Geraldo Eugenio, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Geraldo Eugenio

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Moacir Santos, o ouro negro do Brasil

*Por Geraldo Eugênio Em um sertão onde Lampião e Padre Cícero se destacaram como as figuras emblemáticas nas primeiras três décadas do século passado, marcando a história religiosa e de tensões e arranjos sociais típicos de uma região distante e esquecida, um movimento emergia na forma de música. O tradicional baião, tendo como instrumentos principais a sanfona, o zabumba, o triângulo e o pandeiro, se fazia ouvir, saía da roça e conquistava o grande público. Neste ambiente assustador e mágico, no distante município de Exu nascia em 1912, Luiz Gonzaga, filho de Januário e Anna, que ao longo do tempo se consolidou como o maior de todos os artistas nordestinos. Mudando-se para o Rio de Janeiro em 1939, conseguiu, ao longo dos próximos 20 anos, levar o baião aos salões e torná-lo um estilo de caráter nacional. Não é à toa que ganhou a alcunha de Rei do Baião. Nessa região de Gonzaga e da veia artística de dezenas de repentista do Pajeú e da Paraíba, merece uma atenção diferenciada o cultivo da música por meio dos trios, quartetos ou de bandas filarmônicas e orfeônicas, com isso tornando este sertão distante, um celeiro de grandes compositores, cantores e instrumentistas. Destaca-se a influência da Igreja Católica que em muitas dioceses foi responsável pela gestão dos corais e das bandas filarmônicas. Um gênio brota do improvável A partir de uma camerata ocorrida na UFRPE-UAST (Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada), em maio de 2025, como parte de um circuito cultural que germinou a partir de um evento com a Orquestra Sinfônica do Instituto Federal do Sertão, campus de Petrolina, a escola e os empresários de Serra Talhada se decidiram por encampar uma agenda de divulgação da música clássica e regional para o ano de 2025. Nascido em 2026, em Flores, Pernambuco, filho de família humilde, preto e logo cedo órfão, surge um personagem que merece ser mais bem conhecido: Moacir Santos. O evento em sua homenagem foi conduzido pelo maestro Cacá Malaquias, músico e professor residente na cidade de Carnaíba, Sertão do Pajeú, acompanhado de quatro companheiros. Um especialista em rabeca, um saxofonista, um trompetista, um zabumbeiro e um tocador de triângulo. Neste programa Cacá de Malaquias educou a todos sobre a trajetória deste compositor que dominava instrumentos como o mandolim, saxofone, banjo e violão. Ainda adolescente se tornou membro e depois maestro da Banda da Polícia do Estado da Paraíba e fez parte de grupos musicais mambembes de circos que circulavam no interior do Nordeste. Destacando-se sempre, chegou ao Rio de Janeiro na década nos anos 1950 conquistando um espaço privilegiado em um momento que o Brasil passava por uma revolução musical sem precedentes, com a Bossa Nova se tornando um ritmo de alcance e respeito mundial. Não é a toa que foram companheiros de Moacir Santos artistas do naipe de Sérgio Mendes, Nara Leão, Roberto Menescal, Linda Laurence, entre outros, além de ter como aluno um compositor que marcou época como Baden Powell. Somente essa façanha já o colocaria em um patamar a ser respeitado pela coragem, ineditismo, autodidatismo e brilho. Por estudar jazz e o repertório das grandes bandas típicas da época foi convidado a Hollywood participar como músico e compositor em alguns arranjos para filmes americanos. Conforme bem colocado por Cacá Malaquias, Moacir Santos chegou à conclusão de que na Califórnia havia oportunidade para todos, fossem os músicos mais refinados ou não e que ele se sentia à vontade para tentar fixar-se por lá. Foi bem-sucedido, passando a trabalhar como compositor coadjuvante ou principal em várias trilhas, além de continuar seu esforço como educador, ensinando música até sua morte em 2006, na cidade de Pasadena. Seu legado é fenomenal. A beleza de suas composições e o domínio do jazz, estilo em que se excedeu. O disco Coisas, por exemplo, mostra a maturidade, o domínio e a humildade de um artista que levou o nome de Pernambuco, de sua