Bye bye, Brasil (por Joca Souza Leão) - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Bye bye, Brasil (por Joca Souza Leão)

Claudia Santos

Quando minha mãe vinha do Rio e o voo fazia escala em Vitória, a gente já sabia. Na bagagem de mão, chocolates Garoto. Em casa, só chegavam as embalagens vazias.

A Garoto, capixaba, era famosa. Hoje, só existe uma marca de chocolate nacional: Cacau Show. Sabe-se lá até quando.

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Aqui, no Recife, tinha três fábricas: Renda & Priori, Beija-flor e Helvética. Quando fui morar na Inglaterra, Elza, mãe de Roberto Rosa Borges, pediu-me para levar “uma encomendinha”. Chocolates. “Roberto diz que são melhores do que os ingleses.” E deviam ser mesmo. Sem as porcarias químicas que botam em tudo.
O pernambucano Guaraná Fratelli Vita brigava com a Coca-Cola pela liderança do mercado. A laranjada Cliper dava de dez a zero na americana Crush. E os biscoitos e creme craque da Pilar batiam os da Nestlé e da Duchen.

Disco era Rozemblit; sapólio, Sapolux; pente, Jangada; suco de fruta, Maguary; camisa, Torre; lençol, Capibaribe; cobertor, Tacaruna; tecidos, Lojas Paulista (Casas Pernambucanas no resto do País); banco, Banorte; café, São Paulo; queijo, Santa Maria; goiabada e extrato de tomate, Peixe; supermercado, Comprebem; torneira, Sem-fim; óleo vegetal, Benedito; sanduíche da Pérola; sorveteria, Gemba; sorvete de carrocinha, Daqui e Xaxá; achocolatado, Cilpinho; cicatrizante, Elixir Sanativo; galo na testa, a paraibana Água Rabelo. Música era de Capiba e Nelson Ferreira; poesia, Bandeira, Cabral e Pena; pintura, Cícero Dias e Lula Cardoso Ayres; teatro, Hermilo Borba... e por aí ia, pernambucanamente, o Recife.

Hoje, as multinacionais têm filiais em São Paulo e, aqui, as filiais das filiais. Há quem ache qu’isso é bom. Sinal dos tempos. Inevitável. Globalização. Essas coisas. Quem pensa diferente é atrasado, jurássico e, se brincar, comunista. Tá bom. Aceito a condição de vanguarda do atraso. Mas, respondam duas coisas. Os empregos ficam onde? E pra onde vai a parte do leão? (Aliás, Leão era a marca de uma compota de abacaxi divina, produzida em Olinda). As multinacionais compram uma marca daqui, fecham a fábrica e aumentam a produção de outra, no quinto dos infernos.

Vivi fora por um bom tempo. Hoje, escolheria um país nórdico. Acho que pensam e vivem melhor do que os americanos e os outros europeus.

Ninguém na Noruega tá pensando em vender a Petrobras de lá. Ao contrário. Entra governo, sai governo e o fundo soberano tá lá, intocável, três trilhões de dólares para garantir saúde e educação, depois que o petróleo acabar. Saúde e educação públicas, diga-se. (Os americanos são ricos, mas não têm saúde pública. Nenhuma. O Obamacare foi uma tentativa. Mas ficou no caminho, tropeçou em Trump).

“Ah!, mas empresa pública, aqui, só tem ladrão” – dirão os modernos. Oi!, gente boa, e as Odebrecht da vida têm o quê? E as multinacionais G&E, Philips e Johnson & Johnson, que roubaram a saúde pública brasileira, têm o quê? Mesmo assim, querem privatizar o que sobrou. Até o Parque do Ibirapuera.

Vai dizer à rainha Elisabeth que querem privatizar o Hyde Park, pra ver o que ela diz.

God save the Queen!

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