpe? Eu era advogado, funcionário do Estado e assumi o meu lugar. Não pude sair para o exterior, por causa da família e por não ser rico. Tinha um filho pequeno e a esposa esperava outro. Deixaria a família com quem? Segui advogando. Entrei com 30 ou 40 mandados de segurança para reintegrar ao serviço público pessoas que foram demitidas sem processo administrativo com direito a defesa. Como o senhor retornou à política? Houve uma discussão com pessoas amigas, que tinham preocupações semelhantes, sobre o que poderíamos fazer. Achávamos a luta armada errada do ponto de vista estratégico. Seríamos amadores desarmados lutando contra pessoas profissionais armadas. Sabíamos já que o golpe fora dado por brasileiros, mas com auxílio internacional, por conta da Guerra Fria. Todos os países onde os governos eram independentes, mesmo sem serem comunistas, contrariando interesses norte-americanos, foram derrubados, como no caso do Brasil. Uma reação só no Brasil não ganharia e não seria mantida. A classe média estava muito dividida. O operariado menos dividido, mas a repressão foi muito violenta. Aqui em Pernambuco o sistema de repressão vinha do Estado Novo, praticamente não houve descontinuidade. Veio Arraes, mas depois,num tempo curtíssimo, veio o golpe. As estruturas da repressão continuaram. Quando o Exército começou a reprimir, a repressão aqui não teve o que aprender, já sabia tudo. Optamos pela oposição institucional, fui fundador da primeira direção do MDB. Mas fazer oposição era uma insanidade com nenhuma oportunidade de ganhar. Por que a classe média estava dividida? Porque havia propaganda massiva afirmando que aqui havia subversão. Saiu matéria n’ O Globo com foto dos bacamarteiros de Caruaru, dizendo que eram uma milícia privada armada de Arraes para derrubar o governo, que dissolveriam o Exército regular e criariam uma milícia civil, como Cuba. Os bacamarteiros eram a prova que as pessoas estavam treinando (risos). Como foi ser deputado do MDB? Não queria ser candidato. Na época, eu era candidato a presidente da OAB-PE quando veio a eleição e me indicaram. Eu tinha um certo respeito, era professor de faculdade e eles insistiram para que eu fosse candidato. Mas tinha uma experiência política pelo trabalho do Ipsep. No Governo de Arraes, fui escolhido como secretário do ano. Mudei o quadro da instituição, Arraes me deu todo apoio e isso repercutiu. Recebi muita carta de viúva dizendo que votaria em minha candidatura. Em 1974, fui eleito deputado pela primeira vez. Nessa eleição eles achavam impossível que a

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É bom conhecer outras formas de ver o mundo