Flores e de Serra Talhada (onde viveu parte de sua infância e adolescência) ao cenário internacional. Sua história é pouco conhecida e não chegou ao glamour de outros grandes artistas regionais, mas sua obra o coloca em um patamar de qualidade de Luiz Gonzaga. Pernambuco ainda não resgatou a genialidade desse seu filho humilde e igualmente brilhante. Não é fácil cumprir uma trajetória que vai do circo, à banda filarmônica, à Bossa Nova e aos encantos de Hollywood. Isto ele conseguiu sem fanfarras, padrinhos ou invencionices. Graças a personagens como Cacá Malaquias, tem sido possível divulgar quem foi o grande artista e não há como não reconhecer o mérito do empresariado de Serra Talhada, na pessoa do Pio Simplício, e da direção da UFRPE-UAST em deixar claro que a cultura é essencial para um projeto de desenvolvimento de um povo. A arte em busca de espaço Vale notar que a cultura, seja música, dança, literatura, teatro, artesanato, pintura, escultura, além de enaltecer o espírito e lapidar o caráter das pessoas, também pode fazer parte do perfil econômico dos municípios e do Agreste e Sertão de Pernambuco. A trajetória de Moacir Santos e Cacá Malaquias deixa algumas lições. A primeira delas, de quão importante é o apoio que pode ser dado às orquestras filarmônicas e sinfônicas por parte dos gestores municipais; a segunda é que a organização de certames e concursos é algo extremamente importante na identificação de talentos; e uma terceira é que o envolvimento da comunidade, a exemplo dos empresários de Serra Talhada, é de um valor inestimável no cultivo do clássico e das tradições locais. Basta de se pensar somente em grandes shows. Sempre caros e com efetividade duvidosa. Há uma efervescência por parte da juventude regional que merece ser levada em consideração e realçada. Afinal, quantos artistas da qualidade de Luiz Gonzaga e Moacir Santos não estariam em busca de oportunidade?

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Embrapa, uma ideia magistral

*Por Geraldo Eugênio A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), oficialmente completou 50 anos em 2023. Há de se reconhecer, inicialmente, que junto com a Fiocruz, a Embraer e a Petrobras, a Embrapa constitui-se entre as mais prestigiadas e reconhecidas instituições do governo brasileiro, aqui e no exterior. Surgiu em um momento crítico da história do País que se defrontava com um endividamento crítico após o "milagre brasileiro". Na primeira metade da década de 1970, o mundo testemunhava as consequências da Guerra do Yom Kippur (a quarta das guerras árabe-israelenses) com a formação da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), quando o preço do barril do petróleo cru saltou de US$ 4 para US$ 40. Para o Brasil isto representava uma catástrofe. Dependente da compra de gasolina e diesel do exterior, atingiu um estágio falimentar. Por outro lado, a acelerada urbanização e a industrialização em algumas regiões metropolitanas demandavam alimentos para uma massa numerosa de trabalhadores, o que também não havia. A agricultura nacional ainda era centrada em produtos como o café e o açúcar, que representavam mais da metade do mercado exportador, mas débil na produção de gêneros alimentícios o que fazia do País um costumaz freguês no mercado internacional de alimentos, incapaz de alimentar sua população e expondo o Brasil como um caso grave de insegurança alimentar.  O diagnóstico de alguns pensadores econômicos, entre os quais o engenheiro agrônomo Eliseu Roberto de Andrade Alves, de que a principal limitação da agricultura brasileira era de base tecnológica, parecia surpreendente para alguns, mas sua hipótese prevaleceu no Governo Federal liderado pelo então presidente Emílio Médici. Ele concordou com seu ministro da Agricultura, o gaúcho Luiz Fernando Cirne Lima, em criar um grupo de trabalho para redesenhar a pesquisa agropecuária do País. Daí, surgiu a ideia de contar com um novo arranjo institucional, uma empresa pública de direito privado, que contasse com maior flexibilidade de gestão, uma nova dinâmica de formação de seus quadros e com amplitude em todo o País. A Empresa herdou parte da estrutura existente do DNPEA (Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária do Ministério da Agricultura), com autonomia para proceder a escolha de uma nova equipe. Centenas de jovens foram contratados, enviados para programas de pós-graduação em universidades brasileiras e estrangeiras, o que demonstra como se deu a gênese dessa nova entidade, o que coincide com um momento de inflexão na agricultura brasileira.  