Se existe algo que se pretende moderno é o tal do self service. Semana passada, fui a um shopping comprar meias e cuecas. Reconheço que não tenho muita intimidade com shoppings. Perco-me na mesmice dos corredores e nunca sei com certeza onde deixei o carro (ando no estacionamento de um lado para o outro, acionando o alarme, para descobrir meu carro pela buzina e pela piscada das luzes laterais; mas, por duas vezes, achei que nunca mais iria encontrá-lo).
Entrei na primeira loja de confecções masculina que vi. O vendedor pediu que o acompanhasse: “Tamanho G, senhor?” “GG”, corrigi e completei: “Brancas, por favor.” Quando ele disse o preço, dei-me conta de que estava na loja errada. “Tem Zorba ou Hering?” Diante da negativa enfática do vendedor, cai fora da loja ligeirinho. E fui à cata de uma que não fosse de grife.
“Onde eu encontro cueca e meia?”, perguntei ao vigilante porque, na imensa loja de departamentos, não encontrei um único vendedor pra perguntar. “Não sei, senhor. A loja é self service. Tá tudo escrito nas placas” – disse ele apontando pra cima e já se dirigindo para um outro freguês que queria saber onde ficava a gerência.
Fui em frente. E muito à frente as encontrei: cuecas e meias, várias, uma seção ao lado da outra. Tive algumas dúvidas quanto aos produtos. Ninguém para esclarecer. Bati palmas. Nada. Apesar de proibido, abri duas ou três embalagens lacradas para me certificar de alguns detalhes, sentir o tecido com as mãos e a pressão do elástico. Ninguém apareceu para reclamar. Só a câmera de vídeo no teto parecia nervosa, abria e fechava o zoom, eu podia perceber (mas fazia de conta que não via nada).
Dos dez caixas da loja, nenhum era dedicado ao “atendimento preferencial: deficientes, grávidas e idosos”. E apenas três estavam abertos. Vinte e cinco minutos na fila. Cronometrados. Deixei os seis pares de meia e as seis cuecas pra lá, paguei o estacionamento, achei o carro e fui embora.
Não questiono a modernidade e as vantagens do chamado “autoatendimento”. Para o dono da loja, não há dúvida. Meu tempo, para ele, é de graça. O tempo de vendedores e caixas, claro, seria pago.
O sociólogo italiano Domenico De Masi é quem quer saber, curioso: “se tudo virar autoatendimento, de onde virão os salários dos fregueses?”
Boa pergunta.
Boa pergunta (por Joca Souza Leão)
Claudia Santos
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