Entrevista a Camila Moura e Rafael Dantas   Embaixadora de Bangladesh fala da carreira e da experiência de vivenciar outras culturas Única pernambucana a ocupar o cargo de embaixadora, Wanja Campos, foi morar em Brasília quando ainda era criança, mas os laços com a terra natal nunca desapareceram. Desde que foi aprovada no concurso do Instituto Rio Branco, já passou por 10 países. A mudança mais recente ocorreu, em 2013, quando assumiu, em Bangladesh, o tão almejado posto de chefia das missões diplomáticas. De passagem no Recife, falou a Algomais, fez um balanço de sua carreira e revelou as curiosidades dos bastidores da vida dedicada à diplomacia. Qual sua relação com o Recife? Minhas origens são recifenses. Nasci no Recife e as recordações daqui estão presentes na minha memória. As minhas primeiras lembranças de infância são da casa da minha avó, no Espinheiro, com quintal, mangueira, carambola, pular cerca para brincar na casa dos vizinhos. Como foi a mudança para Brasília? Meu pai era engenheiro e, em 1963, logo no início de Brasília, quando começaram a importar profissionais para construir a cidade, meu pai foi para lá. Eu era pequenininha, deveria ter uns 4 anos. Então, toda a minha vida escolar foi em Brasília. Você manteve contato com Pernambuco? Todos os anos, eu, meus pais e meus irmãos passávamos as férias aqui. Conheci as melhores praias daqui, numa época, em que só havia casas de pescadores. Apesar, de termos ido morar em Brasília, sempre mantivemos os laços. Você também teve referências do Sertão na infância? Minha mãe é de Triunfo e meu pai, do interior da Paraíba. Naquela época, quando vínhamos de Brasília, muitas vezes, fazíamos a viagem de carro para que pudéssemos ir para o interior. Conheci o Sertão inteiro quando ainda era criança. Fui conhecendo o Brasil. Talvez, por isso, eu tenha tomado gosto em sair pelo mundo. Há referência do cangaço na sua família? O meu avô paterno, Chico Pinheiro, foi um cangaceiro paraibano e, com minha avó, Jarda, participou de muitas lutas e foi, por diversas vezes, perseguido, até ser assassinado. Minha avó, com medo que os filhos pudessem entrar numa vida de vingança, criou meu pai e meus tios de uma forma muito pacífica. Mas o cangaço sempre foi uma realidade muito presente nas nossas vidas. Temos uma visão distinta das pessoas das outras partes dos Brasil, que enxergam de uma maneira folclórica, sem entender as raízes e o que leva uma pessoa do bem, como era meu avô, a uma vida de fuga, de luta. Como surgiu o interesse pela carreira diplomática? Acho que a mosca me mordeu nessas viagens que fazia pelo Nordeste quando era criança. Da oportunidade de conhecer culturas diferentes e ter a sensação de descobrir algo novo. Na minha adolescência fiz intercâmbio para os Estados Unidos. Na época, eu achava que queria ser arquiteta, mas, quando eu voltei de viagem, decidi que queria fazer relações internacionais. Eram os primeiros cursos de nível superior na Universidade de Brasília. Fiz o curso, no entanto, ainda não pensava em diplomacia. Quando me formei, continuei estudando direito e comecei a ver que os principais postos com os quais eu imaginava que era trabalhar com relações internacionais estavam ocupados justamente por diplomatas. Então, fiz o concurso público para o Instituto Rio Branco e passei. Desde então, já são mais de 30 anos. Como foram os primeiros passos da carreira diplomática? Não é uma vida glamourosa, como as pessoas pensam. As mudanças exigem capacidade de adaptação trmenda. Os filhos e cônjuges sofrem com isso. O lado profissional para o diplomata é também uma estrada longa e que exige muita dedicação. Dizemos que estamos disponíveis 7 dias por semana, 365 dias por ano e 24 horas por dia. Não importa onde você esteja, se precisam, seja por causa de uma tragédia ou por simples fatos que acontecem em Bangladesh, onde estou agora, você precisa comparecer. Por exemplo, muitas vezes, os brasileiros chegam ao aeroporto e são informados que precisam de visto. Então, eles nos ligam de madrugada. Logo, é necessário você ter a noção que presta um serviço público, que exige um nível mais elaborado de preparo e atualização constante. E assim é a nossa carreira, a qual tem seis estágios: terceiro secretário, segundo secretário, primeiro, conselheiro, ministro e o último ponto embaixador. É uma longa carreira de sacrifício, mas da qual eu não me arrependo nenhum minuto. Mas há também o lado positivo? Sim, claro. Eu acho fascinante a possibilidade de morar em outro lugar e vivenciar o dia a dia. O que mais me encanta é a possibilidade de você conhecer e perceber outras formas de ver o mundo. Em Bangladesh, por exemplo, eu tenho aproveitado para conhecer os países da região. Fui a Myanmar. Viajei só e contratei uma guia. Conversando, ela me perguntou qual o dia eu tinha nascido. Respondi, mas, na verdade, ela queria saber o dia exato da semana. Lá, isso é tão importante que o dia da semana é incorporado ao nome próprio. Em Myanmar, o calendário da semana tem 8 dias e toda lua cheia é feriado! Isso para mim foi a coisa mais fascinante que eu ouvi nos últimos 30 anos. Então, você é obrigado a pensar de forma diferente. Quais os países onde morou? Logo após a formatura no Instituto Rio Branco, fazemos um estágio em alguma embaixada, normalmente, na América do Sul. O meu foi na Bolívia. Em seguida, fui para a Austrália, onde fiquei quase 6 meses. Depois, minha primeira missão permanente foi no Suriname, onde ocupei o posto de terceira secretária por mais de dois anos. Na sequência fui para Paris, Argel, Roma, Cidade do Cabo, Washington e Toronto e de lá fui para Bangladesh, em 2013. Em alguns momentos, também voltei para Brasília. Como fica a família nessa rotina? Atualmente, a minha família está completamente pulverizada mundo afora (risos). Meu marido também é diplomata e está em Brasília, em outra função. Temos duas filhas. Uma ficou em Toronto, no Canadá, porque quando

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