Dentre os novos centros de pesquisas, a decisão técnica e política pela instalação do CPATSA  (Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido), atual  Embrapa Semiárido, em Petrolina, foi uma iniciativa singular para o semiárido brasileiro, para Pernambuco e para a região semiárida do Brasil que passou a contar com uma das unidades mais estratégicas e emblemáticas de seu conjunto de mais de 40 ambientes de pesquisa e difusão tecnológica. Nesse momento, a Embrapa Semiárido comemora seu cinquentenário com todos que fazem essa empresa, Pernambuco e o Nordeste, participando desta conquista. CONTRIBUIÇÕES PARA O SEMIÁRIDO A história da Embrapa normalmente é associada à transformação do Cerrado, uma vitória de tal monta que alterou a geopolítica da segurança alimentar em todo mundo. O Brasil, antes um cliente obrigatório do mercado de alimentos, tornou-se o terceiro mais importante parceiro comercial em commodities agrícolas. Hoje, dezenas de países contam com as safras brasileiras crescentes para assegurar o abastecimento de produtos como carnes de frango e bovina, milho, grão e farelo de soja, açúcar, café, suco de laranja, melão, manga e uva, por exemplo. Esse caminho, em se tratando da região semiárida, tem a impressão digital da Embrapa Semiárido na criação de uma base técnica para agricultura irrigada em condições tropicais e em tornar o submédio São Francisco um dos centros produtores de frutas irrigadas mais importantes do planeta. São centenas de empresas, milhares de empregos e uma fração substancial da exportação nacional de frutas que caracteriza a fruticultura regional. Não é exagero dizer que a tecnologia empregada condiz com o que de mais moderno se encontra em regiões irrigadas da Espanha, Israel ou Estados Unidos. Foram batalhas difíceis de superação, contando com o reconhecido esforço de empresários locais, de outros estados e do estrangeiro que para lá foram atraídos e de um grande número de entidades técnicas e de fomento, destacando-se a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) e a Embrapa Semiárido. Importante não esquecer que a Embrapa Semiárido contou, durante mais de uma década, com a Unidade de Execução de Pesquisa de Solos, no Recife, atualmente vinculada a Embrapa Solos, com um conjunto de colaboradores dedicados a estudos de pedologia, zoneamento agroclimático e modelagem ambiental. Esse time realizou o Zoneamento Agroecológico do Nordeste e presenteou ao Estado de Pernambuco, na virada do Século 20 para o Século 21, com o zoneamento pedológico (do solo) de todo território do Estado na escala de 1:100.000, um fato inédito e o primeiro a contar com um instrumento dessa magnitude entre todas as unidades da Federação. PRÓXIMOS PASSOS A questão que fica é severa. E para o semiárido que não se encontra próximo aos rios São Francisco e Parnaíba, qual foi a contribuição? Essa questão remete a uma forte discussão de caráter estratégico que é o objetivo da Embrapa Semiárido: apoiar a agricultura irrigada ou a de sequeiro? Em primeiro lugar, é importante chamar a atenção para contribuições isoladas ou em parceria com universidades, associação de produtores, instituições de pesquisa no desenvolvimento de tecnologias voltadas ao aproveitamento das águas pluviais e o aproveitamento de águas salobras, de manejo da Caatinga, da introdução de espécies forrageira como a leucena, a gliricídia, os sistemas consorciados, o monitoramento das alterações do bioma e do clima, o manejo do gado em condições de secas  e, em especial, inserir a agropecuária regional na quadro de controle das demandas estratégicas para a nação. Há muito o que ser feito e a Embrapa Semiárido, as demais unidades da Embrapa no Nordeste, a exemplo: da Embrapa Cocais, em São Luiz; da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza; da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral; da Embrapa Meio

