Borges da Fonseca, um jornalista a serviço da liberdade

Quando a morte mandou os primeiros sinais de que chegaria, Alexandre, o Grande, o homem que conquistara cinco milhões de quilômetros quadrados do planeta, uma considerável parcela do mundo, teria feito três exigências aos seus ministros. A primeira, que seu caixão fosse carregado pelos melhores médicos da época, para mostrar que eles não tinham poder nenhum sobre a morte. A segunda, que os tesouros que conquistara fossem espalhados pelo caminho até seu túmulo, para mostrar que os bens materiais aqui são conquistados e aqui ficam. A terceira, por fim, que suas mãos ficassem fora do caixão, à vista de todos, mostrando que viemos com as mãos vazias e de mãos vazias voltaremos.

Cerca de dois mil anos depois, pouco antes de morrer, em 1872, o revolucionário Borges da Fonseca determinou que no seu velório o caixão fosse posto de pé, na rua, fora da casa, ele com o braço estendido à frente, possibilitando ao povo apertar-lhe a mão.

O que une Alexandre, o Grande e Borges da Fonseca?
A resolução dos seus objetivos pela guerra é resposta plausível, embora contenha sutil diferença. Alexandre lutou para avassalar povos e conquistar tesouros, enquanto Borges da Fonseca lutou para o povo conquistar o tesouro da liberdade, do direito à vida material, intelectual e moral, da soberania.

Nascido na Paraíba e vivido em Pernambuco, Borges da Fonseca fez do jornal sua trincheira. Tanto que fundou 25 periódicos no Recife, no Rio de Janeiro e na Paraíba. O primeiro foi a Gazeta Paraibana, e dois anos depois nasceu o mais famoso, O Repúblico.

Assim, logo o jornalista passou a ter importante atividade política, granjeando a fama de homem de grande liderança e coragem, admirado, temido, ousado, astuto que participou dos acontecimentos que determinaram a abdicação de Pedro I.
Derrubado o imperador, passou a advogar no Recife, onde fincou raízes e teve grande sucesso, bastando dizer que tinha a maior banca da cidade, mesmo sem ser bacharel em direito.

O fascínio da política, no entanto, era irresistível. Apesar de ser uma posição impopular na época, era vigoroso crítico da Guerra do Paraguai, para ele “filha do capricho, da injustiça e da iniquidade “, entendendo que o Brasil deveria estar empenhado, com os Estados Unidos e a Inglaterra, na construção do Canal do Panamá, para assumir a condição de país líder da América do Sul.
O Brasil, raciocinava, antes de mais nada, tinha muito a corrigir, o que só seria possível com a retórica das armas. Naquela quadra da vida brasileira, a Revolução Praieira parecia ser o argumento mais apropriado.

Naquele 2 de fevereiro de 1849, então, tudo transcorria de conformidade com os planos. Naquele dia se avaliava que quando as tropas revolucionárias se encontrassem na confluência do Palácio do Governo, a revolução seria triunfante. O curso da história, contudo, tinha outros planos.

O governador Vieira Tosta mandou uma grande tropa enfrentar os rebeldes. Estes, todavia, a contornaram e atacaram o Recife, em duas colunas. A do norte, com João Roma, João Paes e Nunes Machado, comandada por Manuel de Morais, e a do sul com Pedro Ivo, Lucena e Leandro Cezar, liderada por Borges da Fonseca.

Como já foi dito, naquele dia tudo corria bem, quando chegou a notícia de que o deputado Nunes Machado levara um tiro na cabeça. O desânimo foi profundo. Os praieiros desistiram do ataque e a revolução, na prática, morreu na praia.
Preso, Borges da Fonseca foi arrastado pelas ruas da cidade, em seguida confinado em Fernando de Noronha, e anistiado dois anos depois.

Fica o exemplo de um homem que lutou até o fim da vida por mudanças que garantissem a todos os direitos fundamentais das pessoas, ainda hoje tão vilipendiados.

*Por Marcelo Alcoforado

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