Bunda pra cima, não! (por Joca Souza Leão) – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Bunda pra cima, não! (por Joca Souza Leão)

Taí uma coisa que você nunca vai ouvir um coroa dizendo que os de antigamente eram melhores do que os de hoje: tira-gosto de bar.
Nos anos 50/60, no Bar Savoy – o do poema de Carlos Pena (“são trinta copos de chope, são trinta homens sentados…”) – tira-gosto era ovo cozido (com sal, num pires, pro freguês, após tirar a casca, salgar) e coxinha (enfadada, seca, por vezes dormida). Lembro vagamente de um sanduíche de pernil. Mas, quem tinha coragem? Carne de porco sem refrigeração? O diabo é que comia. Talvez tivesse queijo-prato e presunto em cubinhos, no palito. Não lembro. (Cartas à redação).
Se o local fosse bar e restaurante, havia a chance de sair um filezinho ao palito com fritas (pelo preço do filé servido como refeição) e frango à passarinho.
Caldinho de feijão foi uma grande novidade. (Acho, até, que foi inventado aqui no Recife nos anos ‘60. A pesquisar). Não tinha em todo canto e quando tinha não era todo dia. Só o caldinho. Sem charque, paio, torresmo, nada. Servido em xícara de café pequeno. “Dentro do Recife” – como era chamado o bairro antigamente – uma barraca servia em xicrinha de plástico de casa de boneca; o caldinho ganhou fama, fazia fila na rua, acho que Alfredo Lisboa.
Um dia, Vinte e Oito (que ganhou o apelido porque fora, no passado, o guarda nº 28 do Porto) apareceu com uma novidade no bar Chip Shandler: uma sanduicheira elétrica doméstica. Demorava a esquentar e só fazia um sanduíche por vez. Pão francês e queijo do reino. Sucesso absoluto. E estava inventado o que agora chamam Tostex.
Em boteco de subúrbio e barraca de cachaça, tira-gosto era caju, umbu, cajá, charque crua e passarinha (baço de boi salgado). A gente ia a um restaurante popular e pedia, pra tira-gosto dos quatro que estavam à mesa, uma rabada, depois um sarapatel ou uma dobradinha.
Hoje, o bar é uma festa. Os tira-gostos são servidos em espetos, quando grelhados, e tabuleiros. No tabuleiro do botequim tem: tem casquinho de Dona Margarida, tem; tem coxinha e tem coxão; tem empada de camarão, palmito e queijo do reino; tem pastel, bolinho de bacalhau, quibe e agulha frita, tem… tudo quentinho, feito na hora. Nos espetos, recém-saídos da brasa, tem codorna, tem; tem galeto, tem costela, tem picanha, linguiça de frango, porco e bode… tudo com farofa e vinagrete no capricho. Caldinho? Feijão, camarão, peixe, sururu… até de rabada e cozido, tem.
Olho na balança, freguês, pra não engordar muito, e olho no bolso pra não gastar demais. Que é tudo bom, é. E que é caro, também.
Só tem um porém. O garçom traz a empada ainda na fôrma, quentinha, dourada, com uma cara ótima. Na hora de servir, desenforma com habilidade, segurando a fôrma quente com duas colheres e dando umas batidinhas para soltar. Mas, na hora de servir, serve a empada emborcada. Seria o mesmo, leitor, que servir pizza com o queijo pra baixo.
– Seu garçom, uma empada! Mas, por favor, de cara pra cima e bunda no prato!

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