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A BR-232 e o novo traçado das cidades

*Por Geraldo Eugênio A rodovia como está Há três meses esta coluna chamou a atenção de quão inadiável é a duplicação da rodovia BR-232. Vamos tratar do trecho no qual me desloco com mais intensidade, entre Serra Talhada e o Recife. São 410 km em que se pode dividir em três intervalos distintos. O primeiro, entre Serra Talhada e Arcoverde, com uma distância de 160 km, normalmente é feito em duas horas de direção, trânsito moderado. O segundo, entre Arcoverde e São Caetano, com 105 km, que exige entre uma hora e quarenta minutos e duas horas, e por último de São Caetano ao Recife, com 150 km, ao redor de duas horas, somando quase seis horas em dias que não haja intercorrências nesse trecho. Teoricamente a distância a uma velocidade média de 80 km horários necessitaria, tão somente, quatro horas. Trocando em miúdos: há uma perda de tempo fora do padrão, principalmente no segundo trecho, cuja velocidade média é de 50 km horários. A segunda questão é o traçado. São longos os percursos retos o que demonstra o acerto no traçado, incluindo o trecho entre Salgueiro e Parnamirim, pouco mencionado nas discussões sobre o assunto. A preocupação começa quando se examina o papel das cidades de grande porte, a exemplo de Caruaru, e as de porte médio que se distribuem pela rodovia, a exemplo de Gravatá, Bezerros, Belo Jardim, Pesqueira, Arcoverde Custódia, Serra Talhada e Salgueiro. Intervenções inadiáveis Há de se supor que o projeto contratado pelo governo estadual contemple a discussão em referência. A duplicação entre São Caetano e Salgueiro não significa um orçamento de 350 km de rodovia, mas de obras que certamente duplicarão o valor da construção da rodovia. Importante que se coloque na planilha a inviabilidade do traçado atual da rodovia tomada pela área urbana dos municípios citados. No caso de Custódia, Arcoverde, Pesqueira, Belo Jardim sempre há congestionamentos e dificuldades de manobra para entrar ou sair da rodovia. Em Serra Talhada, o que tem atenuado a situação é o viaduto existente entre as avenidas Afonso Magalhães e Triunfo, senão a situação seria a mesma das demais. Viadutos ou rotatórias? Seria o caso de as administrações municipais e estadual e os empresários planejarem o que se pretende da rodovia duplicada. Certamente a maioria dos gestores e o comércio – que ao longo do tempo se desenvolveu ladeando a rodovia e tornando-a nos municípios citados uma avenida – não querem tocar no assunto. Todos alegarão prejuízos irrecuperáveis em se contar com um novo traçado, entretanto não há como se tentar fugir da questão e imaginar que, na maioria dos casos, não serão um ou dois viadutos ou rotatórias que resolverão a lentidão do tráfego, mas cinturões viários deslocando o traçado – principalmente dos maiores veículos – das aglomerações urbanas. O trecho duplicado entre o Recife e São Caetano merece ser tratado como exemplo. O município que mais benefícios colheu com a duplicação foi Vitória de Santo Antão. No início, deslocar a rodovia para a região de Natuba era decretar o fim da cidade, hoje se nota que foi a redenção do município, que atraiu um parque industrial diferenciado, deixando de ser apenas a terra da cachaça Pitú. A cidade foi se deslocando para o Sul e hoje se aproxima do novo traçado da rodovia. Obviamente não se pode pensar em investir alguns bilhões de reais na requalificação desta rodovia atendendo a questões de natureza pessoal ou local. Logo, é de se esperar que qualquer negociação que busque recursos públicos ou privados passará por se debruçar no que tal investimento trará de benefício para os municípios e para o Estado, uma vez que além das cidades localizadas diretamente na rodovia, todos os municípios do Agreste e do Sertão serão beneficiados com a obra. Imagina-se que cadeias produtivas exportadoras ou que aspiram a participar do comércio exterior, como a fruticultura irrigada e a