Um caminho apontado pelos especialistas para o futuro da Bacia Leiteira é o investimento na caprinocultura. A produção de leite caprino recuou 34% no Nordeste durante o período de 2006 a 2017, mas em Pernambuco observou-se um aumento de 16%, segundo último Censo do IBGE. “Observamos claramente que essa atividade é uma alternativa de extrema significância para os produtores, especialmente para os de base familiar, pois existem condições favoráveis na região das mais variadas ordens para que essa bacia seja cada dia mais vigorosa”, aponta Fernando Lucas, pesquisador do IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco).
Lucas alerta que os produtos derivados de leite caprino precisam chegar aos supermercados das cidades, capitais e grandes centros. “Só assim a bacia leiteira será verdadeiramente forte”, assegura. O pesquisador afirma que juntamente com o Cariri Paraíbano, os Sertões do Pajeú e do Moxotó, além do Agreste Central e Meridional de Pernambuco, concentram a maior bacia leiteira caprina do Brasil.
Criadores como Emanuel Rocha também defendem que o Sertão deveria focar na criação de caprino e ovino, espécies mais adaptáveis ao clima sertanejo. “A cabra e a ovelha são animais de menor porte, mais resistentes às secas e comem bem menos que uma vaca. Observo que há um potencial de crescimento muito grande nesse tipo de criação. Para se ter uma ideia, atualmente o Brasil ainda importa 60% da carne de ovinos. Falta para esse segmento uma maior organização, regulamentação e incentivo também. É uma cadeia muito individualizada, que para se expandir precisa se organizar”, sugere.
Já o queijo de cabra, segundo o professor da Unidade Acadêmica de Garanhuns da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Saulo de Tarso, é uma verdadeira iguaria. E o melhor é que é mais saudável e mais magro que o produzido com leite de vaca e com mais valor agregado. Porém, todas essas qualidades esbarram num obstáculo a ser vencido: um desagradável cheiro de bode que exala do produto feito no Nordeste.
Mas a solução é simples. “Basta criar a cabra e o bode separados”, soluciona Tarso. Entretanto para implantar esse manejo é necessária uma mudança de cultura por parte dos produtores para criar os animais de uma maneira diferente. Depois será preciso vencer a resistência dos consumidores. “Resolver isso é muito simples, mas até chegar nesse ponto muita gente já teve uma péssima impressão desses produtos derivados do leite de cabra”, desamina o professor da Rural.
Saulo afirma ainda que o rebanho caprino tem uma fecundidade muito mais acelerada que o bovino, que seria outra vantagem competitiva. “O ciclo de produção do caprino é de 5 meses, enquanto da vaca é de 9 meses. Além disso, a cada parto a chance de nascerem gêmeos caprinos é muito maior. Com isso, em um ano é possível mais que duplicar o rebanho”, compara o pesquisador.
*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)
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