Gilberto Freyre Neto, um dos fundadores do Iperid, assumiu em maio a Secretaria Executiva de Relações Internacionais do Governo de Pernambuco. Após passar pela Secretaria de Cultura do Estado durante o período mais duro da pandemia da Covid-19, ele teve o desafio de reabrir as pontes institucionais no âmbito da paradiplomacia que ficaram prejudicadas pela crise sanitária. Perto de encerrar a gestão do governador Paulo Câmara, ele conversou com o repórter Rafael Dantas sobre as ações na pasta nesses quase 8 meses. Gilberto Freyre explica que várias secretarias do Governo do Estado já tem relações internacionais como parte do seu trabalho e que a institucionalização de uma secretaria focada nessa pauta tem objetivo de trazer uma dinâmica mais forte entre o poder público estadual e os entes de outros estados ou países. "O fato de termos um executivo responsável por isso é uma ferramenta para melhorar o trato, a dinâmica e o controle no que a gente chama de paradiplomacia. É a relação que não é realizada de país a país, mas entre estados federados e uma região francesa, alemã, portuguesa ou espanhola, por exemplo. A paradiplomacia está no âmbito menor nas relações internacionais. Está na tendência de desenvolver relações no campo de cidade a cidade também, já que pessoas vivem nas cidades. Enquanto as relações entre países são muito abstratas, nesse âmbito local, há uma troca de experiências para construir uma relação ganha-ganha entre dois territórios em escala menor". O secretário destaca que Pernambuco tem uma longa tradição de diplomacia, por sua história e economia, desde os tempos das rotas transnacionais cujo o protagonista era o comércio de açúcar. "Há toda uma trajetória que transformou Pernambuco no que é hoje, um Estado com mais de 40 representanções diplomaticas. Há uma dinamica econômica, social e cultural acontecendo. Pernambuco é o 3º mais importante centro diplomático do Brasil, perde apenas para São Paulo e Brasília. Somos o hub diplomático do Nordeste". Gilberto Freyre explicou que no periodo mais difícil do ciclo da pandemia, o foco da diplomacia foi na área de saúde, com troca de boas práticas e experiências. Nos dois últimos anos, no entanto, a realidade da crise sanitária deixou um tanto mais frágil a atuação na educação e cultura. "Desde que entrei, em maio, 2022, quase 8 meses na pasta, a missão era retomar atividades de diálogo com paises amigos. Retomar dinâmicas paralisadas na pandemia, retomar o papel de reconstrutor de pontes e trocas culturais por meio de projetos cooperados e intercâmbios. Discutimos a reabertura da emissão de vistos de consulados, reabertura dos ciclos de transporte aéreo de passageiros, retomada dos ciclos do turismo". Nesse momento em que o Estado volta a promover seus ciclos culturais tradicionais e as grandes aglomerações, a retomada dessas conexões com outros Estados e países ganha uma importância maior, na análise do secretário. CAMPO PRÁTICO DA PARADIPLOMACIA "Enquanto as relações no campo mais estratégico estão em Brasilia, aqui é uma dinamica mais prática, da vida, tem relação com o nosso ciclo econômico, social, científico, ecológico e ambiental. Assinando memorandos de entendidentos, constituídos para criar interesses entre estados, instituições e municípios, fomentando a promoção do irmanamento entre cidades. Países amigos buscam cidades com referências próprias e dinâmicas que constroem ambientes produtivos e proveitosos para as relações internacionais. Essa é a primeira camada da diplomacia, que antecede a existência de negócios formais, instalações de fábricas aqui ou ali, investimentos estrangeiros e a vinda de empresas de paises amigos". Entre suas últimas missões na pasta, ele está construindo um documento de referência consular em Pernambuco, com informações e contatos estratégicos. "Esse documento é o primeiro exercício do que pode ser um legado de ter um órgão que faça esse papel, dentro da estrutura do Governo. É a tradução de uma demanda especifica no campo dos consulados, um ponto de contato. É uma ferramenta importante em relações diplomáticas e internacionais concreta". IPERID "O Iperid é uma instituição que nasce para transformar em realidade o que está no campo da diplomacia mais estratégica. Formaliza o que está no campo do interesse comum. Muitos projetos que não se transformam em ações econômicas, pois permanecem nos campos muito vastos das relações internacionais, podem se encaixar no campo prático, deixando a filosofia um pouco de lado e se transformando em algo concreto. Mas sem instituições na camada de executabilidade de política, como o Iperid, essas pontes não são construídas", declarou o secretário sobre o Iperid.