avicultura, podem prestar uma boa contribuição à discussão, bem como o Complexo Industrial Portuário de Suape, uma vez que até que a ferrovia Transnordestina possa ser concluída, a BR-232 é a principal via de escoamento de carga do porto para o interior do Nordeste. A alternativa aos viadutos e rotatórias seriam os elevados, mas não se imagina que haja disponibilidade de recursos para se investir em algumas dezenas de quilômetros de rodovia suspensa, mesmo em situações de maior densidade populacional. O fato é que essa discussão pode ser antecipada de modo a evitar que o projeto em elaboração, ao tentar ser executado, seja objeto de modificações que o tornem obsoleto antes do início das obras. Que se garanta o orçamento para a obra Por último, mas não menos importante, é saber de onde se contará com os recursos para a execução desta duplicação. No orçamento da União ou no Novo PAC ele ainda não se encontra nem o Governo de Pernambuco contará com recursos da privatização de uma outra estatal tal qual a Celpe. Esse é um esforço que exigirá a aliança entre todos os estamentos de governo, empresariais e forças políticas. Até o momento não tem sido notada esta coesão, o que será necessário, uma vez que há em paralelo a demanda pela ligação ferroviária entre o Porto de Suape e o município de Salgueiro, negligenciado ao ponto de vê-la ser sacada, em dezembro de 2022, do projeto da ferrovia. Um outro aspecto determinante é que não haja procrastinação desta obra. Neste instante, Pernambuco não pode aceitar um programa de execução seccionado em pequenos trechos, o que poderia levar entre uma e duas décadas para sua conclusão. Vale deixar claro que estados vizinhos estão direcionando esforços na duplicação de seus principais eixos rodoviários, sejam com recursos próprios ou federais. Há uma corrida e uma aposta no futuro. Desde o bem-estar da população à atração de novas empresas para os municípios do interior. Para Pernambuco não há opção sob o risco de ver a concorrência erodir suas vantagens competitivas a exemplo do estratégico porto de Suape.

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Vista aérea diurna da BR 232 - em Pernambuco, com dezenas de carros

A BR-232 e o futuro econômico de Pernambuco

Dentre vários condicionantes, o desenvolvimento regional assenta-se sobre duas propostas: educação e logística. Em se tratando do primeiro tema, vários documentos, matérias e crônicas têm registrado a importância ímpar da expansão do ensino técnico e superior ocorrido a partir de 2004, quando dezenas de universidades, mais de 100 campi foram abertos no interior do Brasil, destacando-se a região Nordeste. No caso de Pernambuco a presença dos institutos e universidades federais, somando-se à interiorização da UPE (Universidade de Pernambuco) e seguindo-se das escolas e faculdades privadas, permitiu que a juventude que mora fora da região metropolitana tivesse acesso ao ensino superior. Há alguns desafios a serem pontuados em uma outra oportunidade. Debruçando-se um pouco sobre o mapa de Pernambuco, há de se considerar que um grupo de grandes e médios municípios se encontram à sua margem, iniciando-se pelo Recife, Moreno, Vitória de Santo Antão, Pombos, Gravatá, Bezerros, Caruaru, São Caetano, Tacaimbó, Belo Jardim, Sanharó, Pesqueira, Arcoverde, Custódia, Serra Talhada, Salgueiro e Parnamirim. Este traçado, desde o início do Século 19, conforme é tão bem documentado pelo engenheiro Maurício Pina em seu livro BR-232 – Um Caminho de Engenharia e História, representa a rota preferencial entre o leste-oeste do Estado. Também não é difícil verificar que nesta relação encontram-se várias cidades com população superior a 80 mil habitantes e que representam polos dinâmicos da economia regional, destacando-se a capital, Vitória de Santo Antão, Gravatá, Caruaru, Belo Jardim, Pesqueira, Arcoverde, Serra Talhada e Salgueiro. O surpreendente é ver que são poucas as lideranças que têm levantado de forma sistemática e consistente a urgência da duplicação desta rodovia como condição sine qua non para o desenvolvimento pernambucano. Para a maioria dos gestores das instituições públicas, normalmente sediadas no Recife, há de se considerar que não tenham a real dimensão do que representa o Estado e por isso facilmente se veem envolvidos em outras questões que, apesar de importantes, não se assemelham a essa. Entretanto, em se tratando de gestores municipais e das bancadas estaduais e federais, é algo pouco compreensível. Será que essas lideranças não trafegam nessa rodovia? Considerando que os aeroportos do interior estão instalados em Caruaru, Serra Talhada, Araripina e Petrolina, é quase certo que venham ao Recife ou tenham que ir a Brasília quase todas as semanas. Em dias normais, o tráfego para quem se desloca pelo Sertão é congestionado em vários trechos, tornando-se um exercício de paciência entre Arcoverde e São Caetano, quando se encontra o segmento duplicado da rodovia. Neste sentido é incompreensível não haver um movimento arco-íris, congregando as lideranças, independente de partidos ou ideologia para lutar por esta causa. GOVERNAR É ELEGER PRIORIDADES, FUNDAMENTALMENTE Nos últimos meses voltou à discussão a duplicação da rodovia no trecho entre São Caetano e Serra Talhada, havendo o governo estadual destinando algo ao redor de R$ 50 milhões para o projeto técnico. Lembrando que, no governo anterior, havia sido aberta a licitação visando o projeto entre São Caetano e Custódia, não saindo do ponto inicial, ao que consta. Aguarda-se pela apresentação do projeto para que se possam iniciar as negociações com o Governo Federal, que mantém a jurisdição sobre a estrada, de forma a que se destine os recursos para a obra em si. Apesar dos anúncios, fogos, rojões e outdoors, o fato é que essa é uma tarefa que exigirá foco, esforço e meios. Colocar o projeto na pasta e partir para Brasília faz parte do manual, mas seria importante contar com os deputados e senadores de Pernambuco abraçando a ideia e destinando ao menos as emendas de bancada de um ano como contrapartida coletiva à obra, o mesmo podendo se esperar dos gestores das cidades diretamente ligadas ao seu traçado. DA HIPÓTESE AO FATO A obra de Maurício Pina é rica em detalhes e comenta o esforço de um número expressivo de políticos e engenheiros pernambucanos e até do exterior que esteve envolvido no planejamento, construção e financiamento dessa obra, destacando alguns como o engenheiro Abdias de Carvalho que, com toda a justiça, empresta seu nome à avenida pela qual se inicia a rodovia no Recife, passando por governantes como Nilo Coelho e Jarbas Vasconcelos. A decisão do governador Jarbas em destinar parte substancial da privatização da Celpe para duplicar o trecho da BR-232, compreendido entre o Recife e São Caetano, foi a mais importante decisão estratégica tomada por um governante de Pernambuco nos últimos 30 anos. Pois bem, que todos estejam juntos em um movimento que transforme a hipótese em fato e que se estabeleça um plano de médio prazo que vise à ligação Recife-Araripina e Recife-Petrolina com estradas duplicadas, com anéis viários, onde se fizerem necessários, e as obras complementares de pontes, viadutos e vias paralelas, demandadas. Aguarda-se também a conclusão da ferrovia Transnordestina. Uma outra luta não menos árdua, mas que fica para outra hora. No momento, que se trabalhe na duplicação do que existe e está em uso permanente, a BR-232. *Por Geraldo Eugênio, professor da UFRPE em Serra Talhada

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A interiorização da educação superior e o impacto sobre a economia sertaneja

*Por Geraldo Eugênio A expansão do ensino médio e superior para o interior do País aconteceu em 2004 no primeiro mandato do presidente Lula e é um movimento digno de admiração. Em todo o País foram abertas 14 universidades federais, mais de 120 campi, e centenas de campi dos institutos federais que passaram a oferecer ensino de nível médio e superior. Raros são os países que em pouco mais de uma década ampliaram a oferta de vagas à sua juventude, como o Brasil. A interiorização da educação superior, porém, foi questionada por alguns. Vamos então analisar cada uma das críticas: 1 - Estudantes do interior não seriam tecnicamente preparados para ingressarem em uma universidade. Com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ocorreu uma mudança no acesso à universidade. Apesar dos alunos que ingressavam estarem mais qualificados, por terem obtido melhores notas, o diferencial é a motivação. Para a maioria dos jovens do interior entrar numa universidade pública era o sonho que os pais e toda a família alcançaram através dele. Na metade do curso os estudantes do interior das áreas agrárias, em particular, estão tão bem ou mais bem qualificados do que os jovens da capital. Há também exemplos edificantes do desempenho de jovens médicos quando expostos à seleção para residentes em escolas e hospitais exigentes. 2 - Haveria uma superoferta de profissionais formados não passíveis de absorção pelo mercado. O fato é que com a economia dos municípios do interior, mesmo os mais longínquos, estando aquecida, a demanda por pessoas qualificadas aumentou e o aproveitamento dos egressos em áreas como comércio, administração, economia, contabilidade, sistemas de informação tem permitido dizer que a procura seja superior à oferta. As escolas têm feito a sua parte em incentivar a aproximação entre a academia e os empresários e, de forma especial, a inserção do jovem na empresa como estagiário, trainee ou bolsista. 3 - Faltaria qualificação técnica às novas escolas, uma vez que a região não contava com professores pós-graduados e os formados em grandes centros não estariam dispostos a ocupar as vagas abertas. Os investimentos em treinamento de jovens pesquisadores e professores foi intenso nas últimas décadas, permitindo o preenchimento das vagas em qualquer modalidade por profissionais qualificados. Apesar da taxa de fixação ainda ser menor do que se espera, centenas de jovens professores têm o semiárido como sua opção de vida afetiva, profissional e familiar. 4 - A infraestrutura das cidades não comportaria uma expansão acelerada com o número de colaboradores e alunos que demandariam por habitações, escolas, hospitais, comércio, comunicação, logística. A primeira vez que estive em Serra Talhada foi em 1977. A rodoviária do Recife era no Cais de Santa Rita. A empresa que opera a linha desde então era a Progresso, com seus ônibus Mercedes Benz, com o motor na traseira, emitindo calor e ruído. Ao chegar em Serra, onde não existia terminal rodoviário, o ponto de parada era um bar. A cidade tinha poucas opções de restaurante, de comércio e o telefone era algo tão escasso que aqueles que trabalhavam aqui, mas eram de outras cidades usavam o posto telefônico, que contava com o bom atendimento de duas irmãs sempre amáveis e educadas. O lazer semanal era a missa na igreja matriz seguindo-se dos desfiles das jovens a mostrar a beleza e o que tinham de melhor em termos de moda. Aos jovens ainda não comprometidos cabia sentar-se em uma mesa do Morumbi ou de uma barraca em frente à atual agência do Banco do Brasil e esperar um sinal que lhe autorizasse estabelecer um contato e, em sendo bem-sucedido, iniciar um namoro. Hoje, há um consenso entre o povo de Serra Talhada que a instalação da UFRPE-UAST atraiu novos investimentos em educação, dinamizou o mercado imobiliário, demandou novos serviços, um comércio dinâmico, restaurantes, bares, clínicas, hospitais e, em menos de 20 anos, o que e vê é uma cidade que oferece um padrão de vida que não deixa nada a desejar das grandes cidades ou da capital. Com a expansão das escolas, universidades e institutos praticamente consolidada, surge um problema positivo que é a inserção dos egressos no mercado de trabalho. O desafio é cultivar a esperança de jovens que chegaram à universidade, que agora necessitam do suporte de agentes bancários, instituições de fomento, associações de classe e da própria escola para torná-los jovens empresários e empreendedores capazes de acelerar o desenvolvimento regional. O fato é que a educação faz e fará de modo ainda mais intenso a diferença entre o que significa uma região estagnada e outra próspera. *Geraldo Eugenio é professor titular da UFRPE-UAST (Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada).

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